sexta-feira, 30 de maio de 2008

Eleições/altercações no PSD

A luta pela liderança no PSD está ao rubro. Acusando pela primeira vez nesta campanha o peso do sentido de Estado e vendo o seu pecúlio de credibilidade política desbaratado na refrega partidária, Manuela Ferreira Leite decidiu falar - um exercício para o qual nunca esteve particularmente vocacionada - e dizer o que não queria mas pensava: Jamais votaria em Santana Lopes.
Indignado, Santana cavalga a desconsideração da "Dama de Ferro" nacional, convertendo uma afronta pessoal num ilícito estatutário.
Que as eleições para a liderança do PSD estão a ser, mais do que a confrontação de facções, um ajuste de contas passadas interfamilías, parece não haver dúvidas; agora, resta saber se o PSD, enquanto instituição político-partidária, sairá ileso da disputa.
Em todo o caso, de uma coisa não tenho dúvidas: apesar da sua inquestionável seriedade, da sua irrepreensível credibilidade ética e do seu provado sentido de Estado, Manuela Ferreira Leite não é definitivamente capaz de mobilizar vontades, galvanizar ânimos e transmitir um projecto de mudança ao país. Já Santana Lopes, é o homem a quem nunca compraríamos um carro usado, mas a quem encarregariamos decididamente de vender o nosso. Inegávelmente combativo, óptimo tribuno, galvanizador, Santana sabe que estas eleições são a sua derradeira oportunidade de apagar um passado político errático e demonstrar que, o carro é velho, tem umas centenas de milhares de quilómetros, mas, com ele ao volante (e nós a empurrar) ainda havemos de ir a Roma ver o Papa e dar um abraço a Berlusconi.

quinta-feira, 29 de maio de 2008

Bemba, Bambo e nós, os bimbos

Desde segunda-feira que Portugal parece ser cenário duma aventura do Tintin. Ao iniciar da semana informam-nos que, altos dignatários lusos, em respeito às nossas melhores tradições de hospitalidade, haviam permitido o pseudo-exílio no Algarve de um tal Jean-Pierre Bemba, ex-vice-presidente congolês detido no sábado em Bruxelas, sob acusação do Tribunal Penal Internacional de prática de crimes de guerra e contra a humanidade. Segundo parece, o tribalista transvestido de estadista, era dado ao eclectismo, pois tanto apreciava as virtudes (e os luxos) da democracia ocidental como chacinava - solidariamente com líderes da República Centro-Africana - populares daquele país.
Ontem, foi o professor Bambo. Segundo se noticiou, o conhecido vidente senegalês, um dos mais assíduos anunciantes da nossa imprensa escrita, foi ouvido no DIAP do Porto, por suspeita de burla e violação.
Das duas uma: ou tropeço amanhã no capitão Hadock ou começo a suspeitar que os Bemba e Bambos que se passeiam por este país (e os seus-nossos hospedeiros) devem achar-nos uns bimbos...

terça-feira, 20 de maio de 2008

O Museu Sá Fernandes

Sá Fernandes, o nosso activista da moralidade urbanística, afinal, ainda mexe. Em jeito de prova de vida, vem agora informar os lisboetas que vai propor à câmara da capital, onde é vereador do Ambiente, o apoio à criação do museu de África.
Depois da odisseia do túnel do Marquês, da novela do caso Bragaparques, da anedota eleitoralística de pôr o munícpio a comercializar bivalves pescados no Tejo e do tiro de pólvora seca ao restaurante de José Miguel Júdice, Sá Fernandes resolveu agora abraçar a causa da multiculturalidade, pondo o município com a melhor situação financeira do país - e as árvores e os jardins e os monumentos e o edificado mais descuidados - a patrocinar um museu de África.
A continuar assim, muito em breve, eu mesmo, enquanto munícipe alfacinha, irei propor em Assembleia municipal a criação do museu Sá Fernandes, que será uma combinação de ferro-velho com museu do bizarro.

segunda-feira, 19 de maio de 2008

Calendário da violência conjugal

Segundo noticia o PortugalDiário (citando um estudo do MAI), a violência doméstica aumenta ao fim-de-semana: 33, 8% das agressões conjugais acontecem ao sábado e ao domingo.
A leitura parece-me óbvia. Sendo, regra geral, o sábado e o domingo os únicos dias da semana em que os cônjuges têm inevitavelmente que se aturar um ao outro, é compreensível que seja neste período que estes mais demonstrem o seu amor mútuo. Além disso, o domingo é dia de jogos da 1ª Liga, logo, dia de emoções fortes - e de frustrações - pelo que é de inferir que, há uns anos para cá, a grande percentagem de casos de violência conjugal registados deverão acontecer a sul, na zona da grande Lisboa, com maior incidência na zona da 2ª Circular... E quem melhor posicionado para serenar fúrias futebolísticas (ou outras) do que aquela que acabou de se nos atravessar à frente do televisor no momento do golo? Ou do que aquele que, colado ao écran, nos ignorou quando chegámos carregadas de sacos do supermercado?
E para que não subsistam quaisquer dúvidas do quanto é difícil a convivência pacífica entre os nossos casados, o estudo revela ainda que, o período do dia em que se registam mais casos, é entre as 19h e a 1h da manhã - o que nada tem de misterioso, pois não é este o período que compreende a realização (contrariada) das tarefas domésticas e dos deveres (custosamente) conjugais?
O dado curioso revelado pelo estudo é que, o dia da semana em que menos violência se regista, é a 4ª feira. Aparentemente não há uma explicação imediata para o facto. Pode ser porque, estando a meio da semana, o cansaço, os kilómetros de trânsito percorridos, as refeições perdidas ou mal digeridas, os sapos engolidos no emprego ainda não sejam combustível suficiente para uma explosão doméstica. Ou talvez seja por ser véspera de dia de Quadratura do Círculo, e os casais portugueses, ansiosos de ouvirem a élite dos nossos comentadeiros políticos opinarem sobre o país político (e não político), se reservem energias para o esforço intelectual que o programa exige.

Mais da ASAE

E a sanha higiénica da ASAE continua. Desta feita, as vítimas foram as IPSS. Segundo se noticia, aquela polícia económica, fazendo uma interpretação draconiana de normas comunitárias, tem vindo a aplicar às IPSS as regras fixadas para os estabelecimentos de restauração, proibindo aquelas instituições de apoio social de aceitar dádivas de géneros alimentícios e obrigando-as a jogar fora, mesmo quando em boas condições, alimentos que não se encontrem conservados em equipamentos de congelação exigidos aos estabelecimentos de restauração.
Numa altura em que a fome regressa à ordem do dia, é inacreditável que seja um serviço público a promover o desperdício e a condicionar de forma intolerável a actividade assistencial. Mas, mais grave e intolerável do que isso, é assistir, de dia para dia, à descredibilização, por via do protagonismo rigorosista do seu dirgente máximo, dum organismo público indispensável a qualquer sociedade minimamente organizada.

quinta-feira, 15 de maio de 2008

A guerrilha da Feira do Livro

Como já vai sendo hábito, por força do velho diferendo APEL/UEP, a Feira do Livro deste ano parece estar em risco de não se realizar. Pelo menos, assim informa a CML, que já avisou que poderá retirar o apoio financeiro à organização, se as associações não se entenderem. Bluff ou não, compreende-se o aviso do executivo alfacinha. É que, se já vamos estando habituados às guerrinhas de poder entre a provecta APEL e os jovens turcos da UEP, este ano, com a entrada na contenda do grupo Leya de Pais do Amaral, a disputa subiu (desceu!) de tom. Basta ler os comunicados da CML e da APEL para se perceber que, até no mundo dos livros, a palavra dita vale pouco - ao invés da palavra impressa, que, ao que parece, vale cada vez mais.
Como leitor inveterado, consumidor compulsivo de livros e frequentador militante da Feira do Livro, só posso deplorar que a organização de um dos maiores acontecimentos culturais do país esteja cativa, não duma saudável - e desejável - divergência conceptual de índole estética, mas duma guerrilha pacóvia (pelo lado da APEL) e mercantilístico-oportunística (pelo lado do Grupo Leya/UEP - por esta ordem de importância).
Pois se é evidente que a APEL tem amesquinhado o seu património organizativo ao barricar-se obtusamente na sua posição de império ameaçado, é manifesta (e preocupante) a parceria estratégica da UEP com o grupo monopolista Leya.
Esperemos que, a UEP, perceba, a tempo, que, se a sua aliança com o grupo Leya pode rebustecer a sua fraqueza representativa, também pode tomar o seu espaço de representatividade de assalto, como tem feito com o panorama editorial nacional. Como leitor, desejo apenas que, no fim de contas (porque é de contas que se trata), os interesses do livro e dos leitores prevaleçam.

A bacano Sócrates e os cortas

Não resistindo à dependência tabágica de que padece, o nosso primeiro foi apanhado a fumar durante o voo à Venezuela. Confrontado com a ilicitude da sua conduta, José Sócrates reagiu como qualquer agarrado apanhado a consumir: desculpou-se e garantiu que desta é que é, que ia mesmo largar a nicotina.
Mas sejamos tolerantes: todos sabemos que o vício não conhece limites nem regulamentações. E, depois, quem é que ainda não tinha percebido que, José Sócrates, ao contrário do que se esforça por parecer, é muito porreiro, pá! ? No intímo mais intímo do nosso obstinado presidente do Conselho de Ministros há um bacano, um cool, um libertário vituperador da ASAE!
Aqueles sonsos que vieram pôr a boca no trombone, é que são uns cortas, uns empatas, uns peúga branca, uns manga de alpaca!

terça-feira, 13 de maio de 2008

Onde está o Sá Fernandes?

Alguém viu ou ouviu por aí o Sá Fernandes? O do caso Camarate? Não, o mano. O cavaleiro das causas urbanísticas, o arauto da moralidade camarária, o homem do Túnel do Marquês. É vereador do pelouro dos Espaços Verdes na CML. Ah é, o homem converteu-se à jardinagem, foi? Mais ou menos. É uma espécie de retiro bucólico do guerreiro. Com o brilhante patrocínio de António Costa.

Sócrates em Caracas

O nosso primeiro está em Caracas, em visita oficial a Chávez. Como de costume, vai extensamente acompanhado: 80 empresários, 3 ministros e uns quantos secretários de Estado. A atender aos números da comitiva, prevê-se uma verdadeira maratona - não negocial, como é óbvio (tirando a estafada hospitalidade lusa, Sócrates terá pouco, muito pouco a oferecer a Chávez, em troca do seu ouro negro), mas desportiva, ao melhor estilo LeCoqSportif socrático - pelas avenidas de Caracas.
Esperam-se os habituais avistamentos com a comunidade portuguesa e meia dúzia de queixas da "revolução Chávez". Entre croquetes, cavaquinhos e vinho do Porto (made in Venezuela), a insegurança e a ameaça das nacionalizações vão estar, com certeza, em cima das mesas que os nossos compatriotas prepararam para Sócrates. A carência de professores de português no país, também (pois, segundo o secretário de Estado da Cooperação João Cravinho, num extraordinário exercício de politiquês, em declarações à LUSA, " Portugal vive numa conjuntura de enormes oportunidades no que toca ao ensino da língua portuguesa e à promoção da língua portuguesa no estrangeiro, (mas) conjugada com a exiguidade de recursos"), mas os nossos irmãos das terras de Vera Cruz já se encarregaram de suprir as faltas, e já têm 5 leitores na Universidade da Venezuela. É que, para Lula da Silva, que, com o seu camarada Chávez, já assinou um protocolo para a promoção do ensino do português na Venezuela, o português não é só a língua que os actores de novela falam, é investimento estratégico. Enquanto para Sócrates, é preciso é cair nas boas graças do novo Simon Bolívar, nem que para isso tenha de fazer um curso intensivo de espanhol técnico - ou, num futuro que já foi mais longínquo, de brasileiro econômico.

segunda-feira, 12 de maio de 2008

Bem prega o cardeal Martins

Segundo o cardeal Saraiva Martins, o nosso homem nas altas esferas do Vaticano, vivemos numa "sociedade opulenta", "onde morrem milhões de irmãos à fome".
Ao ler tais declarações no DN de hoje, não pode deixar de me lembrar daquele dito popular, "bem prega frei Tomás, faz o que ele diz, não faças o que ele faz".
É inegável o papel social da Igreja. Quer se goste, quer não, toda a cultura europeia se radica no paradigma judaico-cristão. É inútil e intelectualmente desonesto repudiar tal realidade. Basta ir em excursão a Lourdes, em expedição a Santiago de Compostela ou em peregrinação a Fátima para, pê-lo menos, suspeitá-lo.
O problema é quando lemos que o Papa calça sapatos de € 300, quando testemunhamos as dezenas de quilates em ouro que, diariamente, são deixados em Fátima pelos peregrinos e ouvimos que o Patriarcado explora parques de estacionamentos em Lisboa e tem consultores fiscais e económicos como Lobo Xavier e Jardim Gonçalves.
Mas enfim, não sejamos demagógicos; conforme diz D. Saraiva Martins: " A Igreja faz o que pode e não pode ir mais além".

sábado, 10 de maio de 2008

Afinal (d) o Apito Final

E aí temos o último acto da opereta "Apito Final". Em jeito de crítica cultural diria que, para uma tão grande produção operática, o público merecia mais. O elenco era de primeira categoria - tenores e barítonos de nomeada, coro organizado -, mas foi sempre o maestro que sobressaiu. Foi uma opereta à portuguesa, muita promoção, grande elenco, libreto prometedor, mas, no fim, o protagonista foi o maestro - e o espectáculo foi um quase fiasco.

quarta-feira, 7 de maio de 2008

A Angola de Geldof

Bob Geldof, ex-músico inglês e actual organizador de mega-produções humanitárias, veio a Lisboa, a convite do Expresso, para dizer, numa conferência sobre "Desenvolvimento Sustentável", que Angola é um país "gerido por criminosos". Como era de prever, a embaixada angolana em Lisboa veio de imediato repudiar a afirmação de Geldof. E, a meu ver, com toda a razão.
De facto, a afirmação do cantor assenta numa série de equívocos e mistificações que é necessário dissipar. Pois vejamos:
1) Angola não é um país: é um talhão de África (politicamente) mal frequentado;
2) não é gerido, pois gerir significa administrar, governar, e, em Angola, governar é um verbo intransitivo conjugado na primeira pessoa por uma cáfila de singulares;
3) muito menos é gerido por criminosos, pois...ok, pronto, neste aspecto o homem têm razão.

Correcção: Alípio já caiu

Depois de ter escrito que Alípio Ribeiro lá se aguentara à frente da PJ, eis a queda. Juro que nada a tive a ver com a saída do Director da PJ. O mesmo não se poderá dizer do próprio, que parece tudo ter feito para cair.
Como habitual, há sempre quem venha dizer que se devem tirar ilacções do consulado de Alípio Ribeiro. Mas parece-me que são antes confirmações que se devem retirar. A confirmação de que um director da PJ deve guardar para consumo interno as ideias e opiniões que tem para e sobre a PJ. A confirmação de que a avaliação de condutas e procedimentos internos não se devem fazer frente às câmeras. A confirmação de que a PJ é, de facto, uma instituição corporativamente organizada - em que o sindicado é o interluctor mediático privilegiado. Mas, acima de tudo, a confirmação de que um ministro da Justiça que segura um director como Alípio Ribeiro não merece ser segurado.

quinta-feira, 1 de maio de 2008

Polícia por objectivos

Leio que caíram para metade as detenções efectuadas pela PJ. Se é resultado das alterações ao código de processo penal ou fruto do desânimo vivido pelos profissionais daquele órgão de polícia de criminal não se sabe e, ao que parece, também não se investiga. Alípio Ribeiro (é verdade, lá se aguentou) e o ministro Costa até quiseram pôr a PJ e o MP a trabalhar por objectivos, mas, quer uns, quer outros não se viam a prender e a acusar por atacado, e o plano parece que abortou. Aguardemos pelos próximos capítulos. Talvez a coisa se resolva com um sistema de prémios e incentivos!