quinta-feira, 31 de janeiro de 2008

Humanismos à la carte

Nunca percebi a pertinência destes surtos de indignação humanista. Entrados na 2ª ou 3ª série da novela "Os vôos ilegais da CIA", é agora a Human Right Watch, qual coro operático, que vem denunciar a miopia benévola das democracias ocidentais, relativamente às ignomínias das outras, as ficcionais.
Mas não é a hipocrisia uma disciplina da diplomacia ocidental? Não é a ambiguidade ética um requisito geral de admissão no clube UE? E não é a tibieza sinónimo de sentido de Estado nas nossas democracias?
Compreende-se que umas quantas ONG´s internacionais, de tempos a tempos, necessitem de fazer prova de vida para os seus patrocinadores; releva-se que meia dúzia de euro-burocratas estejam a fazer render a pólvora (seca) no combate combinado da honorabilidade internacional; mas já não há pachorra para os pregadores profissionais do humanismo e da moralidade internacional.

segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

Delegados de turma vão a Belém

A democracia é, consabidamente, o pior dos regimes políticos. Mas é também, indubitavelmente, o mais generoso e divertido dos sistemas de governação. Pois em que outro sistema político poderemos ver uma atilada delegação de pequenos partidos tão heterogénea como a que foi recebida, no passado dia 25, por Cavaco Silva, ter como porta-voz a líder do trotskista POUS? Ver à mesma mesa o enfático líder do nacional-populista PNR ao lado do representante do maoísta MRPP, que por sua vez se sentara à equidistância de um abraço do fadista, marialva e monárquico Nuno da Câmara Pereira e do conservador Manuel Monteiro já é uma barrigada de riso, mas vê-los todos juntos, respeitosos e protocolares (de mãos suadas de nervoso miudinho) no hall do presidente fez-me lembrar uma reunião de delegados de turma com o presidente do conselho directivo lá da escola. É muita giro ver partidos anti-sistema apelar aos bons ofícios da figura cimeira do sistema.
O respeitinho é muito bonito. Mesmo quando (d) a democracia (se) desmerece.

Os aceleras da CML

À semelhança deste Governo, o executivo da CML parece gerir internamente os seus pelouros com a mesma habilidade dum jovem recém encartado. Sempre lestos no arranque, mas ainda muito ineptos no tempo e no modo de engrenar a mudança.
Primeiro foi a adrenalina das rescisões contratuais: qual rufias do tunning, levantaram uma nuvem de poeira ao arrancar, mas acabaram apedrejados pela assistência. Depois veio a corrida do empréstimo - mas as fragilidades da máquina são tantas que já se fazem apostas na desclassificação. De permeio, a imposição de um novo sistema de controlo de assiduidade nas boxes - mas em cada boxe reina já o seu sub-sistema. Agora, quiseram cortar o acesso à net ao pessoal administrativo - mas no mesmo dia suspenderam a medida. E já se começa a ouvir umas buzinadelas de protesto, pois parece que há pessoal de pista com o ordenado de Janeiro em atraso...Enfim, de solavanco em solavanco até ao despiste final.

sábado, 26 de janeiro de 2008

O (des)assombro de Marinho Pinto

Marinho Pinto, recém empossado bastonário da Ordem dos Advogados, voltou a apontar as nódoas nos colarinhos da política portuguesa. É mais forte que ele. O homem bem tentou apaziguar a indignação classista prometendo contenção aos seus pares, mas parece que a sua pulsão tribunícia não vai deixar-se institucionalizar.
Pessoalmente, não me identifico com o estilo panfletário-justicialista de Marinho Pinto. Tenho dúvidas (ainda) que a Justiça se cumpra à força de megafone. Mas reconheço e saúdo o desassombro e até a coragem com que se expõe nas declarações que profere. Se é para denunciar as "tríades" da cunha, da tramóia, do parasitismo de Estado - actividades ainda infiscalizáveis pela ASAE -, valha-nos o Marinho Pinto - e que venham mais megafones!.

terça-feira, 22 de janeiro de 2008

O silêncio do sindicato

Segundo li, Baptista-Bastos apresentou a sua demissão de sócio do Sindicato dos Jornalistas. O jornalista (e, goste-se ou não do papillon, um dos últimos cultores do dialecto cá do burgo) está indignado com o silêncio do sindicato da classe, no caso da acção que contra si foi proposta por Alberto João Jardim.
É sintomático. Quando o sindicato daqueles que fazem (ou deviam fazer) profissão da liberdade de informar se encolhe ou se alheia duma tentativa, ainda que chocarreira, de constranger um seu associado por delito de opinião, talvez seja melhor eliminarmos a actividade da lista de profissões e passarmos a enquadrar Jornalistas como Baptista-Bastos na categoria fiscal de, por exemplo, Cláudio Ramos, profissional da comunicação.

O Padrinho da Madeira

Cartazes do PND - Madeira retratam Alberto João Jardim como O Padrinho que domina a ilha. A ideia terá partido de uma frase proferida pelo presidente do Governo Regional, num encontro ocorrido em Abril com a JSD/M. "Temos de ser uma máfia no bom sentido e ajudar-nos sempre uns aos outros", terá dito Jardim, em jeito de Tudo pela Madeira, nada contra a Madeira! Vinda de quem vem, a frase não choca nem surpreende. Alberto João é uma versão corridinho do Don Corleone de Coppolla: anafado quanto baste, belicoso e bonacheirão e de charuto sempre em riste, não é difícil a um cinéfilo que se preze imaginá-lo a ordenar o silenciamento dum qualquer jornalista recalcitrante ou a distribuir copos e abraços na Festa da Flor. Mas convenhamos: a saga O Padrinho é uma trilogia dramática e a história política de Alberto João Jardim é uma comédia negra há trinta anos nos écrans portugueses.

segunda-feira, 21 de janeiro de 2008

Ena Pá Menezes

Manuel João Vieira, o multifacetado vocalista dos EnaPá 2000 e ex-candidato a P.R., tem colaborado com Luís Filipe Menezes na redacção das suas últimas declarações políticas. A notícia ainda não foi confirmada pelos visados, mas, a avaliar pelo impacto das mais recentes declarações do líder do PSD, a influência de Manuel João é evidente. Quando se lê que Menezes promete desmantelar o Estado em 6 meses, é claramente perante uma parafraseação do slogan que Manuel João usou na sua campanha eleitoral - "Vou mudar Portugal!.. Para Espanha!" - que estamos. Quando Menezes afirma que ninguém devia ser primeiro-ministro sem conhecer Sumatra, é inequivocamente a inspiração onírica do heterónemo de Vieira - Lello Minsk- que está presente. E quando sugere querer ser o Sarkosy português, bom, aí é melhor não levarem mais vinho para mesa três do Maxime.

domingo, 20 de janeiro de 2008

Aceitam-se sugestões

E por falar na Lei do Tabaco. O director-geral da Saúde - que ultimamente parece dedicar a sua existência à hermeneutica jurídica -, depois de tranquilizar o dr. Assis Ferreira (não vão começar a barrar-lhe a entrada nos Casinos, por, sei lá, pilosidade excessiva..) parece também não querer melindrar os patrões dos porteiros das discotecas. A esta velocidade derrogatória, ainda vamos ver o dr. George admitir que, sim, a lei não proibe fumar nas piscinas, desde que se nade de costas; e que, sim, também se pode fumar nos blocos operatórios, desde que se equipe as mesas de operações com os respectivos cinzeiros, aliás, até posso adiantar que já estamos a preparar o quadro regulamentar que irá definir as características desses receptáculos.

A questão de fumo

Paula Teixeira da Cruz, fumadora no activo, diz ter um problema de fundo com a Lei do Tabaco. Compreendo. Eu, não fumador no activo, também tenho um problema de fumo com a Lei do Tabaco.

sábado, 19 de janeiro de 2008

A reforma de Paulo

Num país em que a demagogia é uma virtude política e a inveja uma idiossincrasia nacional, comentar a reforma vitalícia de Paulo Teixeira Pinto (35 mil euros mensais) é como tentar escapar entre pingos de chuva. Além disso, tirando a miríade de comissões, taxas e remunerações que pago como cliente do Milleniumbcp, não contribúo com um cêntimo para tão dourada aposentação. E depois, os 10 milhões de euros com que foi premiado por abandonar o barco, perdão, o banco impedem-no de trabalhar para a concorrência. Como vêem, o homem não merece uma unha ruída da minha inveja.

sexta-feira, 18 de janeiro de 2008

Cheiro a folga

Parece estar esclarecida a origem do cheiro a gás que ontem pairou como uma ameaça sobre a zona de Entrecampos, em Lisboa. Ácido sulfídrico é alegadamente a designação oficial do fedor; imprevidência de funcionário parece ter sido o móbil. Das suspeitas terroristas, nem cheiro.
Mas foi elucidativo ver as idiossincrasias lusas em acção. No edifício onde trabalho, no centro da zona afectada, a divisão era notória: enquanto uns cheiraram a oportunidade de desenferrujar a imaganição ("...não duvido nada que façam praí um atentado. O Sócrates não quis ser o cicerone da Europa?"), outros controlavam fleumaticamente a respiração, serenamente desejosos da ordem de evacuação.
Para a próxima, à cautela, estarei com os esbanjadores de imaginação. Gozam mais. E não mexem com a pulsação.

quinta-feira, 17 de janeiro de 2008

O carteiro revoltado

Ao ler a notícia do carteiro de Gaia acusado de se ter apropriado de 336 cheques da Segurança Social, veio-me à memória a primeira frase do "O Homem Revoltado" de Camus: "Há crimes de paixão e crimes de lógica." Segundo o acusado, que confessou os factos mas negou a acusação de participação em associação criminosa, só fez o que fez porque andava perdido de amores por duas das mulheres arguidas no processo.
A solicitação amorosa parece-me inequívoca: entre 2001 e 2003, este carteiro apaixonado, apropriou-se, sempre por amor e em concertação com mais outras 14 presumíveis vítimas do Cupido, de €118.656,06 em cheques de subsidíos de desemprego, doença e sobrevivência emitidos pelo Centro Regional da Segurança Social do Norte. Nada mais claro e idílico. Mas o que me está a escapar é a lógica do enredo amoroso: Qual o móbil do crime? O financiamento de uma mega-lua-de-mel? Estaremos perante uma associação de amantes sem dinheiro, como no poema de Eugénio? Ou um clube de fãs do par Bonnie & Clyde?
Enfim, o amor tem razões que a razão desconhece. Esperemos no entanto que o tribunal seja versado em filosofia...ou poesia.

quarta-feira, 16 de janeiro de 2008

As partes nobres do nosso jornalismo

"El Solitário", o assaltante de bancos espanhol actualmente detido no estabelecimento prisional do Monsanto, queixa-se de, entre outras sevícias infamantes, ter sido tocado nas partes nobres.
Desconhece-se, em concreto, a que partes o homem se refere, muito menos a que se deverá a sua nobreza - afinal, presunção e água-benta cada um toma a que quer. No entanto, acho que deve preocupar-nos o destaque jornalístico dado a tais declarações. Não é que as acusações proferidas não mereçam atenção - custa-me que achem mais aprazível Guantánamo que o nosso parque prisional e naturalmente desgosta-me que haja no nosso corpo de guardas prisionais gente dada à indiscrição e ao surripianço -, mas temo que a exploração jornalística deste género gratuito de maledicência nos possa trazer, para além de prejuízos incalculáveis no sub-sector do turismo prisional, uma onda insustentável de reclamações por parte daqueles que, ou porque servem os interesses da concorrência ou porque não estão satisfeitos com a qualidade, certamente transitória, dos seus alojamentos actuais, somente contribuem para justificar a existência da autoridade de fiscalização económica nacional.

terça-feira, 15 de janeiro de 2008

O efeito "Casa Pia"

É extraordinário o efeito pernicioso que o chamado "Caso Casa Pia" tem produzido na sociedadade portuguesa. Depois de atirar para o exílio (mais ou menos dourado) um ex-ministro que prometia e o primeiro-ministro que se previa; depois de ter deslustrado a fina flor da nossa diplomacia e inflamado a luta de classes no seio da nossa advocacia; de ter reduzido a modesto assalariado o Senhor Televisão e maculado muitas batas brancas da nossa medicina, a iniquidade parece estar também a inspirar os nossos casais desavindos.
Segundo o DN, em cerca de metade das acções de divórcio litigioso propostas nos tribunais portugueses, há acusações ou pelo menos insinuações de abuso sexual contra os pais.
Se a extensão processual do fenónemo surpreende pelo grau de banalização social que atingiu aquela tipologia de crimes - fruto (proibido) da mega-exploração mediática do caso - e a sordidez mesquinha e vil de tal conduta processual repugna até a mais embotada das consciências, é porém a dimensão ética e deontológica do fenómeno que me interpela. Pois se a experiência universal (e a imprensa cor-de-rosa internacional) demonstra que tudo vale no (des) amor e na guerra, não impõem a dignidade e a rectidão estatutariamente exigidas ao advogado no exercício da sua profissão que este, enquanto interveniente necessário e obrigatório numa acção de divórcio, deva, antes do mais, avaliar da bondade das pretensões que lhe são confiadas e recusar todas as que considere injustas e ou passíveis de constituir crime?
Meus caros, quando até o Direito e a probidade profissional a perfídia conjugal parece perverter, façamos como se conta de um juiz de antanho: fechemo-los numa sala até que se entendam!

segunda-feira, 14 de janeiro de 2008

Xerife Nunes vai à Assembleia

O presidente da ASAE vai ser ouvido na Assembleia. Depois de autorizado pelo ministro Pinho, bem entendido - chefe é chefe.
Esperemos que não se esqueça de deixar o armamento em casa, não vá o detector de metais da portaria tocar, e é chato.
E esperemos que não o aborreçam muito também, senão ainda vamos ver, em directo pela TVI, uma equipa de intervenção rápida daquela autoridade de polícia administrativa irromper em rappel pela janela da sala da comissão adentro.

Dêem-lhes bisnagas

Este fim-de-semana estive para encomendar, num armazém de paquistaneses do Martim Moniz, 50 000 bisnagas para doar à GNR e à PSP. Ainda pensei adicionar 50 000 cinturões à encomenda - experimentei uns quantos modelos, estilo Billy The Kid, que ficariam a matar a muitos agentes -, mas com a proximidade do Carnaval, os preços começam a ficar proibitivos.
A pulsão benemérita assaltou-me no sábado à noite, depois de ver na TVI que as 50 000 pistolas adquiridas - e já parcialmente distribuídas - pelo MAI para a PSP e a GNR estavam a ser alvo de críticas dos agentes, que estão com dificuldade em adaptarem-se ao modelo.
Varado pela notícia, não pode deixar de recordar uma bisnaga preta que tive em miúdo. O brinquedo era um canhão estilo Dirty Harry, que ainda hoje assustaria muitos caixas bancários, mas, por uma qualquer insuficiência de fabrico, tinha a potência esguichatória duma palhinha de refresco.
Enfim, preocupado e pródigo, a minha primeira reacção foi consultar as casas da especialidade existentes na zona da Mouraria. Afinal, pensei, depois de se ter gasto cerca de 15 milhões de euros em pistolas da treta que só os cámones e os bifes ingleses e alemães usam, porquê gastar mais outro tanto para alterá-las, quando, com o grau de preparação e profissionalismo dos nossos agentes e a nossa capacidade inata de adaptação aos reveses da desdita, podemos perfeitamente, com menor custo e risco, dar conta dos artistas cá do burgo com umas quantas bisnagas made in Taiwan.
E se entretanto, tal como se prevê, os cinturões não chegarem a tempo, o meu amigo Karim consegue pôr um camião com 50 000, modelo Kid, à porta do MAI, em 24h.

sábado, 12 de janeiro de 2008

ASAE: para duros e durar

É notícia que a ASAE terá solicitado a colaboração do SIS e de forças especiais norte-americanas (SWAT) na formação dos seus inspectores.
Ao contrário do que seria de esperar, a avaliar pelo estilo marcadamente cénico das operações da ASAE, a aparente paramilitarização daquela autoridade de polícia administrativa parece estar a constranger o seu pessoal inspectivo. Afinal, para que precisa uma inspectora de dominar técnicas de luta corpo-a-corpo quando fiscaliza um restaurante chinês? Bom, nunca se sabe se por trás duns olhos puxados está um ninja renegado ou um yakuza reformado. E quantas ginjinhas por este país fora não serão insuspeitadas unidades de lavagem de dinheiro das máfias de Leste?
Ironias à parte, e sem prejuízo do óbvio reconhecimento do papel social e económico de organismos estaduais como a ASAE, começam, de facto, a ser preocupantes - senão mesmo irritantes -, os tiques xerifescos de António Nunes. Pois se é facilmente compreendido e até aplaudido pelo português comum (nomeadamente pelos subscritores do canal FoxCrime) que muito do sucesso da actividade da ASAE se deve à sua aliança táctica com os média, já se afigura de digestação mais difícil para o cidadão securitário-intolerante ser confrontado, quase diariamente, com indícios de tentativas mais ou menos encapotadas (e encapuzadas!) duma autoridade de polícia administrativa cujas atribuições se circunscrevem e se devem circunscrever, no quadro legal vigente, à avaliação e comunicação dos riscos na cadeia alimentar e coordenação nacional do controlo oficial dos géneros alimentícios, se atribuir (ou de subtrair) poderes e competências de índole policial e até judiciária cuja natureza e conteúdo encontram-se constitucionalmente confiados a órgãos de polícia, esses sim, criminal especialmente vocacionados para o exercício, legalmente tutelado, da investigação e da repressão criminal.
Ora se, para o inspector Nunes, discrição e lisura constituem lirismos anacrónicos grafados num qualquer velho manual de conduta profissional esquecido na biblioteca do seu centro de formação de Idanha-a-Nova, o tropa de élite que há em cada um de nós até concorda e aprova; resta porém saber, e cá estaremos, temo, para o ver, se o país do défice, das esquadras em ruína e (ainda) do balde higiénico comporta mais um organismo policial especial, como o aparentemente em incubação na Conde de Valbom. E não faltará muito para vermos relançado o debate sobre as dificuldades de articulação e comunicação entre forças policiais - eloquentemente ilustrado por grandes operações conjuntas, conferências de imprensa colectivas e comunicações mais ou menos concertadas em que depois se vem a saber que o comissário da PSP, porque chegou primeiro, desautorizou o chefe do posto local da GNR, que se atrasou porque não tinha gasóleo no jipe, que por sua vez não deixou a PJ entrar no local do crime porque não tinha ordens do comando e que, em virtude de não obstante a prontidão demonstrada e o grau de preparação técnico-táctica operacional etcetc, o meliante entretanto ilegalmente detido e prontamente "repreendido" por populares afinal, era outro.
Aguardemos pois, com tranquilidade, agarrados ao televisor, as cenas dos próximos capítulos.

Já tem o número de telefone de Jorge Sampaio?

Já tem o número de telefone de Jorge Sampaio? Se já lhe aconteceu ter ganas de esganar o chinês da lojeca da esquina quando ele, sempre solícito, não entende à primeira o que lhe diz ou se não suporta a atmosfera de caril(ianísgena) da drogaria de indianos lá do bairro, não hesite: ligue para a Representação das Nações Unidas para a Aliança das Civilizações e peça para falar com o Dr. Jorge Sampaio.
Segundo disse este nosso ex-PR, actual Alto Representante da ONU, à VISÃO desta semana, a missão da Aliança não é resolver conflitos internacionais, mas sim promover o diálogo entre as pessoas, em casa, nas famílias, entre vizinhos de patamar, nos bairros...
Com um orçamento indeterminado - pois depende de doações privadas e estaduais - situado entre um milhão e dois milhões de dólares, Jorge Sampaio propõe-se ser uma espécie de pregador de bairro internacional - o que, num tempo em que se interceptam mensagens apocalípticas da Al-Qaeda e se assiste, ao almoço e ao jantar, a chacinas tribais no idílico Quénia, é qualquer coisa de altamente prometedor. Bem-haja, dr. Sampaio, e divirta-se.

sexta-feira, 11 de janeiro de 2008

Um desagravo quase imerecido

Por princípio e espiríto de contradição, nunca aderi às campanhas pseudo-libertárias anti-ASAE. Por mais que me esforçe, não consigo ficar indiferente a uns lábios carnudos marcados na chávena em que me servem um café. E ainda hoje sorrio, nostálgico, quando recordo o padeiro da minha rua, que guardava a pinça dos bolos na gaveta dos trocos, por causa das moscas. Além disso, faço parte daquela insuportável minoria de snobes que acham que não é a mesma coisa vestir um polo Lacoste, from Feira do Relógio, só porque este tem o crocodilo cozido à direita.
Nostagias e snobeiras à parte, apesar do seu diversificado currículo (de nomeado político) profissional, enquanto responsável máximo da ASAE, António Nunes tudo fez para inspirar no consumidor a confiança e o respeito devido a quem jurou solenemente defender e fazer cumprir as leis da república: Com rigor e desassombro (e shotguns) e nunca com visibilidade reduzida, o presidente da ASAE, goste-se ou não, imprimiu (ou comprimiu, dirão muitos) uma nova forma de fiscalizar as actividades económicas neste país de artistas da rádio, TV, disco e da cassete pirata.

Uma fumaça que lhes deu

Não há fogo que não se apague. Depois do flagrante da cigarrilha, a ASAE parece ter-se esfumado nas ondas hertzianas. Já vai para duas semanas que não temos notícia de mais uma mega-operação (ou produção?) daquela autoridade de polícia administrativa. Aparentemente, também o Director-Geral da Saúde tem sentido um certo apagamento por parte do pessoal de António Nunes, pois já se viu obrigado a solicitar, por comunicado, uma especial atenção daquela entidade fiscalizadora aos estabelecimentos de restauração e bebidas que tenham optado por não restringir o fumo nos seus espaços.

quarta-feira, 9 de janeiro de 2008

Há Gatos e gatos

Depois de ter passado a noite de Fim de Ano agarrado, em directo, à flute de espumante, o Fedorento Zé Diogo Quintela foi apanhado, nessa mesma madrugada, pela PSP, a ultrapassar pela direita com 1, 6 de alcool no sangue. A caçada (ou operação de fiscalização, como a PSP prefere designar este tipo de operações) ocorreu no Cais do Sodré e proporcionou a Zé Diogo uma curta estadia nas instalações da PSP.
Tendo-se apresentado a juízo na passada 4ª feira, o Gato foi condenado à doação de €400 euros a uma instituição de solidariedade social e a 40 horas de trabalho comunitário, pois o juiz (provável espectador do "Isto É Uma Espécie De Magazine") teve em atenção o facto de esta ter sido a sua primeira vez...
Bom, descurando aqui o devido rigor jurídico e não querendo bater mais no gatinho - sob pena de ter os defensores dos animais à perna -, permito-me sugerir que, não estando ainda, tanto quanto se sabe, definida a organização a contemplar com as 4o horas de labor reabilitador do Zé Diogo, seria porventura útil e adequado que estas, para serem exemplares e dissuasoras como se pretende, em vez das corriqueiras visitas a Alcoitão, fossem passadas nas próximas vindimas, sob a alçada correctora da sociedade Caves Aliança.

Contorcionismos Políticos

José Sócrates apresenta hoje no Parlamento o seu mais recente número de contorcionismo político. Depois do exigente tirocínio no Grande Circo da Presidência Europeia e do número arriscado da Cimeira UE/África, é com ruída expectativa que o confrariado nacional espera ver e ouvir o nosso primeiro propor a ratificação parlamentar do Tratado de Lisboa.
Os pregoeiros da legitimidade democrática congratulam-se com a decisão. O povo, em época de saldos, agradece a desconsideração. Afinal, é para isso que lhes pagamos... E depois, que interessa ao merceeiro da minha rua que, com este tratado, a regra no processo decisório vá passar a ser - mesmo que só em 2014, graças à recalcitrante Polónia - a maioria qualificada, o que consagra, definitivamente, a Europa dos Grandes? Que espécie faz à minha avó que Portugal vá perder dois deputados no PE ou que vá deixar de ter direito a designar um comissário? Quando muito: "Olha, filho, serão menos três ao alto!"E que indignação suscita ao carteiro da minha área que a "nova Europa" vá ter um Presidente eleito? Nenhuma, com certeza, afinal temos o Felipão!
Enfim, de petulância em petulância até à irrelevância nacional.

quarta-feira, 2 de janeiro de 2008

Registo de Intenções

Este blogue é uma resolução de Ano Novo. Como todas as resoluções de origem demarcada, promete cumprir-se, mas jamais levar-se a sério. É, no fundo, um acto de fastio: as filhós acabaram, os episódios da 4ª série da novela "Casa Pia" recomeçaram e a Soraia Chaves é a nova Dietrich... cá da rua. Mas, como convém, é também um exercício de liberdade e cidadania: louvamos a Deus, acenamos ao Pápa, mas vamos, quase sempre, reportar-nos ao Demónio; não pichamos muros nem erigimos murais, mas temos um fraquinho pelos que costumam limpar as mãos à parede; respeitamos a lei e os bons costumes e vestimos sempre pelo direito, mas só ultrapassamos pela esquerda. Em suma: num país que se promete todos os dias, em que Menezes não se escuta e Sócrates transpira cicuta, este é o nosso compromisso com o burguês precário e o reaccionário filho da fruta.