terça-feira, 19 de agosto de 2008

Conta (olímpica) final

Sem prejuízo da esperança que ainda depositamos nos nossos atletas que ainda andam por Pequim, já são de sobra as razões e os motivos para que possamos ir fazendo a conta final da nossa participação nas Olimpíadas 2008. Não me refiro obviamente à conta na acepção economico-financeira do termo, pois esse é um exercício que só por masoquismo desejaremos conhecer, mas à conta na sua perspectiva desportiva - se é que é possível conjugar os valores desportivos com critérios de deve e haver.
Não me interessa já a relação dos insucessos da confrangedora maioria dos nossos mais promissores atletas - para esse exercício de auto-lapidação nacional já dei e com menos graça que tantos outros ilustres opinion makers -, interessa-me sim, modestamente, opinar sobre algumas das razões que terão estado na origem das evidenciadas dificuldades sentidas pelos nossos atletas de alto rendimento de competirem ao mais alto nível, como sejam a humildade (ou a falta dela), o espírito de sacrifício ou, tão prosaicamente, a (in) capacidade para levantar o cú cedo da cama!
Num diagnóstico simplista, cínico, diria até contemporizador, será fácil argumentar que, num país em que a maioria dos deputados da nação falta aos mais relevantes debates e votações e continua a ser reeleita; num país em que o sonho da maioria dos jovens é ser actor dos Morangos com Açúcar (mesmo que ignorem quem foi Gil Vicente ou Shakespeare) e onde vale tudo (e Azevedo) para ter sucesso e garantir a boa saúde financeira de filhos e credores políticos, não podemos desejar ver no nosso corpo olímpico uma colecção de modelos de virtudes ético-desportivas. Todavia, ainda que tal diagnóstico revele mais do estado de alma do seu autor do que propriamente do Estado da Nação, talvez valha a pena pousarmos (mas não repousarmos) a mão nas quinas e na esfera armilar da consciência e interrogarmo-nos se é com estas "cores" folclóricas, fosforescentes, inconsequentes e evanescentes que queremos figurar no retrato da História. E, ainda que credulamente pergunte, será que é esta a memória desportiva que alguns dos nossos atletas querem que fique da sua carreira?

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