quinta-feira, 28 de maio de 2009

O juiz literário

Ao que parece, o juiz que decidiu devolver a menina russa à sua mãe biológica, retirando-a à família portuguesa de acolhimento, está arrependido. Arrependido não pela manifesta iniquidade da sentença que produziu, e que possibilitou a entrega de uma criança anteriormente considerada em perigo a uma mãe incapaz, mas porque, se fosse hoje, se tivesse hoje que decidir entre manter uma criança com uma família de acolhimento e entregá-la a uma mãe emocional e economicamente destituída de condições para a manter, não teria cometido "alguns excessos de linguagem" na redacção da sentença, como sejam utilizar expressões como "mãe serôdia".
Em consciência, ninguém questionará a imperativa vinculação do juiz à lei; por muito que doa a muitas famílias de acolhimento, o seu papel é, necessariamente, transitório, pelo que, não será sustentável, à luz das normas em vigor, presumir-se que tal estatuto poderá, com o tempo, converter-se em privilégio de adopção. No entanto, longe vão os tempos (ou assim desejamos) em que se exigia ao juiz que se limitasse a aplicar a lei, passiva e cegamente. Num Estado de Direito democrático, antes se pretende que este seja um intérprete sabedor da lei aplicável ao caso concreto, a quem se exige que atendenda a todos os factos e circunstâncias juridicamente atendíveis para a justa decisão da causa.
Ao que parece porém, o juiz deste caso, um esteta da linguagem, anda equivocado. A sua vocação não é o Direito, mas talvez a literatura.

sexta-feira, 22 de maio de 2009

A pia Catalina

Se fosse ministra, Catalina Pestana acabava com a Casa Pia. É a própria ex-directora e provedora da instituição quem o afirma, em entrevista ao Correio da Manhã.
Segundo esta ex-responsável da instituição, "Os abusos continuam numa instituição com 200 anos, com uma história de abusos que tem 200 anos".
Das duas, uma: ou Catalina Pestana andou de pestana fechada durante ao anos em que foi directora dum colégio da Casa Pia - que, a atender ao tremendismo das suas palavras talvez devesse designar-se Casa dos Horrores -, ou então anda à procura de alguma coisa de que porventura se convenceu ter perdido.
Seja como fôr, não deixa de ser espantoso o alheamento (voluntário ou involuntário, negligente ou doloso) que parece caracterizar muitas das personagens que de uma forma ou outra tiveram cargos de responsabilidade naquela instituição bicentenária. É que se é hoje um facto vergonhosamente indesmentível que a Casa Pia foi uma casa de xius, não é menos vergonhoso e indesmentível que foi também uma casa de pios.

quinta-feira, 21 de maio de 2009

A (falta de) resposta de Espinho

Maria de Lurdes Rodrigues acha que "não houve resposta pronta" para o caso "execepcional", de "grande desiquilibrio" da stôra de Espinho.
Temos de admitir que tem razão.
Com efeito, a conhecermos como conhecemos, dum passado recente, a capacidade de resposta de boa parte dos nossos adolescentes ao desempenho dos professores na sala de aula (e fora dela), é de facto espantoso como é que aquela "professora" (com aspas duplas, ou triplas) não mereceu uma reacção mais participativa por parte daquela tão extraordinariamente passiva turma. É que, afinal, não é todos os dias - presumo eu - que os nossos jovens ouvem uma professora sua dissertar sobre "linguados" ou cuequinhas molhadas pela manhã; principalmente quando era suposto que, em matéria de educação sexual, as competências da "professora" em questão só lhe permitissem discorrer sobre os trágicos amores de El-Rei D. Pedro e Dona Inês de Castro.

segunda-feira, 11 de maio de 2009

Os bairros deste país

Há tempos, confrontado com outro episódio da vida num bairro social, o ministro Rui Pereira viu-se obrigado a garantir que não existem bairros neste país onde a polícia não entre. Face aos acontecimentos destes últimos dias (e noites) no Bairro da Boa Vista, em Setúbal, ou muito me engano ou não tardará a vermos e ouvirmos o mesmo ministro a garantir que também não existem bairros neste país onde os bombeiros não queiram entrar...

Ainda os cartazes

O marketing político luso anda manifestamente fraco de imaginação. A líder do PSD anda espalhada pela cidade ora emoldurada a negro ora a convidar os desvalidos e amargurados deste país a ligarem para uma espécie de linha de apoio psicológico. O PS, certamente convencido pelo hobbie fotográfico do seu cabeça de lista às europeias, oferece-nos um mega-postal de Vital Moreira (esse mesmo, o avô cantigas) assinado e tudo. E o CDS/PP pespaga-nos o infante Nuno Melo, em pose desafiante, quase tauromáquica, a afiançar-nos que não andam a brincar aos políticos. Valha-nos o BE que, sabendo que a política nacional é essencialmente uma brincadeira, lá vai gozando o pratinho, e, à cautela, antes de exibir a careca de Miguel Portas e o sorriso eclesiástico de Louçã, teve, pelo menos, a piada de nos lembrar o abraço de Barroso e Sócrates no dia do porreiro, pá!

domingo, 10 de maio de 2009

Viva o Fêcêpê

E viva o Fêcêpê!
O empenho sempre propicia a glória. Palavra de sportinguista.
Por mim, só lamento este resultado por Paulo Bento - que demonstrou a sua capacidade de liderança -, e por alguns (poucos) jogadores, que entre bailarinos e manequins intermitentes, lá foram honrando a camisola, conseguindo um justo 2º lugar.

terça-feira, 5 de maio de 2009

Política de berçário

Depois da baixa política e da sua correlativa política de sarjeta temos agora a política de berçário.
Confrontado com a política do corpo morto do PCP e do BE, no que respeita a uma coligação de esquerda, e acossado pela política do deixa-o tropeçar de Santana Lopes, António Costa já percebeu que os votos tem de ser ganhos em todos os terrenos, inclusivé na maternidade. Assim, não resistiu a colar-se à iniciativa da associação de comerciantes da Baixa (terá sido mesmo deles?) de oferecer ao primeiro bébe do 1º de Maio deste ano um cheque de €2500 em compras, e, enquanto o seu camarada Vital Moreira era "acarinhado" pelos manifestantes no Martim Moniz, ele exibia o seu sorriso na Maternidade Alfredo da Costa, depois de ter invadido o quarto de uma pós-parturiente visivelmente debilitada. It´s politics stupid!

Ferreira Leite: the lady on black

É confrangedora a absoluta falta de vocação política de Manuela Ferreira Leite. Como se não chegassem já as sucessivas gaffes com que vai premiando o país político, a líder do PSD aceitou agora figurar num dos mais inacreditáveis outdoors de propaganda política até hoje produzidos pelos "vendedores de presidentes da república" nacionais. Com um sorriso relutante, quase amarelo, a (pseudo) líder da oposição é apresentada ao centro de um enorme, inenarrável rectângulo negro bordejado a laranja. A negatividade da imagética transmitida é tal que nem fixei a frase que certamente ilustra o cartaz. Pior que isto, só colocarem a Drª Ferreira Leite, noutro cartaz, a promover uma qualquer linha telefónica de apoio aos descontentes deste país...o que já fizeram!

sábado, 2 de maio de 2009

Sorriso Vital

Oficialmente, a campanha eleitoral para o parlamento europeu ainda não começou, mas há pelo menos um candidato que já desejará que ela tivesse acabado. Refiro-me obviamente a Vital Moreira.
Depois da sua participação desastrosa no Prós-e-Contras de Fátima Campos Ferreira, em que me fez lembrar um aluno insolente de quadro-de-honra, ontem deixou-se levar pelo PS à manif do 1º de Maio e quase lhe deram umas palmadas.
Não fosse o permanente sorrisinho acintoso de Vital e talvez o episódio me tivesse indignado mais do que de facto indignou. É que pode-se dizer que não houve insulto nem empurrão que roubasse o sorrisinho auto-convencido nem amachocasse a melena do candidato.