terça-feira, 30 de dezembro de 2008

O Estatuto dos Açores

À semelhança do que vai acontecendo com muitas empresas e bancos nacionais, o consórcio de cooperação estratégica celebrado entre o Presidente da República e o Governo faliu. Cavaco Silva sente-se traído pelo Governo (e pela oposição?) - e tem razão. Por muito indiferentes que estejamos à questão do Estatuto Político-Administrativo dos Açores (temos razões para estarmos mais preocupados com o nosso estatuto económico-financeiro - e com o Reveillon!), a verdade é que é inaceitável que o PR, para dissolver uma assembleia regional, tenha de consultar mais gente que para dissolver a Assembleia da República. Mas, mais grave do que isso, só mesmo a abstenção do PSD. Paulo Rangel, o novo Calimero da política nacional, é uma nulidade parlamentar; Manuela Ferreira Leite, é, cada vez mais, como na rábula do Carlos Cunha, chefe (só) de si mesma.

segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

A memória selectiva de Israel

Sempre que, de tempos a tempos, somos violentamente confrontados com a brutalidade dos raides punitivos israelitas na Faixa de Gaza, dou por mim a perguntar-me se o Holocausto já não é uma memória longínqua para muitos dirigentes israelitas...
Há três coisas na vida que nunca voltam atrás: a flecha lançada, a palavra pronunciada e a oportunidade perdida. (provérbio judaico)

Já sabe onde vai passar Reveillon?

Nesta época, é costume sermos assaltados pela pergunta onde vais passar o Fim de Ano? Nunca foi interrogação que me tomasse muitos minutos de espírito. Em regra, passo a fronteira invisível (ou risível?) entre o ano velho e o novo em casa - na minha ou de amigos. Nunca teve, para mim, especial significado a chamada passagem de ano. Não me empoleiro nas cadeiras nem degluto as doze passas, muito menos costumo aproveitar a ocasião para testar a resistência das panelas e dos tachos (e dos ouvidos) lá de casa. E nunca me passou pela cabeça desatar a disparar uns quantos zagalotes à varanda (mais por não ter com que os disparar, do que por não ter quem atingir). Mas, este ano, se já não tinha grandes dúvidas sobre para onde ir comemorar a chegada de 2009, tenho agora pelo menos uma certeza: não me convidem para emborcar champanhe e devorar passas, sentado numa sala de urgência hospitalar. Nem que me engasgue com as passas ou leve um tiro de rolha da garrafa de champanhe!

domingo, 28 de dezembro de 2008

A minha foi maior que tua!

Paulo Portas voltou (voltou como quem diz, pois nunca chegou a sair) a ser reeleito para presidir ao CDS-PP (sigla que cada vez mais me convenço que significa precisamente Paulo Portas). E como se não bastasse a sua incapacidade de perceber que reina no deserto, o homem fez questão de comparar o número de votantes que o reelegeram com os números da votação que elegeram Sócrates secretário-geral do PS! É caso para dizer: A minha é maior que tua, ó Sócrates!

A 25ª hora

Estou a pensar propôr à senhora ministra da Saúde a criação de um pacote tipo escapadinha à urgência hospitalar: 1 dia e uma noite em regime de meia-pensão em sala de espera, para oferecer aos utentes do SNS. Segundo se notícia, houve urgências hospitalares que, este fim-de-semana, registaram tempos de espera de 25 horas, pelo que, parece-me termos aqui uma boa oportunidade de rentabilizar a muita procura e a elevada taxa de ocupação das salas de espera dos nossos serviços hospitalares. Pelas minhas contas (para as quais contei com a preciosa colaboração do senhor ministro Teixeira dos Santos e de alguns banqueiros nacionais), a contar com uma taxa média de adesão na ordem dos 200%, lá para Outubro o Governo já poderia começar a aplicar o retorno do investimento no melhoramente da ergonomia das cadeiras das salas de espera e, quem sabe, na instalação de mais televisores nas mesmas...

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

Costa alerta

Pela primeira vez, António Costa parece temer pela reeleição em Lisboa.Vendo a sua muleta política (Sá Fernandes) fragilizada e a sua conveniente substituta (Roseta) assediada pelos ex-apoiantes da muleta, o presidente Costa começa já a apelar a uma coligação de esquerda.
Entretanto lá conseguiu acalmar os ânimos dos cantoneiros, que já pareciam dispostos a realizar um remake da fita " A lixeira de Nápoles". Num ano em que nada se fez na capital, aguarda-se tranquilamente pelas mega-produções eleitoralistas.

O ginasta Alegre

Manuel Alegre bem que insiste na espargata política, mas a idade (e o ego) não perdoam. Um homem político pode andar a enganar meia esquerda todo o tempo; e até pode conseguir enganar toda a esquerda durante algum tempo; mas não consegue enganar toda a esquerda durante todo o tempo. É uma questão de pernas, e dos seus limites de elasticidade.
Alegre tem fama de ter sido um bom nadador e um razoável caçador. Mas a ginástica dos ideais não é o seu forte: a espessura da sua personagem ética pura e simplesmente não apresenta a "flexibilidade" da política do séc. XXI.
Tem de se decidir. Vai daí, não tarda teremos um novo movimento político por si liderado. Mesmo que não seja um "santo milagreiro", nem seja ele a defender a insurreição.

Um sapato para Bush

Um "patriota" iraquiano atirou um dos seus sapatos ao (ainda) presidente Bush, durante uma conferência de imprensa em Bagdad. Segundo o site noticioso Portugal Diário, que cita um alegado amigo do "patriota" semi-descalço, nada fazia prever tal gesto. À cautela, cem advogados iraquianos já se ofereceram para defender o "atirador".
A meu ver, ninguém percebeu o gesto. Não se tratou de um acto violento, mas de um autêntico gesto simbólico de generosidade. Obrigado a coabitar com o astro Obama, Bush parece arrastar-se no plateau mundial, qual estrela-bufa em declínio, vai daí, uma boa alma iraquiana decide presenteá-lo com uma das poucas coisas que a campanha contra o Eixo-do-Mal permitiu aos iraquianos conservar: um par de sapatos.

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

O anti-absentista e os manequins

A balda geral de cerca de três dezenas de deputados social-democratas, no dia da votação da suspensão do processo de avaliação dos professores indignou, em directo na Rádio Clube Português, o ex-líder parlamentar do PSD Guilherme Silva. "Não há nada que «justifique a irresponsabilidade de uma ausência e de uma ausência num momento relevante», sentenciou. E disse mais: «Quem está desmotivado e não se sente capaz de exercer o mandato com o grau de responsabilidade à altura do estatuto deste cargo, simplesmente pede a substituição».
Questionado, nos corredores do Parlamento, por jornalistas da TVI, sobre o assunto, o mesmo Guilherme Silva aventou que há muito defende a não realização de sessões plenários à sexta-feira, já para obstar a que os senhores deputados cedam à tentação de apressar o seu retorno semanal às suas famílias...
Melhor solução que esta, realmente, só se instituirem o tele-trabalho na Assembleia, e mesmo assim, suponho que não faltariam deputados dispostos a pespegar um manequim de montra em seu lugar, em frente ao écran. Com o que só teriamos a ganhar, dado o conhecido dinamismo daquelas peças de vitrine...

O tempo de Ferreira Leite

A propósito da correcção efectuada pelo ministro das Finanças às previsões do défice orçamental (que afinal já pode ser de 3%, e não 2,2%), Manuela Ferreira Leite veio acusar o Governo de "fazer política fora do tempo" - o que não deixa de ser curioso, vindo de quem não costuma falar e quando fala, fá-lo invariavelmente ou fora do tempo ou revelando total desconhecimento do nosso tempo.
Enfim, é sabido que a Dr.ª Ferreira Leite não gosta (nem sabe) de falar, mas, ao que parece, anda a aprender. Daí talvez que já se queixe por Sócrates não a ter ouvido numa matéria de particular relevo nacional, como a possibilidade do país vir a acolher ex-prisioneiros de Guantánamo.
Mas não alimentemos por isso demasiadas expectativas sobre a capacidade de intervenção da líder do PSD. É que, a senhora quer falar, mas, preferencialmente, em uníssono com os restantes líderes parlamentares. Pois alguém está a ver a Dr.ª Ferreira Leite, sózinha com Sócrates, numa sala de S. Bento, a fazer conversa de circunstância sobre Guantánamo?!

sábado, 29 de novembro de 2008

Economia à portuguesa

À semelhança de outras ciências especulativas, a economia é conhecida pelas suas mais diversas e originais teorias e princípios. Da teoria keynesiana à teoria dos jogos há teses e princípios para todos os gostos e interesses (e governos).
Nesta matéria, como em muitas outras, Portugal não tem sido pródigo em contributos para a ciência económica. No entanto, ao que parece, uns quantos, modestíssimos e anónimos, empresários nacionais decidiram dar provas de que teorias leva-as o vento, cá seguimos a escola do salve-se quem puder, corolário do princípio do antes tu do que eu.
Primeiro foi a conhecida pastelaria Lua de Mel: antes que o barco afundasse de vez, os sócios decidiram fechar portas. Esqueceram-se foi de avisar os empregados...Agora foi a babel Byblos, mega-livraria às Amoreiras. Aparentemente, de um dia para o outro, faliu e fechou portas, sem dar cavaco às tropas letradas e iletradas.
Enfim, é a chamada economia à portuguesa.

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Isaltino 1, 2, 3

A Câmara de Oeiras distribuiu viaturas de serviço a 114 funcionários do município.
Isaltino Morais já era conhecido por ser um dos autarcas mais prestativos do país, mas agora, a distribuir automóveis desta maneira bem que a RTP o pode convidar para substituir Carlos Cruz numa nova série do 1, 2, 3!.

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Uma questão de lentes

Trinta anos depois do PREC e voltamos a ter um banco nacionalizado. Nacionalizado pelo mesmo Governo que não pode interferir nas regras de mercado, para moralizar o preço dos combustíveis. Nacionalizado pelo mesmo Governo que, conformado com os "danos colaterais" da globalização económica, não pode intervir nos processos de deslocalização empresarial, que tantas centenas de trabalhadores deixaram no desemprego. Demagogia! bradará o Governo. Talvez....A demagogia é como as doenças da visão: é tudo uma questão de lentes.

sexta-feira, 31 de outubro de 2008

Voto McCain

Gosto de McCain. Porque se Obama inspira, McCain transpira. Se Obama representa, McCain encarna. E porque se Obama tem um sonho, McCain tem a realidade. Posto assim, nestes termos de comparação, talvez ambos mereçam a nossa admiração. Mas talvez seja esta a dolorosa diferença entre os candidatos americanos e os putativos candidatos nacionais: lá a dificuldade está na escolha do melhor, do mais inspirador e representativo. Cá, a escolha é, quase sempre, a do mal menor. Ou como dizia uma minha antiga colega de escola: o do menos pior.

Um novo Kennedy ou um Kennedy novo?

Segundo se escreve e diz, Barak Obama vai ser um novo Kennedy.
Inegavelmente, o candidato à presidência norte-americana tem carisma (e uma mulher politicamente empenhada a seu lado) , sabe como inspirar um mundo carente de ideais e o que representa para todos os excluídos, preteridos e banidos da América. Mas daí a ser um novo Kennedy... Quando muito, Obama será um Kennedy novo: um JFK sem Marilyn nem Fidel Castro, mas pronto para sentar Ahmadinejad e Kim Il-Sung (e Bin Laden?) à sua mesa.

sábado, 25 de outubro de 2008

O dr. Rangel e os (não) direitos dos animais

Na opinião do líder parlamentar do PSD, Paulo Rangel, os animais em geral e o seu cão em particular não são merecedores da titularidade de direitos porque não sabemos o que sentem ou, até, se sentem alguma coisa.
A avaliar pela simplicidade do raciocínio e ninguém diria que o dr. Rangel é tido por ser um dos mais brilhantes jovens juristas portugueses.
Não sei se o jurista Rangel usa na sua actividade de jurisconsulto da mesma lógica da batata, mas sei que, perante a tacanhez e a obtusidade de espírito revelada na sua entrevista desta semana ao Sol, prefiro não saber o que pensa o dr. Rangel do reconhecimento hoje praticamente universal dos direitos dos menores, afinal, ainda hoje não se sabe, por exemplo, o que sente ou como sente uma criança de dois anos...Ou o que pensa da Constituição garantir aos incapazes e até aos interditos o direito à vida, à integridade física..., afinal, nunca se sabe o que vai na cabeça dum demente, dum doente mental profundo...

quinta-feira, 9 de outubro de 2008

Demofobia

Já se conhecia a vocação (pseudo) fracturante-recalcitrante do Bloco; e, apesar da sua invisibilidade política, toda a gente já reparou na rapariga simpática e no hippie de rabo de cavalo que constituem o grupo parlamentar dos Verdes. O que até aqui se desconhecia era o pavor à democracia que estas formações partidárias revelaram com a apresentação das propostas de regulamentação do casamento homossexual no momento de crise que vivemos. Mais do que evidenciar oportunismo político - pois é disso que se trata quando grupos políticos com representação minoritária na sociedade portuguesa tentam fazer aprovar na secretaria parlamentar aquilo que sabem de antemão que nunca ganhariam no debate público -, a jogada do BE e dos Verdes revela sobretudo a (verdadeira) natureza anti-democrática, demófoba, dos partidos em questão.

sexta-feira, 26 de setembro de 2008

...vai à Câmara de Lisboa

A avaliar pelo voluntarismo e discricionariedade com que, nos últimos vinte anos, se distribuiram fogos municipais em Lisboa, parece-me profundamente injusto continuar a acusar ex-autarcas como Jorge Sampaio, João Soares ou Santana Lopes, de nada terem feito para combater a desertificação da capital. Quando muito podemos acusá-los de, no furor da sua generosidade habitacional, terem talvez descurado a tão propalada necessidade de promover a fixação de jovens na cidade, pois, a considerar a faixa etária daqueles a quem, ao longo dos anos, foram alegadamente atribuídos fogos municipais (a fadista Anita Guerreiro, a actual Vereadora da Acção Social da autarquia, o jornalista Baptista-Bastos etc.), e teremos que conceder aos críticos que, se quando um jovem precisa de casa tem de ir ao BES, quando é um cota a precisar, vai - ou pelos menos ia - à Câmara de Lisboa.

sábado, 20 de setembro de 2008

A revolta dos figurantes

Habituados por anos de consumo diário de telenovelas a ver em cada brasileiro um Évilázio ou um Jorge Tadeu e em cada brasileira uma Tieta ou uma Tancinha, os portugueses (e, muito especialmente, as portuguesas) começam de repente a dar-se conta de que estão a ser invadidos por bandos de "figurantes" brasileiros dispostos a tudo para saltarem para as primeiras páginas dos jornais nacionais.
Tudo começou com o episódio-piloto do assalto à agência do BES. Agora, parece que esses bandos estão a produzir, realizar e protagonizar, ali para os lados de Setúbal, uma versão da novela dos comandos do crime organizado brasileiro. "PCP - Primeiro Comando Português" parece que vai ser o título da novela e o primeiro episódio já foi gravado na cidade sadina. Começa com a morte a tiro de um proprietário de uma ourivesaria da cidade. E, segundo o Correio da Manhã, promete pôr os portugueses agarrados ao écran nos próximos tempos.

quinta-feira, 18 de setembro de 2008

Retaliação fiscal

Hoje, dezoito de Setembro de dois mil e oito, ao cabo de anos e anos de coacção e esbulho fiscal, o povo decidiu retaliar! Ao final da manhã, dois insubmissos contribuintes resolveram dizer basta! à violência fiscal a que o Governo têm submetido o país, e agiram. Pelas 12:30, encapuzados (pois nunca se sabe, neste país onde, segundo Manuela Ferreira Leite, a liberdade de expressão está ameaçada) e armados com a força da razão (e, ao que parece, duas pistolas), irromperam na Repartição de Finanças de Sacavém para demonstrar ao ministro Teixeira dos Santos que, como diz o povo, ladrão que rouba ladrão tem cem anos de perdão!

terça-feira, 16 de setembro de 2008

O papel da Educação

Para celebrar o início de mais um ano lectivo, os nossos mais altos dignatários resolveram marcar presença em várias escolas do país. José Sócrates esteve no Porto, em visita a dois estabelecimentos de ensino recentemente reabilitados. A ministra da Educação e o Presidente da República optaram por comparecer na Escola D. Dinis, em Lisboa. Depois dos discursos da praxe, de que se salienta o mea culpa do presidente da Câmara de Lisboa, António Costa, por não poder integrar o lote de autarquias contempladas com as novas competências educativas, Sócrates teve direito a uma aula de música e Cavaco Silva a um comité de despedida, constituído por algumas encarregadas de educação que lhe fizeram saber que, este ano lectivo, o Conselho Directivo da Escola Manuel Teixeira Gomes, em Chelas, pede aos seus alunos que tragam papel higiénico de casa...Não vão os putos, seguindo o exemplo do Governo, limpar as mãos às paredes.

Casa de saúde Alberto João Jardim

Ao contrário do que dizem e escrevem os detractores do Alberto João Jardim, o presidente do Governo Regional da Madeira é um defensor declarado da liberdade de expressão. A comprová-lo as suas mais recentes declarações aos meios de comunicação do contenente, a propósito da entrevista dada por Morais Sarmento à revista do Expresso. Segundo Jardim, cada um é livre de dizer o que entender. Afinal, as casas de saúde estão cheias de indíviduos que se dizem Napoleão e César. Logo, concluo eu, porque não pode Morais Sarmento querer fazer-se passar por eventual candidato a primeiro-ministro?
E tem toda a razão, o dr. Alberto João. Até sugiro ao dr. Jardim que, sob a sua égide e especial patrocínio, a sua secretaria-regional da Saúde crie um lar ou casa-de-repouso especialmente vocacionada para cuidar dos ex-candidatos a candidatos a primeiros-ministros e à presidência da República até hoje existentes no PSD. Olhe que está à beira da reforma, dr. Jardim...

domingo, 14 de setembro de 2008

O breakdancer do PSD

Quem olhasse de relance a capa da nova revista do Expresso -"Única"- pensaria que o semanário está a tentar captar o público dos Morangos com Açúcar. Numa fotografia de grande formato, um indivíduo pousava de pernas para o ar, no que parecia ser um passo de breakdance. Olhando mais atentamente, começamos por reparar que o fotografado não veste propriamente fato de treino nem calça ténis (mas sim camisa branca e calça de fato), nem se encontra num qualquer beco de Nova Iorque (mas sim no que parece ser um escritório). Depois, talvez torcendo o pescoço, damos por nós a achar que o cérebro nos está a pregar uma partida, quando começamos a associar aquele personagem ao ex-ministro da Presidência Morais Sarmento.
Para nos certificarmos da nossa boa saúde mental e não desatarmos a correr para uma urgência de psiquiatria, começamos a ler os títulos e acabamos a ler a entrevista feita ao visado. Se a empregada do quiosque ou da papelaria não nos avisou entretanto que a revista exposta é para consumo da casa, havemos de chegar à tranquilizadora (?) conclusão de que é ele mesmo, o ex-ministro de Santa Lopes, Nuno Morais Sarmento. Mas, logo de seguida, somos confrontados com revelações como aquela em que - não já a fazer o pino mas nas pontas dos pés - diz ter sido ele o primeiro a ser convidado por Durão Barroso para primeiro-ministro e não Santana. Ou quando diz que não está no seu programa de vida ser primeiro-ministro, mas que pode mudar de ideias. E eis que damos por nós a passar de cabeça um atestado de menoridade institucional ao PSD.
É certo que já tivemos um primeiro-ministro que atafulhou a boca em directo de bolo-rei para não responder aos jornalistas, e outro que enquanto sonhava que algum dia o haveria de ser pousou de lenço vermelho atado à cabeça para a CARAS. Mas só a perspectiva de ter como primeiro-ministro um tipo que pousa para uma revista a dançar breakdance é, no mínimo, perturbadora. Lá que no PSD não falta quem se torça todo para dançar em S. Bento, não temos dúvidas - aliás, velhacos e dançarinos nunca faltaram na S. Caetano à Lapa -, mas que o venham a conseguir numa qualquer eleição deste milénio, é qualquer coisa de aterrador.

O novo regulamento da PSP

Conta o Expresso que, há meses, ao desembarcar na Portela, o Director Nacional da PSP deparou com um seu subordinado relaxadamente encostado a uma parede a falar ao telemóvel, ao mesmo tempo que fazia rodopiar o chapéu na ponta do cassetete. Segundo o semanário, indignado, Monteiro Pereira terá logo ali repreendido o agente, mas, não contente com isso, ordenou de imediato a elaboração de um novo regulamento de continências e honras para aquela corporação policial.
Segundo o Expresso, o projecto do novo regulamento, que estatui, por exemplo, que os agentes não podem fumar, mascar pastilha ou falar ao telemóvel, na presença de superior hierárquico, sem o seu consentimento, ou que devem saudar superiores e cidadãos sempre que com estes se cruzem, como sinal de boa educação, está a preocupar, como é costume, as associações de polícias, pois, segundo estas, o novo regulamento é mais militarista que o militar, não vai contribuir para um melhor desempenho profissional e só vai constituir mais um pretexto "para os chefes castigarem os subalternos."
Se exceptuarmos alguns anacronismos de pormenor como a obrigatoriedade de tratar oficiais superiores por "execelência" ou "excelentíssimo", claramente reminiscências da formação de base militar de Monteiro Pereira, não se entrevê como é que regras básicas de civilidade e boa educação como saudar quem connosco se cruza ou não mascar pastilha enquanto dialogamos podem ser tidas por deferências militares. Se podem ou não constituir pretextos para prepotências e arbitrariedades, certamente as associações profissionais saberão dar notícia pública de tais ocorrências, desencadeando os mecanismos competentes para a sua punição. Agora, numa coisa os profissionais do pró-sindicalismo policial tem razão: não é o regulamento que vai melhorar o desempenho profissional dos agentes. Um melhor desempenho policial consegue-se com melhor formação (técnica e cívica) e remunerações condignas, mas, acima de tudo, com maior rigor na selecção daqueles que desejam verdadeira e conscientemente desempenhar funções policiais, e não um emprego seguro. Mas se é verdade que tudo isto constitui condição necessária para a manutenção e dignificação de um corpo policial apto para a prossecução duma atribuição estadual fundamental, não é menos verdade que há um conjunto de requisitos exigíveis a qualquer agente policial de um Estado de direito democrático que não são materializáveis em mais armas e carros-patrulha; requerem investimento público, mas não oneram o orçamento do MAI (quando muito do Ministério da Educação) e adquirem-se nas escolas, mas não nas escolas de polícia. Falo de exigência pessoal, de brio, de ética, de deontologia profissional. Pois de que serve dispôr de arma moderna se, em rigor, não se a sabe usar? De que serve ver aumentado o subsídio de fardamento se não se conhece o que representa - logo não se respeita - a farda que se usa? Como se pode exigir melhores leis se se está na profissão como se as leis só vigorassem para os paisanos? Enfim, elocubrações nocturnas.

sábado, 13 de setembro de 2008

A fábrica de amigos

Depois de expulsar o embaixador norte-americano do país, Hugo Chávez brindou Manuel Pinho, o nosso ministro da Economia, com um novo slogan para uma das suas próximas campanhas de promoção de Portugal: "Portugal é como uma fábrica de amigos".
Sendo o autor quem é, não sei até que ponto a originalidade da frase contribuiria para promover este paraíso à beira-mar plantado, mas que não poderia traduzir melhor a política externa deste Governo, parece-me evidente. Além disso Manuel Pinho não tem tido sorte com os slogans e marcas a que vai associando o país. Depois da mediocridade do episódio "Allgarve" (marca que tinha a virtualidade de reduzir Portugal ao litoral algarvio), foi agora a (rasteira) associação de Portugal, por uma revista inglesa, à sigla PIGS (Portugal, Itália, Grécia e Espanha), que parece ter conseguido beliscar o patriotismo do ministro Pinho.
Por isso, talvez não seja assim tão estapafúrdio aproveitar a ideia chávista e lançar uma campanha internacional, porventura produzindo um spot com excertos de intervenções de Chávez e José Eduardo dos Santos, sob o lema: Portugal, a sua fábrica de amigos!

sexta-feira, 12 de setembro de 2008

O regresso do herói

Paulo Pedroso regressou em força à actividade político-partidária. Depois duma longa passagem pelos infernos do "Caso Casa Pia" e duma relativamente breve experiência internacional de purgatório, o ex-ministro e deputado socialista parece decidido a reassumir o protagonismo que já teve no PS. E a vontade é tanta que já começou a criar alguns embaraços ao status quo socialista, fazendo mediaticamente (como convém) a apologia do pragmatismo político, ao não descartar convergências pontuais com o PSD.
José Lello, socialista profissional e carreirista sensacional, veio logo a terreiro atestar da absoluta impossibilidade de tal cenário. Mas Pedroso está em evidente processo de auto-reabilitação política, é um homem ferido, em busca do tempo perdido.
Para uns, nos próximos tempos, Pedroso irá protagonizar uma versão política do filme "O regresso do herói"; para outros, no entanto, a fita será mais do género "A fúria do herói". Certo porém é que Paulo Pedroso vai ser uma personagem de destaque nas fitas políticas dos próximos tempos. Com ou sem indemnização. Com ou sem passado "casapiano".

O congressista

Talvez porque já foi médico, Luís Filipe Menezes tem uma adoração especial por congressos. A avaliar pelo (pouco) tempo que exerceu medicina, o dr. Menezes não terá tido oportunidade de frequentar muitos congressos de ciência médica, mas, desde que se convenceu de que é a cura para todos males do PSD, não tem feito outra coisa que não seja promover (des) concílios partidários.
Conhecendo como conhecemos a vocação festiva dumas quantas figuras social-democratas, logo diremos que não faltarão aficionados aos congressos do dr. Menezes. Mas, surpreendentemente (ou talvez não), desta vez, o congresso que o ex-líder do PSD pretende promover no partido, não vai contar com a adesão de, pelo menos, dois dos mais reputados dinamizadores de congressos social-democratas, a saber: Santana Lopes e Passos Coelhos. Em alternativa, ao que parece, o dr. Alberto João, como pândego impenitente que é, já declarou agradar-lhe a ideia, pelo que não haverá qualquer probabilidade do dr. Mendezes ter mais uma crise de anti-sulismo, anti-elitismo e anti-liberalismo. Caso contrário, terá sempre Jardim para, nem que seja sózinho, fazer a festa, deitar os foguetes e apanhar as canas.

terça-feira, 9 de setembro de 2008

O sorriso de António Costa

António Costa é incontornavelmente o político mais hábil do nosso ecossistema político-partidário. Depois de ter sentado ao seu colo Sá Fernandes - e posto o Bloco internamente às turras -, lá conseguiu namorar Helena Roseta, propondo-lhe agora aquilo que o Expresso designa como sendo um "acordo de cooperação para o resto do mandato".
Segundo o semanário, a ex-deputada socialista (alegrista) e Manuela Júdice, membro do seu movimento Cidadãos por Lisboa, vai colaborar na elaboração de um programa local de habitação para a capital e na organização de um evento multicultural previsto para o próximo ano. Helena Roseta diz que não se trata da atribuição de pelouros, mas de partilhar tarefas. Pois nunca quis ser parte do problema, mas sim parte da solução.
Quando perguntado pela demora desta partilha de tarefas, Costa sorri, o sorriso do lagarto: "Tudo precisa do seu tempo."Chama-se a isto partilhar para reinar. Maquiavel ensina. É ou não é de se lhe tirar o chapéu?

Pensionistas de 1ª e de 2ª

Segundo o Correio da Manhã, está imparável o número de aposentações milionárias na Função Pública. Mas ao contrário do que seria expectável, nesta última leva, os destaques vão para dois quadros dos CTT. O inspector-geral da empresa pública vai começar a receber, já a partir de Outubro, € 8.093, e um "especialista em organização" da empresa vai tocar-lhe € 6.109.
Por sua vez, em Braga, um erro na impressão de vales de reforma da responsabilidade duma empresa subsidiária dos CTT, mantém, há duas semanas, 198 pensionistas na desesperada expectativa que o carteiro deposite na sua caixa do correio o seu modesto vale de reforma...
Desconhece-se o que o "especialista em organização" recém aposentado da empresa pensa sobre o incidente; mas tenho impressão que, nesta altura, deve andar mais preocupado a fazer planos para gozar a reforma.

RedBull II: rectificação

Depois de ler ontem o balanço rejubilatório que Rui Rio faz do evento RedBull Air Race, devo lavrar aqui a seguinte rectificação: o apoio financeiro que a Câmara do Porto atribuiu à organização da prova atingiu os € 400 mil, e não € 200 mil conforme referi em post anterior. Mas acalmem-se os miserabilistas defensores da racionalidade económica: segundo o autarca, que mandou fazer estudos de impacto económico (e ambiental?) sobre o evento, a prova garante um retorno económico directo entre 17 e 23 milhões de euros.
Os mercados municipais e os equipamentos culturais do município do Porto agradecem...

segunda-feira, 8 de setembro de 2008

RedBull deu asas a € 900 mil

A prova RedBull Air Race, que se realizou este fim-de-semana no Douro, deve ser declarada o evento do ano em Portugal. Para além de conseguir a relativa proeza de pôr mais de 650 mil portugueses a olhar para o céu - o que é digno de registo, mesmo num país onde toda a gente anda de cabeça no ar (mesmo quando conduz) e a assobiar para o lado -, proporcionou um extraordinário episódio de sintonia política entre um dos mais verberados ministros socialistas - Manuel Pinho - e uma das mais verberantes figuras social-democratas, o autarca Rui Rio.
Num momento político em que a líder do PSD acusa o Governo de nos andar a distrair é delicioso ver Rui Rio, autarca conhecido (e assumido) pela intransigência da sua política de austeridade financeira (aquele que não tem dinheiro para manter teatros municipais nem para reabilitar o mercado do Bulhão), fazer a apologia de investimentos públicos como o efectuado naquele evento aéreo. Afinal, conforme disse o autarca, há que pôr as pessoas "contentes e animadas", e depois, que são 900 mil euros (500 mil do Governo (através do Instituto do Turismo), € 200 mil da Câmara do Porto e € 200 mil da Câmara de Gaia) para pôr malta, um fim-de-semana, a emborcar imperiais na Ribeira do Porto, enquanto vê os aviões passar?
É caso para dizer que, este fim-de-semana, RedBull deu asas a € 900 mil do erário público central e municipal, e a uns quantos bonecos políticos nacionais.
E como, à semelhança de outras bebidas, RedBull primeiro estranha-se, depois entranha-se, o ministro Pinho já prometeu que para o ano há mais.

domingo, 7 de setembro de 2008

Uma mulher zangada

Manuela Ferreira Leite é uma mulher zangada com o país. Zangada com o Governo, que anda a "enganar-nos ou distrair-nos"; zangada com o seu partido, que não se conforma com o seu perfil monolítico; e, acima de tudo, zangada com a sua consciência, que a obrigou a abandonar a tranquilidade da aposentação senatorial para a jogar na arena político-partidária.

quinta-feira, 4 de setembro de 2008

A cadeira de Portas

Paulo Portas lembra-me aqueles miúdos intelectualmente precoces cuja impertinência e egocentrismo vai afastando todos aqueles que, uma vez atraídos pelo seu brilhantismo, se foram vendo consumidos pelas radiações do seu carisma.
Líder dum partido criado e recriado (n) à sombra da sua imagem e das suas pretensões políticas, Portas recusa admitir que o seu partido é ele, dois ou três indefectíveis menores e a bela e doce Teresa Caeiro, que, manifestmente, merecia mais do que fazer o papel de bela e inteligente do partido.
Depois de ter tirado o tapete a Manuel Monteiro, de ter querido "apagar" a figura de Freitas do Amaral da história do partido (em que entrou pela porta das traseiras) e de ter eliminado os potenciais concorrentes Maria José Nogueira Pinto e Pires de Lima, soube-se agora que há um ano que secara a paciência (e o ego) de Nobres Guedes. Consciente dos danos provocados por mais esta desistência, tentou abafar a notícia, interna e externamente, e veio a público "limpar as mãos à parede".
Portas é, definitivamente, um líder cada vez mais só; vejamos agora até onde vai o seu egocentrismo. Vai sair pelo seu pé (e, desta feita, com os dois pés) ou vai resistir até cair da cadeira?

quarta-feira, 3 de setembro de 2008

Não compensa assaltar bombas de gasolina?

Não compensa assaltar bombas de gasolina. Não é a minha experiência pessoal que o afirma, sublinhe-se, mas o presidente da associação dos armazenistas e revendedores de combustíveis (ANAREC). Segundo o homem da ANAREC, Augusto Cymbrom, assaltar estações de abastecimento não compensa porque "têm muito pouco dinheiro disponível". Pelo que, caros assaltantes, aconselha ele, "deixem de assaltar e vão trabalhar que é melhor."
Não sei porquê, suspeito que a vilanagem nacional não estará particularmente receptiva ao conselho desesperado do líder associativo, mas, eu cá, se fosse profissional do sector, não desdenharia de tal sugestão. É que parece, segundo o Público, que o MAI vai alargar a mais 1000 postos de combustíveis, o programa "Abastecimento Seguro", o que, segundo o expressionista José Magalhães, vai possibilitar "sentar os operadores principais de segurança privada no (...) grupo de trabalho. (...) o que permitirá "somar ao trabalho da polícia a sinergia da segurança privada."
Assim, meus caros profissionais do assalto a bombas de gasolina, talvez seja melhor pensarem em mudarem de ramo de actividade. Ou, então, sindicalizem-se!, e reivindiquem, na vossa qualidade de operadores principais de insegurança pública, assento no grupo de trabalho de José Magalhães.
Mas, vendo bem as coisas, o Governo jogou bem. Não podendo nem devendo financiar os riscos inerentes à actividade empresarial dos revendedores de combustíveis e não querendo, ainda assim, melindrar esta sector do empresariado-financiador eleitoral nacional, nada melhor que, exibindo atenção e empenhamento e não comprometendo um cêntimo do erário público, promover uns quantos programas e protocolos, abrindo novos horizontes de negócio para o sector da segurança privada.
É caso para dizer: porreiro, Sócrates!

terça-feira, 2 de setembro de 2008

Educação no desemprego

Segundo a FENPROF, este ano serão cerca de 40 mil os professores no desemprego. De acordo com o ministério da Educação tal número não corresponde à realidade, dado não ser este o número de docentes inscritos nos centros de emprego.
Obviamente, a FENPROF contesta o critério ministerial, alegando que grande parte dos professores desempregados não reúnem os requisitos para aceder ao subsídio de desemprego, pois trata-se de casos de licenciados que nunca fizeram descontos para a segurança social, nunca tiveram qualquer contrato de trabalho (pelo que se justifica perguntar se alguma vez exerceram a profissão) ou então foram professores precários, contratados a "recibo verde". E, por outro lado, diz ainda a federação dos professores, para demonstrar a malévola intencionalidade da tutela, foram muitos os docentes que se aposentaram, pelo que não assiste assim ao ministério qualquer razão para a não integração nos quadros públicos de mais professores.
Como demonstração da inexistência de qualquer preconceito da minha parte relativamente à FENPROF, devo dizer que concordo não constituir argumento intelectualmente sério, por parte do ministério, a invocação do número de professores inscritos nos centros de desemprego. Ter-se como certos e seguros os números divulgados pelo IEFP, seria tão consequente como recorrer à Casa do Douro para apurar a taxa de sinistralidade rodoviária.
Todavia, também não é política nem intelectualmente sério, continuar a exigir a integração de mais professores nos quadros públicos, com o demagógico argumento de que estes iriam substituir docentes entretanto aposentados, quando se conhecem os baixíssimos números da natalidade em Portugal e a sua consequente repercussão na determinação das necessidades reais do país.
Se a sofística ministerial é uma degenerescência da (boa) prática política, a demagogia é um pecado venal do sindicalismo moderno.

sexta-feira, 29 de agosto de 2008

Boys and girls no INEM

"Boys, boys, boys/ I´m looking for a good time"... Para quem viveu a fase das grandes mutações hormonais nos anos 80, o refrão estará certa e indelevelmente associado à cantora Sabrina, ou, mais concretamente, às "bóias" desta. Já para quem o começou a ouvir em finais dos anos 90, é provável que veja, no lugar da cantora, António Guterres, interpretando um dos maiores fiascos do seu repertório: No jobs for de boys. Durão Barroso ainda tentou lançar-se na carreira artística com a canção O país está de tanga, mas o pessimismo da letra não pegou, e o artista, sentindo-se maior que o país, emigrou. Com Santana Lopes, um assumido apreciador de sabrinas, o êxito da cantora voltou a tocar nos locais mais in (doors) do país, à semelhança do que já acontecera na Câmara de Lisboa. Lamentavelmente, o presidente Sampaio, mais dado a música de câmara, resolveu fazer Santana passar, não a good time, mas a hard time, e resolveu acabar com o entra-e-sai da piscina, não da Sabrina, mas de S. Bento.
Depois veio Sócrates, homem da nouvelle musique française, e Sabrina - e os seus boys - parecia ter os dias contados no panorama artístico português. Mas eis quando toda a gente tomava já a canção como uma das velhas músicas batidas dum Portugal recém-europeu, que descobrimos hoje, pelo Correio da Manhã, existirem ainda - mais discretos e menos numerosos, é certo, mas sempre resilientes - diversos clubes de fãs da canção. Refiro-me, não já aos muitos fãs que dantes animavam os gabinetes ministeriais, mas o mais modesto e discreto clube de boys que se vem formando no INEM. Promovido pelo presidente daquele instituto de emergência médica, coronel Abílio Gomes, o clube de boys em formação no instituto destaca-se pelo seu ecletismo, contando já com um advogado, um administrativo e uma engenheira florestal.
Tanto quanto se sabe, a ministra da Saúde não é conhecida pelo sua melomania. Todavia, parece não lhe causar qualquer prurido saber que no Instituto Nacional de Emergência Médica há um presidente e, pelo menos, uma engenheira florestal fãs incondicionais do grande e único êxito da fogosa Sabrina. Enfim, é caso para dizer: boys are always looking for a good job.

quarta-feira, 27 de agosto de 2008

Desabamento anunciado

Não fosse o morto e o ferido registados e não seria precisa muita ironia para dizer-mos que a Justiça desabou ontem, em Fafe, sobre as nossas cabeças.
A gravidade do sucedido (o desabamento de um tecto do Tribunal de Fafe, no decorrer das obras ali em curso), quer pelo que custou em vidas humanas, quer pelo que demonstra da (falta) qualidade construtiva de muitos dos equipamentos públicos, é já suficientemente chocante para que me atreva a qualquer exercício de ironia sobre ela.
Fala-se na possibilidade de se ter "mexido" desavisadamente numa parede-mestra do edifício, em descuído ou simplesmente na eventual fragilidade construtiva duma placa de cobertura. Seja o que for que resulte do anunciado inquérito, uma coisa é certa: o que se terá poupado em cimento e gasto em trabalhos a mais aquando da construção daquele tribunal, jamais compensará a vida ali estupidamente ceifada.

1º parte: humilhação

Humilhação; desorientação; intranquilidade, para usar um substantivo bastante querido de Paulo Bento, são as palavras que surgem à pele de qualquer sportinguista - como eu - ao fim de pouco mais de 45 minutos de jogo com o Real Madrid.
5-1 é demais para qualquer orgulho clubístico em franca recuperação.
Mas vamos crer (nos dotes "desfribilhativos" de Paulo Bento, na capacidade de auto-regeneração da equipa e, já agora, na Santinha da Ladeira) que, em 45 minutos, pelo menos poderemos mitigar a humilhação - e negar aos lampiões esta oportunidade de se realizarem.

sexta-feira, 22 de agosto de 2008

Vicente Moura: breve história de um naufrágio

O Estado investiu, ao longo de quatro anos, 15 milhões de euros numa navio que nos levasse em busca do ouro olímpico. A nau foi confiada ao velho comandante Vicente Moura, nadador e navegador experimentado nas longínquas águas olimpícas.
Ao cabo de uma semana ao largo da costa chinesa, isolado na sua cabine dourada, incapaz de controlar a sua numerosa (e caprichosa) tripulação, o velho comandante Moura viu a nau portuguesa naufragar, e resolveu abandonar o navio.
Ao longe, a bordo dum modesto bote salva-vidas, o comandante avistou dois dos seus marinheiros, que, heroicamente, haviam resgatado, do mastro que submergia, a bandeira nacional, e a desfraldavam já, em terra, nos pódios olímpicos.
Inspirado pelo heroísmo dos seus marinheiros Vanessa Fernandes e Nélson Évora, o comandante sentiu novamente emergir em si o espírito olímpico e, chegado a terra, anunciou que, com a ajuda da sua (naufragada) tripulação, talvez voltasse a comandar a nau olímpica.
Moral da história: agarrem-me senão... talvez eu fique.

quinta-feira, 21 de agosto de 2008

Parabéns Nélson!

Quando, desgraçadamente, já nos resignávamos à saborosíssima prata de Vanessa Fernandes, eis o ouro de Nélson Évora. Qual David da esperança enfrentando o Golias do nosso desapontamento, Nélson chegou (aguentou - os fracassos sucessivos e o desânimo nacional), viu e venceu. E cá chegará, com a bolacha dourada ao peito. Parabéns, Nélson! E obrigado.

quarta-feira, 20 de agosto de 2008

O fim do desemprego

O Governo começa a descobrir a receita para acabar com o desemprego. Segundo o Jornal de Notícias, só no primeiro semestre deste ano, 3699 portugueses viram negada a manutenção do subsídio de desemprego, por violação dalguma das obrigações impostas pelo novo regime de atribuição daquele subsídio. Incumprimento do regime de apresentações quinzenais no centro de emprego e declaração de "baixas fraudolentas" foram os principais fundamentos para o "corte" daquela prestação social.
A esta ritmo, lá para o fim do ano, Sócrates já poderá declarar extinto o espectro do desemprego em Portugal.
Suspeito é que a saúde financeira de boa parte da classe médica irá ressentir-se com a queda da procura de declarações de baixa clínica...

terça-feira, 19 de agosto de 2008

Conta (olímpica) final

Sem prejuízo da esperança que ainda depositamos nos nossos atletas que ainda andam por Pequim, já são de sobra as razões e os motivos para que possamos ir fazendo a conta final da nossa participação nas Olimpíadas 2008. Não me refiro obviamente à conta na acepção economico-financeira do termo, pois esse é um exercício que só por masoquismo desejaremos conhecer, mas à conta na sua perspectiva desportiva - se é que é possível conjugar os valores desportivos com critérios de deve e haver.
Não me interessa já a relação dos insucessos da confrangedora maioria dos nossos mais promissores atletas - para esse exercício de auto-lapidação nacional já dei e com menos graça que tantos outros ilustres opinion makers -, interessa-me sim, modestamente, opinar sobre algumas das razões que terão estado na origem das evidenciadas dificuldades sentidas pelos nossos atletas de alto rendimento de competirem ao mais alto nível, como sejam a humildade (ou a falta dela), o espírito de sacrifício ou, tão prosaicamente, a (in) capacidade para levantar o cú cedo da cama!
Num diagnóstico simplista, cínico, diria até contemporizador, será fácil argumentar que, num país em que a maioria dos deputados da nação falta aos mais relevantes debates e votações e continua a ser reeleita; num país em que o sonho da maioria dos jovens é ser actor dos Morangos com Açúcar (mesmo que ignorem quem foi Gil Vicente ou Shakespeare) e onde vale tudo (e Azevedo) para ter sucesso e garantir a boa saúde financeira de filhos e credores políticos, não podemos desejar ver no nosso corpo olímpico uma colecção de modelos de virtudes ético-desportivas. Todavia, ainda que tal diagnóstico revele mais do estado de alma do seu autor do que propriamente do Estado da Nação, talvez valha a pena pousarmos (mas não repousarmos) a mão nas quinas e na esfera armilar da consciência e interrogarmo-nos se é com estas "cores" folclóricas, fosforescentes, inconsequentes e evanescentes que queremos figurar no retrato da História. E, ainda que credulamente pergunte, será que é esta a memória desportiva que alguns dos nossos atletas querem que fique da sua carreira?

sábado, 16 de agosto de 2008

JS: mais do mesmo

Segundo o Público, a Juventude Socialista vai continuar a desfraldar a "bandeira" do casamento homossexual. Compreende-se a persistência dos jovens rosas. Afinal, o monopólio da originalidade política é detido pelos bloquistas do BE (que este ano até organizaram workshops em que se ensinava a usar artigos eróticos). Mas não há ninguém que explique as estes meninos que a estratégia auto-promocional das "causas fracturantes" já deu? É verdade; liguem para Bruxelas e perguntem ao camarada Sérgio Sousa Pinto.

Medvedev assinou

O Presidente da Rússia, Dmitri Medvedev, assinou hoje o plano negociado por Sarkosy para um cessar-fogo na Geórgia. Diversos testemunhos garantem ter visto Vladimir Putin, à saída do Kremlin, cerca de meia-hora depois da assinatura do acordo, a despir o seu disfarce de Dmitri Medvedev; mas, segundo fontes próximas da presidência russa, o primeiro-ministro Putin não esteve presente no momento da assinatura do documento.

sexta-feira, 15 de agosto de 2008

Portugal pouco olímpico

Decepção é a palavra que vai perseguir, nos próximos anos, muitos dos nossos atletas nas Olimpíadas chinesas. Dos nossos judocas fica a memória da imaturidade de Telma Monteiro perante a derrota. Da natação sobrou a confrangedora falta de ambição de Pedro Oliveira, que se apresentou nos Jogos para tentar fazer o seu melhor tempo...nacional e nem isso conseguiu. No tiro com arco, Nuno Pombo também foi a Pequim para bater o seu record pessoal, mas já deve estar a arrumar as malas, ao fim de duas participações nos Jogos. No tiro idem, na esgrima idem aspas, aspas... Resta-nos Obikwelu, já qualificado, Nélson Évora, Naíde Gomes...e Vanessa Fernandes que, habituada como está a multiplicar-se por três, ainda nos dá esperanças de valer... por três!

A festa do Pontal

O PSD festivo, comicieiro, declarou guerra a Manuela Ferreira Leite. É certo que a líder social-democrata escolheu o campo de batalha - a Festa do Pontal, uma espécie de Festa do Avante para frequentadores de solário sem barraquinhas das FARC -, mas os festivaleiros, como Ângelo Correia e Mendes Bota, escolheram as armas. Ofendidos com o desprezo da líder, Ângelo Correia, atracção principal da noite, discursou sobre os perigos e malefícios do silêncio em política; Mendes Bota, tal como se exige a um bom anfitrião, preferiu a magnanimidade à desonra, e até mandou cumprimentos aos que não puderam ou não quiseram estar presentes no evento que, António Borges, vice de Ferreira Leite, descreveu como "uma festa para quem quiser passar uma noite divertida."
No fim, não faltou quem desse umas facadinhas...no bolo, como em toda a festa que se preze.

quinta-feira, 14 de agosto de 2008

579 metros de campanha

O Governo assinou ontem, com toda a pompa e circunstância, o contrato para concepção/construção do troço de extensão da linha azul do metropolitano de Lisboa à estação da CP da Reboleira. Serão 579 metros de linha (metros, não quilómetros) e 58 milhões de euros de investimento público. Segundo previsão governamental, a nova extensão abrirá ao público em 2011. Ou seja: a partir de 2011, os utentes da estação da CP da Reboleira já não precisarão de percorrer 500 metros a pé para ir apanhar o comboio- vão poder fazer os mesmos 500 metros... de metro.
Segundo a secretária de Estado Ana Paula Vitorino, esta obra resolverá uma "...das maiores incoerências técnicas" da região metropolitana de Lisboa. Uma incoerência com pouco mais de 500 metros, que o Governo resolveu, com 58 milhões do erário público!
Enfim, são os primeiros 579 metros de campanha para as legislativas de Sócrates.

sábado, 9 de agosto de 2008

As virtudes do futebol

A quem ainda creia nas potencialidades formativas do futebol português, desaconselho a leitura das "lições" dadas pelo atleta do FCP, Bruno Alves, aos jovens adeptos que foram ontem assistir ao treino aberto do clube e se deslocaram ao stand Dragon Force. Perguntado por um jovem adepto de futebol sobre porque fazia tantas fintas, Bruno Alves, muito pedagogicamente, respondeu que não era muito de "...fazer fintas.(...) Sou mais de acertar nas pernas do que na bola. Às vezes dou algumas porradas."
Um cínico dirá que o atleta não disse nada que o jovem já não tenha visto na televisão, em qualquer jogo de futebol. Em resposta, contraditariamos certamente que o desportivismo, o fair play, são príncipios elementares de qualquer actividade desportiva, tal como a verdade desportiva... Mas seria a gargalhada nacional!

sexta-feira, 8 de agosto de 2008

Os perigos do Pontal

Ângelo Correia acusou Manuela Ferreira Leite de criar um vazio no PSD, por esta ter quebrado a tradição ao ter recusado ir à Festa do Pontal.
Compreendo a preocupação do barão social-democrata. Mas estou solidário com a líder do PSD. Afinal, é uma questão de ponderação de riscos. Entre ser acusada de ser centralista, elitista e pouco liberal e correr o risco de levar com o capachinho de Mendes Bota enquanto este canta o hino do partido num palco apinhado de louras oxigenadas e de patos-bravos vestidos de laranja dos pés à cabeça, também eu escolheria não ir ao Pontal.

Um problema de fruta

Confirmam-se as minhas suspeitas: o comandante da Zona Marítima do Sul, Reis Ágoas, tem alergia a fruta. Depois de proibir as massagens de praia, pois, segundo este, nunca se sabe como esta actividade pode acabar, agora veio proibir a distribuição de maçãs e pêras nos areais algarvios, promovida por duas campanhas de luta contra a obesidade e o colesterol, só porque uma das acções fazia publicidade a uma empresa petrolífera e outra era apoiada pela Associação de Produtores de Maçã de Alcobaça, o que, obviamente, constituem formas intoleráveis de publicidade e marketing.
Mas atenção, é justo referir que o comandante Ágoas não é exemplar único do proverbial nacional-cretinismo. Na CCDR-Algarve também há quem seja alérgico à fruta. Pois segundo disse Sebastião Teixeira, chefe de divisão de serviços do Litoral, ao site Observatório do Algarve, "Por regra, não é permitida publicidade nas praias, e a actividade tinha o autocolante - a chancela - da GALP." Sublinhe-se que "a actividade" consistia na distribuição de pêras na praia...E que, se é verdade que a acção tinha a "chancela" da GALP, também é verdade que também tinha a "chancela" da Direcção Geral de Saúde, o que, só por isso, conhecendo-se a qualidade dos serviços prestados por aquele organismo público, nos levará certamente a subscrever a proibição da campanha...

Tudo ao BES

O Banco Espírito Santo (BES) está definitivamente em alta. Em alta no que se refere à imperturbabilidade com que observa a "crise" de credibilidade dos concorrentes e em alta no que respeita à capacidade de captação de clientela. Mesmo da "clientela" indesejável. É que, ultimamente, até os assaltantes de bancos (só) vão ao BES! Foi ontem, na agência de Campolide, foi em Setúbal, em 2006. Das duas uma: ou a concorrência está mesmo pelas ruas da amargura, ou o BES é, definitivamente, o banco preferido dos portugueses - e dos outros.

quarta-feira, 6 de agosto de 2008

A extinção da (outra) memória

Nos dias que correm, sempre que se sabe da degradação ou demolição daquilo que se designa por património histórico-arquitectónico, é frequente ouvir bramir contra a eliminação da nossa "memória colectiva". Poucas são porém as vezes em que ouvimos falar daquilo a que chamaria a nossa "memória (ainda) viva". Refiro-me às notícias de extermínio e consequente extinção de grande parte das espécies de primatas que conhecemos e que, quer se aceite ou não, transportam consigo a memória daquilo que fomos e muitas das chaves para a compreensão daquilo que somos e seremos.
Segundo o Público de hoje, quase metade das espécies de primatas estão em vias de extinção.
A notícia, publicada em tempo de férias, passará ao lado da maior parte dos portugueses. Mesmo dos criacionistas. Mas fica o registo, de consciência, de quem conhece qualquer coisa de onde vem.

Clínica na hora

Segundo o presidente da Entidade Reguladora da Saúde (ERS), "Neste momento é mais fácil abrir uma unidade de endoscopia digestiva do que um café". Isto porque, segundo noticia o Público de hoje, os dispositivos legais que impunham a emissão prévia de licença, pelo Ministro da Saúde, para a abertura de qualquer unidade de saúde sem capacidade para internamentos, foram revogados, encontrando-se o respectivo regime legal em revisão, desde 2007.
A fazer fé na notícia, 83% destas unidades encontram-se actualmente a prestar cuidados de saúde sem a desejável e necessária licença de funcionamento - mesmo que, segundo parece, tal situação se deva mais à esquizofrenia burocrático-legislativa, do que ao incumprimento voluntário dos responsáveis daquelas unidades.
É caso para dizer que, se quer abrir um café, abra primeiro (ou em vez de) uma unidade de saúde, é mais rápido e, a avaliar pelo número de clínicas e hospitais privados que vão abrindo um pouco por todo o lado, dá milhões!
Sendo a fiscalização (ou a falta dela) o que é, bem pode arrendar uma loja, instalar o balcão, a esplanada e a arca frigorífica dos gelados, que, desde que arranje um cantinho e, já agora, uma brasileira jeitosa, para medir a tensão arterial à clientela, vai ter uma unidade de saúde de sucesso!

segunda-feira, 4 de agosto de 2008

As feridas do soldado Cravinho

João Cravinho diz-se desiludido e pessoalmente derrotado com o "chumbo", pelo PS, do seu pacote legislativo contra a corrupção. Em entrevista ao programa "Diga lá, Excelência" diz sentir-se "como um soldado no campo de batalha que combateu mas foi derrotado pelo inimigo."
Sabendo-se, como se sabe, que o "inimigo", logo após o "derrotar", lhe ofereceu a prebenda de um lugar na administração do Banco Europeu de Reconstrução e Desenvolvimento (BERD), é motivo para dizer que, com inimigos assim, quem precisa de amigos?

O futuro do ex-inspector

Gonçalo Amaral já deve andar indeciso sobre o seu futuro profissional. Depois da sua saída da PJ, o ex-titular da investigação do "caso Maddie" ainda alvitrou a hipótese de abraçar a advocacia, mas, agora, a avaliar pelo número de presenças na televisão, nos jornais e até nas revistas cor-de-rosa, já para falar do best-seller da praxe, tenho impressão que a advocacia é um (outro) caso arquivado na vida do ex-investigador policial.
Talvez ainda o vejamos como comentador residente num qualquer programa da manhã ou a fazer concorrência a Moita Flores na autoria de séries policiais para a TVI.
Quem agradecerá a "desistência" é o bastonário Marinho e Pinto. Será menos um advogado-estagiário a "descredibilizar" a profissão.

sexta-feira, 1 de agosto de 2008

A cena de Cavaco

Cavaco Silva falou ontem ao país, ou melhor, ao PS, ou melhor ainda, ao PS/Açores. Isto para não dizer que, na verdade, lá no interior do "boneco institucional" que encarna, Cavaco quis mesmo mas foi falar aos 230 idiotas que a Constituição da República permite que ponham e disponham dos seus poderes presidenciais sem lhe darem...cavaco!
Depois de um dia de suspense, de inusitado frenesim mediático em que todos sobre tudo especularam sobre qual seria o tema da anunciada declaração do Presidente ao país - o "chumbo" (parcial) do TC ao Estatuto Político-Administrativo dos Açores? o novo regime da Função Pública? o caso Apito Dourado e a FPF? -, Cavaco apareceu nas suas melhores vestes dramáticas, senho fechado, visivelmente nervoso, para discorrer, afinal e somente, sobre o chumbo ao Estatuto dos Açores.
Denso e fechado, o discurso não foi, evidentemente, para português perceber, mas para PS ouvir e Assembleia não tresler. Enfim, foi Cavaco à Cavaco.
Indubitavelmente, Portugal perdeu um actor dramático (canastrão) e, a grande maioria dos portugueses, uns longos minutos para fazer outra coisa qualquer.

quarta-feira, 30 de julho de 2008

Onde começa a massagem e...

O comandante da Zona Marítima do Sul, Reis Ágoas, tem sido notícia, nos últimos dias, pela preocupação por si manifestada de viva voz à TSF sobre a perniciosa (o adjectivo é da minha inteira responsabilidade) proliferação duma nova actividade balnear - a massagem de praia. Segundo o aquele oficial da Armada, "toda a gente sabe como começa uma massagem, mas ninguém sabe como acaba", pelo que a autoridade marítima que comanda vai estar atenta, para que essas actividades não se tornem "práticas irresponsáveis".
Lidas distraidamente as declarações do visado - por exemplo, na praia, com o jornal a camuflar as manobras de reconhecimento visual do areal onde nos encontramos - e diriamos que o homem é um bota-de-elástico, um moralista de galões e pingalim tão conservador tão conservador que até o apelido (Ágoas) faz questão de manter na grafia antiga.
Mas não, o comandante Ágoas não é um espiríto empoeirado. É, isso sim, um funcionário zeloso da saúde pública. E nada tem contra os profissionais (ou amadores) da massagem de praia (ou das outras, presumo). A sua preocupação, reconhecidamente "suplementar", com a actividade tem exclusivamente que ver com os produtos utilizados nas massagens e a credenciação de quem as pratica! Ou seja: para o comandante Ágoas, o problema de ninguém saber como acaba uma massagem de praia radica não na massagem propriamente dita, mas na qualificação técnica de quem a efectua e na qualidade dos produtos nela (ou nele) usados. Entendidos? Logo vi que não.
Desconhece-se as experiências massagísticas já vividas (ou sofridas!) pelo visado. Assim como se ignora as aptidões manuais da(s) (ou dos...) massagistas frequentada(s), e muito menos a natureza dos produtos utilizados. Mas pelo menos uma, de duas, nos permitimos extrair (metaforicamente falando) das declarações do comandante Ágoas: ou a experiência massagística alguma vez tida pelo visado foi de tal forma traumática que lhe causou uma "alergia" crónica à actividade, ou foi tão relaxante que o comandante, como muitas vezes acontece (segundo dizem), adormeceu na marquesa (ou no areal!), nunca tendo sabido como a massagem acabou...

terça-feira, 29 de julho de 2008

Lula contudo e com todos

O presidente da República Federativa do Brasil, Lula da Silva, esteve em Portugal, na passada semana, para participar na cerimónia de entrega do Prémio Camões de 2007, a António Lobo Antunes. De seguida, aproveitou para oferecer a Sócrates a oportunidade de anunciar a instalação de duas fábricas de componentes aeronaúticos da brasileira EMBRAER no Alentejo.
Mas desengane-se quem pense que Lula veio só para dar. No sábado, ficou-se a saber que, conforme revelou Lobo Antunes, o prémio Camões "roda", pelo que o galardão de 2008 vai para o brasileiro Ubaldo Ribeiro.
Mais: para convencer a EMBRAER a vir produzir para o "deserto", o Governo Sócrates garantiu um pacote de incentivos fiscais no valor de 30% do investimento do gigante empresarial brasileiro.
´Çê é um ingrato, cara!, acusar-me-ão os nossos irmãos do outro lado do Atlântico (e muitos dos de cá também). Mas longe de mim tal intenção!
Nada vejo de criticável na participação do presidente Lula na cerimónia do Prémio Camões 2007. Tirando as vacuidades discursivas do nosso presidente Cavaco (elogiar "a originalidade e a invenção" da escrita de Lobo Antunes é tão exacto (e redondo) como perorar sobre as múltiplas tonalidades de azul celeste), do que vi na televisão, pareceu-me uma cerimónia bastante digna e amistosa. E nada tenho a opôr, antes pelo contrário, à captação de investimento brasileiro ou de qualquer outro país, para o Alentejo. Agora, não estafemos mais o discurso do país irmão, dos laços históricos, das afinidades genealógicas. Lula está a fazer, e bem, o que se exige de um governante competente, que disponha das potencialidades do Brasil. It´s realpolitik, stupid! - com açúcar.

segunda-feira, 28 de julho de 2008

Loucos também deputam

Portugal está à frente da Inglaterra, em matéria de práticas não-discriminatórias. Segundo a revista de sábado passado do DN, o Governo britânico vai revogar um conjunto de leis do tempo da rainha Isabel I (XVI-XVII) que interditavam "lunáticos" e "idiotas" de se candidatarem ao Parlamento. De acordo com a notícia, o Governo de Gordon Brown entende que impedir a candidatura de idiotas (leia-se, segundo o The Sunday Times, "incapazes de raciocínio") e lunáticos (leia-se alguém que até tem "períodos de lucidez") constitui uma injustificável (e anacrónica, presumo) prática discriminatória. Mesmo num país - o da Bill of Rights - em que, enquanto os pequenos se divertem a esfaquiar-se uns aos outros, os graúdos vão brincando aos reis e às rainhas, e se pode estar preso, preventivamente, 42 dias.
Por cá, ao menos, aceitamos toda a gente no Parlamento. No Parlamento, no Governo e em qualquer orgão de soberania. Afinal, educados como somos no melhor espírito democrático, lá vamos crendo que até os "incapazes de raciocínio" que nos vão representando têm "períodos de lucidez". Períodos esses que, ainda que raros, têm produzido das mais brilhantes peças legislativas que o mundo democrático (e o outro) até hoje viu. Por exemplo, a nova lei do registo predial; ou a do divórcio; ou até as (rectificadissímas) alterações ao código de processo penal...

quarta-feira, 23 de julho de 2008

O sonho de Ramos-Horta

Ramos-Horta, Presidente da República de Timor-Lorosae, revelou hoje em Braga, à saída de uma conferência proferida na Universidade do Minho, que também gostava de ser enfermeiro reformado português.
A revelação, inusitada quando proferida por um co-agraciado com um prémio Nobel da Paz, deve-se no entanto, tão-somente, conforme resulta das declarações do PR timorense, ao generoso valor das pensões auferidas por aqueles profissionais da saúde em Portugal, que segundo Ramos-Horta ascenderá a € 2000 mensais - o que, nas palavras do político, permitirá a pelo menos um enfermeiro reformado luso-timorense, viver melhor, em Timor, que um PR timorense.
Não caucionasse a internacionalmente conhecida dedicação de Ramos-Horta à causa timorense a sua generosidade e abnegação e dir-se-ia, depois de ouvir as suas declarações, que, por trás do seu declarado contentamento com a bizarra possibilidade de todos os timorenses nascidos até 2002 poderem, por imprevisão legal nacional, adquirir a nacionalidade portuguesa, haveria ali aquela pontinha de cinismo típica do estadista de país sub-desenvolvido.
Mas, tirando isso, a confirmar-se essa possibilidade, e não tardará vermos Sócrates, qual Luís Filipe Vieira a promoter para o Benfica 300 mil sócios, a anunciar, num 10 de Junho, perante uma plateia de algumas centenas de timorenses bocejantes, que, com a atribuição da nacionalidade portuguesa a estas centenas de timorenses, Portugal acabara de concretizar mais um dos objectivos do Governo: ultrapassar, numa legislatura, o limiar dos dez milhões de habitantes!

domingo, 20 de julho de 2008

Uribe que se cuide

É impressão minha ou estamos a ver nascer um novo ícone mundial ?
Até há seis anos atrás, e não obstante a sua candidatura às presidenciais colombianas, Íngrid Betancourt era uma perfeita desconhecida no salão nobre da política mundial. Perfeita na medida em que o que lhe sobrava de ambição e popularidade no seu país, faltava-lhe em reconhecimento e testoterona - requisitos gerais de admissão no Clube Med da política internacional.
Mas a ambição também consegue escrever direito por linhas tortas; e que melhores linhas há para inscrever um nome na história do que as dos títulos dos jornais mundiais, do que as dos anúncios de abertura dos telejornais ou do que as dos blogues pessoais? Principalmente quando se serviu e serve as necessidades de protagonismo dum líder político europeu em plena crise de imagem interna.
Respeito o sofrimento vivido por Íngrid Betancourt nos seus seis anos de cativeiro às mãos dos narco-guerrilheiros das FARC. Assim como respeito o sofrimento dos ainda sequestrados pela guerrilha, como é justo lembrar. O que já não posso respeitar é o evidente aproveitamento político que uma vítima tem feito e deixado fazer da sua certamente dolorosa experiência na selva colombiana, em chocante desrespeito pelos que consigo sofreram e foram libertados e, acima de tudo, pelos que ficaram.
Depois da recepção de Estado de Sarkosy, da Legião de Honra francesa e do provável nobel da Paz, é caso para dizer: Uribe que se cuide.

2 x Sócrates = 1

O secretário-geral do PS, José Sócrates, encerrou esta tarde o Congresso Nacional da Juventude Socialista (JS) elogiando o Governo, de José Sócrates, pela sua "visão progressista e não conservadora", tendo ainda aproveitado para assumir as despesas do Executivo, de José Sócrates, num ataque velado à posição da líder do PSD sobre o casamento entre homossexuais.
Pródigo nos elogios, o secretário-geral do PS (vamos, por facilidade de raciocínio, designar o líder partidário por Sócrates 1) enalteceu "a tolerância, a diversidade e a liberdade individual" que levaram o Governo (de Sócrates 2, claro) a lutar, entre outras coisas, pela lei da interrupção voluntária da gravidez e pela nova lei do casamento civil.
Conclusão: o secretário-geral do PS (Sócrates 1), abrindo caminho ao Governo (de Sócrates 2), já está a preparar as hostes socialistas para a consagração do casamento entre pessoas do mesmo sexo. Se o Governo (de Sócrates 2) vai aproveitar a deixa do secretário-geral do PS (Sócrates 1) e avançar com a proposta de lei ainda esta legislatura, duvido; mas na próxima, dispondo (oportunamente) de minoria parlamentar, não vai certamente deixar de o fazer, obrigando assim Ferreira Leite a expor-se nua e crua no seu conservadorismo.
Nota da redacção, para quem anda a banhos (todo o ano) ou fartou-se de banhadas políticas: os visados - Sócrates1 e 2 - são uma e a mesma pessoa, pelo que qualquer associação desta (sur)realidade com a tão difundida propensão do país para a bipolaridade será da inteira responsabilidade do seu autor.

sábado, 19 de julho de 2008

Roma não paga a traidores?

Se o crime (vamos crer) não compensa, a conivência na sua prática, afinal, também parece que não. Que o diga o secretário-geral da UGT, João Proença. Para quem não sabe, João Proença é o homem que, em nome de dezenas de sindicatos afectos à UGT e porque " Como a CGTP nunca assina nada, a UGT terá de assinar" (conforme disse em entrevista à SÁBADO), concertou com o Governo as alterações ao Código do Trabalho. Mas além de líder sindical, Proença é também membro da Comissão Política do PS. E um candidato assumido a um qualquer tachito que - espera ele - um Sócrates generoso e reconhecedor lhe ofereça, pelos utilíssimos serviços prestados ao Governo.
Mas, conforme disse um dia Guterres, evocando o procônsul romano Cipião, "Roma não paga a traidores". Assim, parece que o Governo terá passado a perna a Proença, apresentando no Parlamento uma versão das alterações ao CT diversa da apresentada e aprovada pelo líder da UGT, em sede de concertação social.
Veremos se Proença, à semelhança dos três cicários de Viriato, não acabará executado e exposto - mas certamente bem posto - na praça pública.

sexta-feira, 18 de julho de 2008

Às armas (perdidas)

Segundo o PortugalDiário, a PSP, no rescaldo dos acontecimento no Bairro da Fonte, ainda anda à procura de armas ilegais. Nessa senda, esta manhã, a PSP de Loures revistou as viaturas das famílias (no sentido lacto) ciganas acampadas em frente à Câmara Municipal daquele município. Segundo fonte policial, foram apreendidas 3 caçadeiras e 1 espingarda em situação ilegal. Mas - acrescento eu - nem uma das duas pistolas-metralhadoras recentemente desaparecidas da esquadra da Bela-Vista, em Setúbal.
Vamos acreditar, como sugere o porta-voz de um dos sindicatos da PSP, que tal desaparecimento se deveu, tão singelamente, a um erro de contagem, devido, como não podia deixar de ser, à falência do equipamento informático usado para o efeito.
Depois do refrão do sistema no futebol e do discurso da tanga na política, aí temos, mais uma vez, a cassete da falta de meios nas forças de segurança.

E tudo o Apito suprou

Cabazada de condenações no processo "Apito Dourado". Valentim Loureiro, 3 anos e 2 meses de prisão. José Luís Oliveira (vice da C.M. Gondomar), 3 anos de prisão. Pinto de Sousa (Conselho de Arbitragem da FPF), 2 anos e 3 meses. Tavares da Costa (vice do Conselho de Arbitragem), 1 ano e 3 meses. Nunes da Silva (vogal), pena de multa. Licínio Santos (árbitro), 5 meses de prisão covertida em multa e 3 anos impedido de exercer funções desportivas. Pedro Sanhudo (árbitro), 9 meses de prisão substituída por multa e 3 anos impedido de exercer funções desportivas. A lista continua, mas entretanto reparei que, afinal, as penas de prisão aplicadas foram suspensas na sua execução...e achei que não valia a pena cansar o teclado.

quarta-feira, 16 de julho de 2008

É mentira, é mentira

Nunca a mentira foi tão pública neste país. Só esta semana, que ainda vai a meio, já vão duas as aldrabices expostas a público pela comunicação social. Primeiro foi a patranha da taxa "Robin dos Bosques", a aplicar às companhias petrolíferas, que afinal parece que mais não é do que um adiantamento - já confirmado pelo presidente da GALP - ao Governo, do imposto já existente, por conta dos lucros percebidos (o verbo, em desuso, assenta aqui como uma luva, se pensarmos na dificuldade que se viu em apurar com certeza da licitude dos métodos de cálculo utilizados pelas petrolíferas no negócio). E agora, é a procuradora directora do DIAP/Porto que, depois das desconsiderações do PGR, quer deixar o cargo, alegando razões de saúde - quando se sabe que, para além das desinteligências com o PGR, as razões de saúde serão, quando muito, de saúde financeira ou profissional, pois dizem os jornais que a procuradora deseja ser colocada na Relação, onde ganhará mais e terá, seguramente, menos chatices.
A este ritmo de aldrabice, amanhã não me surpreenderei se o Governo vier prometer um aumento extraordinário aos portugueses, por conta dos reembolsos do IRS, e o PGR, na próxima segunda-feira, vier anunciar que a solução para o "processo Maddie" será... o arquivamento do inquérito por falta de provas.

Impressões policiais

Concretizando disposições regulamentares já existentes - e num esforço evidente de distinguir os seus (d) efectivos dos sujeitos da função policial -, a Direcção Nacional da PSP decidiu restringir o uso de tatuagens, piercings e adornos afins (de natureza capilar inclusivé) pelos seus agentes, e recomendar que estes evitem fumar e mascar pastilha quando contactam com os cidadãos.
A avaliar pelo destaque noticioso dado ao despacho directivo em questão, é de prever que, nos próximos dias, vamos ter os vários sindicatos da PSP a queixar-se de violação de direitos e liberdades constitucionalmente garantidas, pressurosamente assistidos pelos personagens da esquerda de salão do costume. Mas convenhamos: quem nunca leu na musculatura tatuada (e anabolizada) de muitos agente da PSP cenas nocturnas da vida de um porteiro de discoteca? Não me refiro às declarações de amor filial (Amor de mãe) e de orgulho bélico (COMANDOS 1971) típicas dos braços e dos antebraços de uma geração de veteranos da Guerra das Colónias; mas às serpentes e dragões flamejantes e aos símbolos motards mais associáveis aos membros das máfias japonesas e às guangues de motoqueiros norte-americanas do que à actividade policial. E, já agora, quem nunca partilhou o balcão de um qualquer café ou cervajaria com um semi-desfraldado (melhor, semi-desfardado) orgão de polícia criminal, que, tal como nós, bebia a sua imperial e fumava o seu cigarro, enquanto o rádio do carro-patrulha, estacionado em segunda fila lá fora, chamava?

domingo, 13 de julho de 2008

As bocas e os lábios de Rui Pereira

Se depois da tempestade vem a bonança, depois dum tiroteio num bairro social vem sempre a demagogia.
O PSD, à cautela, lá veio dizer que a gravidade do acontecimento não podia ser usada como arma de arremeço político - afinal, quando já se foi dez anos Governo têm-se telhados de vidro (também) nesta matéria -; mas não deixou de verberar a política do Governo Sócrates no que respeita ao combate às armas ilegais. O CDS, como de costume, pela corneta do seu líder, diz que "o Estado não pode trair a polícia" e vai chamar o ministro Rui Pereira ao Parlamento. Não me parece é que, desta feita, o profano Paulo Portas possa contar com os bons-ofícios do irmão Abel Pinheiro - o mesmo se podendo dizer do irmão Rui Pereira.
Para o PCP, o tiroteio foi só mais uma manifestação da grave crise social e económica que afecta o país, pelo que não se lhes afigura necessário ouvir Rui Pereira. Aliás, basta ver com atenção as imagens dos distúrbios da passada sexta-feira no Bairro da Fonte, para nos apercebermos imediatamente que os rufias que se alvejavam mutuamente em pleno bairro eram operários em jornada de luta pelo encerramento da fábrica em que laboravam há décadas.
Louçã, o líder dos bloquistas, aparentemente parece ter seguido a recomendação de Sócrates, e, sobre o acontecimento, teve mesmo tento na língua, pois pouco mais disse do que era inaceitável ter medo para atravessar a rua, como acontece em Loures. O que nos deixa na dúvida se estamos perante uma crítica implícita à política criminal do Governo ou uma crítica explícita à política de segurança rodoviária em curso.
Mas elucidativo foi ouvir alguns porta-vozes dos sindicatos da polícia a perorarem sobre as virtualidades do policiamento de proximidade. Pura comédia. E depois ver e ouvir o "aviso sério" de Rui Pereira aos perpretadores, em directo para as televisões: "tudo faremos para os identificar e para que sejam responsabilizados. Não pactuamos com actos de violência." Ouviram?! Read my (big) lips: we hill catch you, punk. Dead or alive.

sexta-feira, 11 de julho de 2008

Os que nos dão a luz

Esta manhã, durante 14 minutos, o sul do país esteve sem electricidade. Tivesse o "apagão" ocorrido à noite e, a avaliar pelos diagnósticos ontem efectuados no debate do Estado da Nação, muitos dos alentejanos e algarvios (os de berço e os de adopção) teriam certamente pensado que era desta que alguém resolvera fechar a porta do país - sem que se esquecesse de apagar a luz.
Segundo o comunicado da REN, a quebra deveu-se a "ensaios realizados na sub-estação de Sines", no âmbito "do reforço da Rede Nacional de Transporte do Algarve", em construção - que, ainda segundo a REN, será uma "auto-estrada de energia que duplicará a capacidade energética e criará maior segurança e fiabilidade no abastecimento".
Para quem privou, durante 14 minutos, alguns milhões de portugueses de ver os programas da manhã do Manuel Luís Goucha e da Fátima Lopes e garantiu a milhares de trabalhadores uma pausa prolongada para café, só por ironia poderá falar em fiabilidade.
Mas o pessoal que nos dá a luz (salvo seja) é assim, uns pândegos: ora nos põem a pagar os calotes dos que querem electricidade ao preço da chuva, ora nos deixam às escuras - e à merçê da perícia do tipo do urinol imediatamente ao lado - num mictório de hipermercado!

G8 - Gourmet 8?

Um exemplo de hipocrisia política internacional.
Na cimeira do G8 que hoje começa, que apresenta como pratos fortes a alta do petróleo e a fome, o primeiro-ministro japonês (anfitrião do evento) resolveu exceder-se no empenho de hospitalidade aos representantes dos oito mais industrializados do Mundo, e resolveu esquecer a fome por uma noite oferecendo aos convivas um jantar constituído por vinte e quatro (24) pratos tipícos japoneses.
Se a moda pega, talvez seja melhor converter o G8 na confraria dos 8. Com Berlusconi e - por enquanto - Bush no grupo, era farra garantida. E os probrezinhos, os famélicos desgraçadinhos africanos, enfim, são fatalidades da existência.

terça-feira, 8 de julho de 2008

A união de Pilar e Saramago

Pilar del Rio, esposa e musa do nosso nobelizado José Saramago, entende que a União Ibérica resolveria muitos problemas de Portugal.
A ideia não é nova (e até já foi tentada na era Felipina) - aliás o próprio Saramago, eternamente ressentido, já a havia alvitrado anteriormente, não resistindo a picar o orgulho nacional -; só não se percebe é que problemas nacionais essa integração resolveria - o défice público? Talvez: nossos hermanos até gozam de superavit. O desemprego? Certamente que Zapatero não se importaria de ver a reduzida taxa de desemprego espanhola aumentar em 7/8% A escolha do seleccionador nacional? Bom, se em casa de Figo se fala espanhol e até o Ronaldo já habla portunhol (ou nereidês?), que prurido nos causaria ter, por exemplo, Camacho na Selecção?
Mas ironias à parte: que por detrás da (falsa) proposta de reflexão de Saramago sobre o tema há um certo revanchismo latente, não me parece haver dúvidas - o escritor, talvez por hipertrofia do ego (como disse um dia Lobo Antunes), mais do que não perdoar a Cavaco a falta de solidariedade institucional, parece nunca ter perdoado ao país o silêncio iletrado perante a desconsideração de um secretário de Estado de que ninguém guarda memória. Já no que respeita à sua conchita, talvez valesse a pena perguntar-lhe se, por exemplo, também preconiza como proposta de resolução para os problemas de Timor, a sua integração na Indonésia, ou será que, sendo Timor Lorosae um símbolo do activismo politicamente correcto (e da má-consciência internacional), opinião similar não cairia bem nos palcos (ou fóruns como agora se usa dizer) internacionais frequentados pelo casal de Lanzarote? Fica a questão.

sexta-feira, 4 de julho de 2008

A amiga de Gonçalo Amaral

Elucidativa a entrevista de Gonçalo Amaral. Elucidativa não porque tenhamos ficado a saber o que falhou na investigação do caso Maddie, mas porque ficámos a saber que as (infelizes) declarações do inspector-coordenador da investigação da PJ - na origem do pontapé no rabo que diz ter levado de Alípio Ribeiro - foram prestadas a uma jornalista sua conhecida de Faro, "quase da família", pelo lado da mulher, conforme referido pelo próprio.
Perante tão cândidas palavras do recém reformado inspector da PJ, quase que nos perguntamos: com amigas jornalistas assim, quem precisa de inimigos jornalistas ingleses?

quinta-feira, 3 de julho de 2008

O garrote das taxas de juro

Como já se previa, a taxa de juro de referência na zona Euro sobe hoje para 4, 25%. Segundo o Banco Central Europeu, a medida visa garantir a estabilidade de preços na Zona Euro. Mesmo que seja à custa do sangue, do súor e das lágrimas - e, já agora, do andar hipotecado - do consumidor europeu.
Jean-Claude Trichet - que bem podia chamar-se Jean-Claude Constrichet -, aparentemente, conhece os riscos que a medida comporta para a recuperação económica da Europa mas, sempre ineffable et refinée, lá vai dizendo: madames et monsieurs, citoyens európeens, c´est lá vie.
Não sei se o presidente do Conselho Europeu em exercício comungará da bondade da medida, mas duvido. Sabendo-se que Sarkosy pretende imprimir um novo estilo na presidência da UE, resta saber como irá relacionar-se com o BCE e o seu inefável president.

A entrevista de Sócrates

"Entre o sono e o sonho/entre mim e o que em mim/É o que eu me suponho/Corre um rio sem fim."
O poema é de Pessoa e ocorreu-me ontem ao assistir a alguns momentos da entrevista de Sócrates à RTP.
Atendendo à dupla de estrelas - Judite de Sousa e José Alberto Carvalho - mobilizadas para a entrevista, ainda pensei que iria assistir uma verdadeira inquirição jornalística. Mas foi puro engano. Nem voltejando os temas quentes dos combustíveis e do mega-pacote de obras públicas os dois directores de informação da estação pública conseguiram embaraçar o nosso primeiro.
Depois de ouvir Sócrates fazer a apologia das convicções políticas, dei por mim a bocejar, à procura do telecomando algures entre as almofadas do sofá.
É caso para dizer que, entre o sonho de Sócrates e o sono dos entrevistadores, entre mim e o que em mim era o que suponho, aconteceu um semi-sono sem fim.

terça-feira, 1 de julho de 2008

O (último) combate de Jaime Silva

O Governo declarou guerra ao nemátodo. Para quem, como eu, desconhece a identidade e a natureza do beligerante, informa o Público que se trata de uma doença do pinheiro, só combatível pelo recurso a altas temperaturas.
Ora, sendo - como é - o ministro da Agricultura um gerador de altas temperaturas ambulante, não me parece haver motivo para alarmismos. Com Jaime Silva à frente do combate não tardará para que eliminemos o bicho de todo o território nacional.

segunda-feira, 30 de junho de 2008

O bastão de Marinho

Aí está mais uma vez o dr. Marinho e Pinto. Ainda as mais diversas associações femininas (ou feministas - juristas inclusivé) afiavam a língua (e as unhas, aposto) contra as declarações politicamente incorrectas do bastonário sobre a natureza pública do crime de violência doméstica, instando até as suas congéneres a não recorrerem aos serviços do causídico, já Marinho e Pinto se divertia a dar mais umas bastonadas nos juízes, no oportuníssimo momento mediático em que estes magistrados apareciam nos écrans a queixar-se de apanharem dos arguidos.
Mas como quem vai à guerra, dá e leva, não tardou para que o dr. Marinho apanhasse também; só que apanhou de si mesmo, como se, à força de tanto arrear, às tantas fosse o seu próprio bastão a atingi-lo em cheio na ética. É que, conforme confirmado pelo próprio, o dr. Marinho, tal como defendera durante a campanha para bastonário (verdade seja escrita), propõs ao Conselho da Ordem, que aprovou, que o bastonário passasse a ser remunerado e a ter direito a subsídio de reintegração.
Só por si, a notícia nada trás de novidade: o actual bastonário sempre defendeu a profissionalização do cargo que exerce. Curioso é que, sob a manchete que o noticía os seus autores não tenham logrado esconder os sorrisos escarninhos de alcoviteiras com que aparecem no caso. E lamentável é que, Marinho e Pinto, que não entrou na Ordem vindo duma SGPS da advocacia, querendo certamente eximir-se a um maior escrutínio da sua proposta - certamente utilíssima às oposições internas -, não tenha, ainda assim, consultado os conselhos distritais, dando assim o peito (a ética) a mais esse combate pela dignificação da advocacia, para acabar por emprestar ao(s) cavaleiro(s) da advocacia societária a cernelha - e passar por juiz em causa própria.

Da fruta (nem cheiro)

Afinal, não vai haver fruta para ninguém. Lamentavelmente, o juiz de instrução criminal do TIC do Porto não parece privilegiar a fruta na sua dieta alimentar, pelo que não vai submeter Pinto da Costa a julgamento no "Processo da Fruta" em que, de acordo com o MP (ou com a interpretação que Maria José Morgado fez das escutas telefónicas efectuadas ao presidente do FCP, no processo "Apito Dourado"), o Papa do Futebol nacional é escutado a tratar da dieta do árbitro Jacinto Paixão com o empresário António Araújo, na véspera duma partida FCP-Estrela da Amadora que o árbitro haveria de conduzir.
Segundo o JIC, o confronto do teor da conversa havida entre Pinto da Costa e Araújo com o depoimento de Carolina Salgado não lhe permitiu concluir que os escutados haviam acordado a contratação de prostitutas para o árbitro Paixão, ou seja: a conversa sobre a fruta foi, processualmente falando, infrutífera.
Inconformado, o MP já revelou que vai recorrer da fruta.
De Pinto da Costa, por sua vez, é de presumir que, tão depressa, não irá comer ou sequer recomendar fruta a quem quer que seja, pois, depois da overdose de vitamina C que foi Carolina Salgado, fruta só se for fruta-pão.

sábado, 28 de junho de 2008

Jú(não)dice

Aparentemente, José Miguel Júdice fartou-se de ser o responsável fáctico pelo plano de revitalização da zona ribeirinha de Lisboa. Aparentemente porque este nada disse sobre as razões que o levaram a afastar-se da liderança do projecto - tirando um excerto lacónico da carta de demissão, entregue a Sócrates, por si declamado em directo ao seu curioso companheiro do programa Dia D, António Barreto.
Segundo o visado, as suas razões serão vertidas em livro, a apresentar em breve ao grande público.
Está na moda: agora quem tem ou julga ter algo a revelar ao país, já não convoca conferências de imprensa nem escreve artigos nos jornais - escreve livros. O meio e a forma sempre emprestam alguma dignidade ao conteúdo (ou à ausência dele) e garantem uns trocados extras aos (pseudo) autores. Veja-se Carolina Salgado ou, conforme já prometido, Valentim Loureiro.
Vamos então aguardar - e juntar uns trocos - para comprar o livro das revelações de Júdice - para compor a estante lá da sala.

segunda-feira, 23 de junho de 2008

A Ferreira Leite de ontem, de hoje e a de amanhã

Manuela Ferreita Leite já está em campanha para as legislativas. Depois de falar - e nada dizer (nem nas linhas, nem nas entrelinhas) - ao partido, a nova líder da oposição resolveu encerrar o congresso dos social-democratas com meia dúzia de ideias gerais para o país. Um sistema fiscal transparente, simples e previsível e um Sistema Nacional de Saúde que garanta uma assistência condigna a todos independentemente da sua capacidade económica são as propostas que Manuela Ferreira Leite se propõe apresentar ao país. Para além da promoção da cidadania, claro. Soa sempre bem.
Para ideias-força de campanha, nada a declarar. Para quem era acusada de não ter um programa político, de não concretizar, de não definir um alvo, Manuela Ferreira Leite lá veio fazer pontaria a dois - dois alvos estratégicos tão concretos e pesados como elefantes: impossíveis de falhar. O que ela não diz é com que armas e munições lhes vai acertar - e muito menos quem vai dar o corpinho aos paquidermes.
É pena é que a nossa Tatcher só agora tenha dado pela falta de lógica e transparência no nosso sistema (problema!) fiscal e pela necessidade de assegurar a manutenção de um SNS condigno. Pois não passou já Ferreira Leite pelas Finanças? E não foi ela quem vendeu parte da dívida da Seg. Social ao Citygroup ?
Há muita falta de memória na política...