segunda-feira, 30 de junho de 2008

O bastão de Marinho

Aí está mais uma vez o dr. Marinho e Pinto. Ainda as mais diversas associações femininas (ou feministas - juristas inclusivé) afiavam a língua (e as unhas, aposto) contra as declarações politicamente incorrectas do bastonário sobre a natureza pública do crime de violência doméstica, instando até as suas congéneres a não recorrerem aos serviços do causídico, já Marinho e Pinto se divertia a dar mais umas bastonadas nos juízes, no oportuníssimo momento mediático em que estes magistrados apareciam nos écrans a queixar-se de apanharem dos arguidos.
Mas como quem vai à guerra, dá e leva, não tardou para que o dr. Marinho apanhasse também; só que apanhou de si mesmo, como se, à força de tanto arrear, às tantas fosse o seu próprio bastão a atingi-lo em cheio na ética. É que, conforme confirmado pelo próprio, o dr. Marinho, tal como defendera durante a campanha para bastonário (verdade seja escrita), propõs ao Conselho da Ordem, que aprovou, que o bastonário passasse a ser remunerado e a ter direito a subsídio de reintegração.
Só por si, a notícia nada trás de novidade: o actual bastonário sempre defendeu a profissionalização do cargo que exerce. Curioso é que, sob a manchete que o noticía os seus autores não tenham logrado esconder os sorrisos escarninhos de alcoviteiras com que aparecem no caso. E lamentável é que, Marinho e Pinto, que não entrou na Ordem vindo duma SGPS da advocacia, querendo certamente eximir-se a um maior escrutínio da sua proposta - certamente utilíssima às oposições internas -, não tenha, ainda assim, consultado os conselhos distritais, dando assim o peito (a ética) a mais esse combate pela dignificação da advocacia, para acabar por emprestar ao(s) cavaleiro(s) da advocacia societária a cernelha - e passar por juiz em causa própria.

Da fruta (nem cheiro)

Afinal, não vai haver fruta para ninguém. Lamentavelmente, o juiz de instrução criminal do TIC do Porto não parece privilegiar a fruta na sua dieta alimentar, pelo que não vai submeter Pinto da Costa a julgamento no "Processo da Fruta" em que, de acordo com o MP (ou com a interpretação que Maria José Morgado fez das escutas telefónicas efectuadas ao presidente do FCP, no processo "Apito Dourado"), o Papa do Futebol nacional é escutado a tratar da dieta do árbitro Jacinto Paixão com o empresário António Araújo, na véspera duma partida FCP-Estrela da Amadora que o árbitro haveria de conduzir.
Segundo o JIC, o confronto do teor da conversa havida entre Pinto da Costa e Araújo com o depoimento de Carolina Salgado não lhe permitiu concluir que os escutados haviam acordado a contratação de prostitutas para o árbitro Paixão, ou seja: a conversa sobre a fruta foi, processualmente falando, infrutífera.
Inconformado, o MP já revelou que vai recorrer da fruta.
De Pinto da Costa, por sua vez, é de presumir que, tão depressa, não irá comer ou sequer recomendar fruta a quem quer que seja, pois, depois da overdose de vitamina C que foi Carolina Salgado, fruta só se for fruta-pão.

sábado, 28 de junho de 2008

Jú(não)dice

Aparentemente, José Miguel Júdice fartou-se de ser o responsável fáctico pelo plano de revitalização da zona ribeirinha de Lisboa. Aparentemente porque este nada disse sobre as razões que o levaram a afastar-se da liderança do projecto - tirando um excerto lacónico da carta de demissão, entregue a Sócrates, por si declamado em directo ao seu curioso companheiro do programa Dia D, António Barreto.
Segundo o visado, as suas razões serão vertidas em livro, a apresentar em breve ao grande público.
Está na moda: agora quem tem ou julga ter algo a revelar ao país, já não convoca conferências de imprensa nem escreve artigos nos jornais - escreve livros. O meio e a forma sempre emprestam alguma dignidade ao conteúdo (ou à ausência dele) e garantem uns trocados extras aos (pseudo) autores. Veja-se Carolina Salgado ou, conforme já prometido, Valentim Loureiro.
Vamos então aguardar - e juntar uns trocos - para comprar o livro das revelações de Júdice - para compor a estante lá da sala.

segunda-feira, 23 de junho de 2008

A Ferreira Leite de ontem, de hoje e a de amanhã

Manuela Ferreita Leite já está em campanha para as legislativas. Depois de falar - e nada dizer (nem nas linhas, nem nas entrelinhas) - ao partido, a nova líder da oposição resolveu encerrar o congresso dos social-democratas com meia dúzia de ideias gerais para o país. Um sistema fiscal transparente, simples e previsível e um Sistema Nacional de Saúde que garanta uma assistência condigna a todos independentemente da sua capacidade económica são as propostas que Manuela Ferreira Leite se propõe apresentar ao país. Para além da promoção da cidadania, claro. Soa sempre bem.
Para ideias-força de campanha, nada a declarar. Para quem era acusada de não ter um programa político, de não concretizar, de não definir um alvo, Manuela Ferreira Leite lá veio fazer pontaria a dois - dois alvos estratégicos tão concretos e pesados como elefantes: impossíveis de falhar. O que ela não diz é com que armas e munições lhes vai acertar - e muito menos quem vai dar o corpinho aos paquidermes.
É pena é que a nossa Tatcher só agora tenha dado pela falta de lógica e transparência no nosso sistema (problema!) fiscal e pela necessidade de assegurar a manutenção de um SNS condigno. Pois não passou já Ferreira Leite pelas Finanças? E não foi ela quem vendeu parte da dívida da Seg. Social ao Citygroup ?
Há muita falta de memória na política...

Vale "Tudo" e Azevedo

O processo Vale e Azevedo é um bom exemplo de como a burla, a falsificação, a indignidade profissional e a degenerescência ética, quando praticadas com o luxo e a sofisticação só concedidas ao sucesso, ganham a aura de fita hollyhoodesca. Segundo o Correio da Manhã, o ex-presidente do Benfica e advogado de sucesso, condenado em 2006 a sete anos e meio de prisão pela prática de vários crimes de burla e falsificação de documentos, está a viver, não como um Corleone ou Escobar, mas como um verdadeiro lorde inglês, em Londes, no bairro mais caro da capital britânica. Apesar de contra si impender um mandado de detenção europeu, o advogado, actualmente inibido pela Ordem, pelo período de 10 anos, de exercer advocacia, vive luxuosamente a cem metros da nossa embaixada londrina e é vizinho de Abramovitch, fazendo-se inclusivamente transportar num Bentley conduzido por motorista.
Nas palavras do seu mandatário londrino, Vale e Azevedo não está (por enquanto, acrescento eu) fugido à justiça portuguesa, estando simplesmente a aguardar pelo resultado do cômputo de penas a que foi condenado. Ou seja: enquanto por cá lhe fazem a contabilidade dos anos de prisão a cumprir, Vale e Azevedo, por lá, vai gozando placidamente a vida, entretido a especular no sector dos cereais e do etanol.
À cautela, o PGR já veio dizer que o mundo é grande, pelo que poderá ser difícil ver cumprida a detenção do ex-advogado.
Aos lesados resta-lhes, por sua vez, crer que Deus é grande, como o mundo do PGR e a impunidade do ex-presidente do Benfica.

terça-feira, 17 de junho de 2008

Pombal ao serviço da CML

Manuel Salgado, o vereador do Urbanismo da Câmara de Lisboa, inaugura hoje a exposição "Lisboa 1758 - O Plano da Baixa Hoje". Com o evento, segundo se informa no site da CML, visa-se assinalar "a passagem dos 250 anos sobre o plano urbanístico elaborado na sequência do terramoto de 1755, ao mesmo tempo que se pretende dinamizar o debate público em torno do projecto actual de revitalização da Baixa".
Sabendo-se que o projecto actual de revitalização daquela zona nobre da cidade apresenta como vectores essenciais a instalação de dois museus - o do Banco de Portugal na Igreja de S. Julião e o do Design e Moda nas antigas instalações do BNU -, a construção de um elevador de acesso ao Castelo a partir da Rua dos Fanqueiros e a implatação de um jardim nos terraços do quartel do Carmo, não alcanço, sinceramente, onde entra aqui o plano (esse sim, um Plano) mandado elaborar por Pombal. A não ser que estejamos perante mais uma operação de marketing político e Manuel Salgado tenha sentido necessidade de colmatar o aparente adormecimento do processo de revitalização apelando ao fascínio que a figura de Pombal suscita no imaginário português.
É que, a continuarmos assim e a atender à evidente irrelevância do designado "plano de revitalização da Baixa", o vereador Salgado, para convencer os lisboetas da bondade pública do seu plano, vai ter de mandar exumar, não o plano pombalino, mas o próprio Pombal, e convencê-lo a participar num spot promocional de divulgação do futuro Museu da Moda!

DECO, uma aliada improvável

A DECO subscreve a proposta da ERSE de imputar aos consumidores da EDP os calotes pregados à empresa. Surpreendido(a)? Já somos dois.
Segundo aquela associação de defesa do consumidor, a proposta tem a virtualidade de clarificar o processo de imputação de riscos inerentes a actividades comerciais como a de fornecimento de energia eléctrica ou a concessão de crédito bancário. Ou seja: para a DECO, já que o esbulho e o abuso de confiança são práticas inevitáveis do mercado, pelo menos clarifiquemos as regras do esbulho! Roubem-me mas digam-me quanto, quando e como, eis as exigências de capitulação da nossa mais conhecida associção de defesa do consumidor.

segunda-feira, 16 de junho de 2008

O amúo da Nova Europa

Ao ver a mal contida irritação dos apóstolos do Tratado de Lisboa perante a irredutibilidade dos irlandeses, lembrei-me daqueles episódios da infância em que, um de nós, para surpresa do bando lá da rua, um dia decide teimosamente não alinhar na futebolada, confrontando assim os líderes naturais das equipas pré-constituídas com a relevância insuperável (e perturbadora) da unidade face ao todo.
Apanhados desprevenidos pela nega irlandesa ao tratado, os líderes europeus parecem ter amuado, refugiando-se num vexado silêncio. Obrigado a defender a honra do convénio, Durão Barroso, qual líder dos putos impedidos de jogar, cruzou os braços, fez cara feia e disse à Irlanda: "Se não jogas connosco, nós também não jogamos contigo".
E pronto, lá continuará a SGPS "Nova Europa", S.A. impedida de assumir a gestão do velho solar europeu, por força do voto contrário duma velha accionista relutante.
Nunca tive a pretensão de conhecer a solução perfeita para a querela "ratificação parlamentar vs referendária". Ambas as visões do problema sempre se me apresentaram como pertinentes e merecedoras de reflexão - pois se os riscos inerentes a uma ratificação parlamentar (pulverização do debate, aproveitamento do mecanismo para ajustes-de-contas político-partidários etc.) são reais - e, na Irlanda, parece que tiveram o seu papel -, a legitimidade da representação parlamentar é, inequivocamente, nos dias de hoje, suficientemente frágil (por força do incontornável divórcio dos cidadãos dos seus representantes políticos) para fazer qualquer líder político sério e responsável ponderar a adopção deste meio de ratificação dum tratado cujas regras, quer se queira quer não, não só elidem definitivamente do projecto europeu todas as prorrogativas de soberania nacional, como consagram indelevelmente a preeminência da Europa dos Grandes.
Assim, tendo prevalecido a europa dos interesses, era previsível que fossem os interesses a determinar o meio de ratificação aparentemente mais confortável e seguro.
A chatice é que a europa dos interesses esqueceu-se que existia a europa dos interessados. E a dos desempregados. E a dos subsidiados. E a dos explorados. E a dos decepcionados. E a dos simplesmente indignados.

domingo, 15 de junho de 2008

EDP/ERSE: Justiça erseana

Desde o caso Millenium/BCP que se suspeita que as nossas entidades reguladoras/fiscalizadoras pouco ou nada regulam ou fiscalizam. Mas como metade deste país ignora a sua existência e a outra metade não percebe a sua proficiência (alguém percebeu o pseudo-relatório da Autoridade da Concorrência sobre o preço dos combustíveis?), estas entidades lá vão tranquilamente existindo, para Europa ver.
Mas parece-me bem que, dentro em breve, tanto a metade do país que ignora a existência da ERSE (Entidade Reguladora dos Serviços Energéticos) como a metade que desconhece a sua valência, vão deixar de a ignorar e passar até a execrar a sua existência. É que, segundo o DN de hoje, a ERSE vai propõr que sejam os consumidores da EDP a suportar, já a partir de 2009, parte dos calotes pregados à empresa.
A notícia, já confirmada pela reguladora, não só comprova que esta entidade nada regula como demonstra que quem a dirige também não conjuga o verbo regular, pois foi esta mesma entidade que, em tempos, defendia, porventura ainda imbuída da novidade do seu papel sócio-económico, que deveria ser a EDP a suportar exclusivamente os riscos inerentes à sua actividade comercial.
Presentemente porém, com o mercado energético liberalizado, talvez tomada por um assomo proteccionista, a ERSE entende, num exercício de justiça salomónica, ser equilibrado obrigar os consumidores da EDP a pagarem parte das dívidas que a eléctrica (cada vez mais inter) nacional não foi capaz de cobrar. Afinal, segundo a ERSE, será só pouco mais de € 1 por factura anual, que é isso para o consumidor bem pagante? Rezemos é para que esta ideia de dividir o mal pelas aldeias não pegue, pois senão ainda vamos ter o Fisco a partilhar calotes fiscais com o contribuinte cumpridor ou a GALP a fazer reflectir no preço dos combustíveis os revezes do mercado...

Suiça-Portugal: terráqueos vs marcianos

Num jogo em que Scolari aproveitou para dar rodagem a uns e poupar outros, a selecção helvética apostou tudo na sua auto-estima e vai deixar o Euro de cabeça levantada.
Foi uma vitória justa.
Se tivessem pedido a um marciano para descrever o que vira durante 90 minutos de jogo, certamente que este diria que viu 11 terráqueos de branco a disputar uma bola com 11 extraterrestres que pareciam nunca se terem cruzado neste planeta. Isto tudo (des) orientado por um estranho terráqueo de negro que passou o tempo a interromper o jogo.
Esperemos que até ao jogo com os alemães, joguem só terráqueos, pois parece que os extraterrestres não vão ter tempo de se conhecerem até lá. Ah, e já agora, que alguém explique ao próximo terráqueo de negro que, segundo as regras deste planeta, só podem jogar os 22 terráqueos que entram em campo...

100

E vão 100. A brincar, a brincar já por aqui pespeguei 100 larachas; 100 postas de pescada; 100 desabafos; 100 exercícios de desopilação; 100 pretensos assomos de opinião. 100. Não por extenso mas em numeral, para que, à falta de qualidade, valha ao menos a quantidade. É que foram 100 tantas vezes 100 jeito, 100 préstimo nem proveito que, 100 vergonha, digo: venham mais 100!

sábado, 14 de junho de 2008

Fazer pela vida na Selecção

Apesar da euforia futebolística, que, como de costume, tudo parece mobilizar e alienar, ainda há quem vá fazendo pela vida. A começar pelos próprios fiéis depositários da nossa (vossa!) esperança colectiva. Depois de Scolari, que, após a notícia da sua saída para o Chelsea, parece ter entrado em blackout, foi Deco que, com a autorização excepcional do Sargentão, lá teve de se ausentar do quartel, para ir tratar de assuntos pessoais.
Ignoro se os assuntos pessoais do luso-brasileiro serão de índole profissional (pois fala-se que irá com Scolari) ou conjugal (parece que o rapaz tem dois amores e não sabe de qual gosta mais); mas não tenho dúvidas que se me chamasse Ronaldo e tivesse uma Nereida à solta em Espanha, também já tinha metido uma cunha ao Scolari para ir tratar de "assuntos nereidais".

quinta-feira, 12 de junho de 2008

Combate desigual na A.R.

Ferreira Leite escolheu Mota Amaral para representar o PSD na interpelação quinzenal ao Governo.
Mais do que uma opção de recurso, Mota Amaral é, inegavelmente, uma opção desesperada. Será um combate desigual: um senador aposentado que defronta um primeiro-ministro acossado. A não perder, numa arena perto de si.

Chegar futebol ao combustível

Segundo o PortugalDiário, na região do grande Porto não faltou combustível, como em Lisboa.
Parece que já estou a ouvir Luis Filipe Vieira: Pudera!, enquanto Pinto da Costa por lá andar, combustível, fruta, chocolate são tudo coisas que por lá não hão-de faltar.
Se o ouvisse, Pinto da Costa também não ficaria calado: Então aí em baixo, não há combustíbel? Ó Bieira, não quero que lhe falte nada: ora chegue cá o bujão...

Camionistas: 1 Governo: 1

A paralização dos camionistas terminou. Ao fim de três dias de negociações, bloqueios vários e algumas tragédias humanas, o Governo lá arranjou umas quantas medidas para minorar os impactos financeiros da alta dos combustíveis no sector. E os micro, mini e médios empresários da camionagem lá vão ter uma associação representativa.
Em suma: depois de terem o país cativo do seu buzinado desespero, os camionistas (ou a meia-dúzia dos seus mais preparada) lá concluíram que, no fundo, no fundo tinham era um problema de falta de representatividade.
O Governo, por seu lado, lá conseguiu esquivar-se a uma situação de pré-estado de sítio; respirou fundo, já exibe a vitória para Europa ver (leia-se as declarações do ministro da Economia) e ganhou o direito a figurar na fila da frente do retrato político da semana. Na fila de trás, nas pontas dos pés, ainda se percebe o sorriso amarelo do PSD e do CDS; mas do PCP e do BE, nem um cabelo.
E claro, Sócrates lá conseguiu coser por mais uns tempos o ministro Lino ao Governo. Mário Lino terá é que, doravante, mandar colocar mais umas cadeiras na sala de reuniões do ministério, para a nova associação dos camionistas.

Welcome Mr. Scolari

Eis mais uma transferência milionária no futebol: Scolari vai chefiar o balneário do Chelsea.
Para muitos, terá sido um surpresa, principalmente estando o Euro em curso. Para outros, nada mais que uma inevitabilidade. Para outros ainda, uma oportunidade de ouro para ascenderem ao trono da selecção.
Para mim, foram as três: foi uma surpresa pela altura sensível em que sai (Scolari tinha obrigação de exigir reserva ao Chelsea, até ao final do Euro - mas certamente não quis começar logo com "sargentices" com Abramovitch); foi uma inevitabilidade porque, por mais que Scolari tenha cantado os encantos de Portugal, ainda não há encantos que o dinheiro não compre; e é também, a meu ver, uma oportunidade para ter outro perfil à frente da Selecção Nacional, por exemplo, Carlos Queiroz ou, quem sabe, Rui Caçador.
Pois se Scolari é inegávelmente um bom gestor de egos e talentos, sempre achei que a Selecção Nacional precisa mais do que de um Seleccionador-Paizão; precisa de alguém que conjugue a competência técnica (de que Scolari não era um exemplo brilhante), a capacidade de liderança e de mobilização de vontades (reconhecida no ainda seleccionador), mas também que possua um projecto de futuro para a Selecção Nacional (o que nunca passou pela cabeça do Felipão, que sempre foi um líder comodamente a prazo).

quarta-feira, 11 de junho de 2008

O negócio do casino

Parece que o Governo mandou estudar como poderá ainda impedir a não reversibilidade do edifício onde está instalado o Casino Lisboa. Confrontado com a notícia, Mário Assis Ferreira, o homem à frente do casino, já veio tranquilizar o Governo: no que depender de si, o imóvel pode regressar ao património estadual...desde que lhe paguem 50% do investimento feito no local - 40 milhões de euros. E para demonstrar a sua boa-vontade, Assis Ferreira disponibiliza-se até para dar crédito ao Governo para o efeito.
Desconhecem-se efectivamente as intenções do Governo; mas, a ser verdade que o Executivo de Sócrates está interessado no imóvel que Durão, Arnaut, Santana, Telmo e companhia limitada entregaram ao grupo Estoril Sol, não se me afigura necessário recorrer à generosidade de Assis Ferreira. Basta chamar os visados à responsabilidade pelos seus actos e/ou omissões. És um lírico! dirão voçês. Talvez; mas lirismo por lirismo, não me digam que não gostariam de ver Santana a dar um concerto de piano no pavilhão Atlântico para arranjar dinheiro para pagar a sua quota parte da indemnização por responsabilidade político-financeira no negócio? Ou ver Durão a leiloar as condecorações ganhas enquanto Presidente da Comissão Europeia na Sotheby´s?

terça-feira, 10 de junho de 2008

O Apito Vital

Alguém me disse um dia que a perecerística jurídica era como a Alta Costura: uma actividade de luxo só ao alcance das maiores bolsas. Não fosse saber-se que a dimensão e, principalmente, o peso da bolsa ainda são condições sine qua non para se aceder a tão prestigiada actividade e dir-se-ia, ao ler alguns extratos do parecer do constitucionalista Vital Moreira, hoje publicados no DN, sobre o caso "Apito Final", que a nossa parecerística está a lançar-se no prête a porter.
Segundo o DN, a Comissão de Disciplina da Liga (CD) estará em posse de um parecer de Vital Moreira em que este eminente constitucionalista defende que o aproveitamento pela CD das transcrições das escutas telefónicas feitas a Pinto da Costa, em processo-crime, não viola a Constituição da República.
Curioso de conhecer os argumentos com que aquele professor de Coimbra sustentava a sua divergência não só da jurisprudência conhecida como dos seus pares penalistas Costa Andrade, Germano Marques da Silva e Damião da Cunha, pus-me a ler os extratos do parecer publicados. E banzei-me. No douto parecer de Vital Moreira, a CRP, no seu art. 34º nº 4 só consente, de facto, a execução de escutas telefónicas no âmbito de um processo penal, contudo esta norma não proibe nem absoluta nem expressamente a sua utilização fora do âmbito processual penal. Perceberam? Eu traduzo: para o constitucionalista a CRP proíbe as escutas fora do processo penal, mas não proíbe absolutamente, nem explicitamente a sua utilização fora desse âmbito. Ou seja: proíbe mas relativamente.
Mas o reputado constitucionalista diz mais. Certamente consciente da insustentabilidade juridico-constitucional da sua argumentação, Vital Moreita acrescenta que, se assim não se entender, ou seja, se se proibir absolutamente a utilização de escutas fora do âmbito processual penal, corre-se o risco de promover a impunidade geral!
Seria porventura fácil (ou talvez não) explorar aqui a contraditoriedade desta posição com o passado político do constitucionalista (que militou no PCP) e com os valores que (des) caracterizam a área política onde se situa hoje (PS). Mas não vamos por aí, pelas traseiras. Vamos pela porta da frente. E vamos pela porta aberta da anotação ao art. 34º da CRP que o próprio Vital Moreira faz no 1º volume da sua (e de Gomes Canotilho) CRP anotada. Não vamos obviamente (já passa da meia-noite e não trabalho na área da parecerística) transcrever a longa mas elucidativa anotação, mas vamos sugerir ao professor Vital que a releia, pois parece que, depois do parecer, talvez a deva rever. Ou talvez não, quem sabe. Talvez ainda venha a ter a oportunidade de produzir outro parecer em que se lhe ofereça a possibilidade de se retratar ou, juridicamente falando, de rever a sua posição. Por exemplo: uma empresa que decide fundamentar uma acusação disciplinar contra um seu trabalhador (que pretende despedir), utilizando uma certidão de transcrição de escuta a este efectuada num processo-crime de que teve conhecimento.
Aguardemos então, por novo parecer do professor. Pode ser que o fatinho que fez para um cliente já não sirva para o próximo.

segunda-feira, 9 de junho de 2008

O oportunismo do buzinão

Como todos nós, automobilistas ou não, os profissionais da camionagem tem a sua quota de razão nos protestos contra os aumentos dos combustíveis. Mas como sempre acontece quando se confunde a força da razão com a razão da força, a indignação daqueles profissionais do volante está a assumir proporções intoleráveis e a perder a legitimidade que lhe assistia. Bloqueio de estradas, marchas lentas, buzinões a desoras junto a zonas residenciais (como já vi e ouvi) não são de todo formas justas e eficazes de manifestar descontentamento. Impedir o regresso a casa de seus concidadãos (mesmo quando solidários com o protesto) e buzinar à meia-noite em Alcântara são práticas que se encontram num qualquer manual do terrorismo urbano e não no catálogo dos direitos civis. Além disso, pouco ou nenhum efeito tem na vontade governativa - que normalmente circula nos corredores de marcha prioritária e mora em insonorizados condomínios fechados.
E, por outro lado, entendamo-nos: protestar contra o aumento dos combustíveis até se compreende (mesmo que não se compreenda como querem os camionistas que um Governo sempre no quadro de honra da turma europeia domine os preços do petróleo); criticar o custo das portagens e exigir a baixa da taxa do IVA idem; o que já não é aceitável é que se aproveite o período de contestação internacional para reivindicar privilégios que nada tem que ver com o aumento dos combustíveis. Pois quem não quer, por exemplo, que a formação profissional beneficie de taxa de IVA reduzida, como exige o Núcleo dos Camionistas do Minho? Haja pois bom-senso e vergonha na cara.

quarta-feira, 4 de junho de 2008

Os pés de Manuel Alegre

O comício (há anos que não ouvia esta designação assim tão conotadamente associada a um evento político) que juntou ontem no Teatro da Trindade algumas facções da nossa Esquerda parece que foi um sucesso. Cerca de 700 pessoas - 500 no interior do teatro e 200 no exterior - assistiram e participaram naquele que foi o primeiro evento político do género em Portugal. A gratuitidade e a componente musical do encontro terão porventura contribuído para o seu sucesso, mas é inequívoco que, mais do que um encontro de reflexão política e de comemoração (atrasada) de Abril - conforme alguns dos seus promotores afirmaram -, o comício nada mais foi do que uma acção de arregimentação/capitalização política, em volta da recandidatura de Manuel Alegre à presidência da República.
Até se compreende que Alegre não queira assumir-se tão prematuramente. E também já era previsível que o Bloco de Esquerda viesse explorar a causa "fracturante" que o último dos idealistas do PS representa - afinal, era e é uma boa oportunidade dos bloquistas multiplicarem apoios e importância política sem danos políticos de maior. O que, de facto, custa a digerir é que Manuel Alegre, enquanto respeitado guardião do ideário de Abril, persista em permanecer num partido com o qual demonstra pouco ou nada já ter ideologicamente a ver - a não ser que esteja convencido que o seu estatuto de poeta da república o tenha excepcionado da maledicência popular e o abrigue de acusações, certamente injustas, de manter um pé na situação e outro na oposição.

O negócio da Selecção

A nossa Selecção de futebol é a única, neste Europeu, que está a cobrar entrada para que se possa assistir aos treinos.
Já sabiamos que o futebol há muito que deixou de ser uma actividade desportiva para se assumir como negócio desportivo - e os nossos patriotas da Selecção (cada vez menos) Nacional ainda há dias nos brindaram com uma bela demonstração de mercenarismo desportivo, ao exigir o pagamento de uma diária de € 600 por cabeça, fora prémios de produtividade. Mas o povo é sereno e a Selecção ainda vai sendo o último resquício do orgulho nacional, honra seja feita ao gaúcho Scolari.
Por mim, os louros do desportivismo e da Nação tem outras cabeças para agraciar e vão para aqueles e aquelas que, com esforço pessoal e paixão desportiva, honram o desporto que praticam e as cores nacionais: Venessa Fernandes, Emanuel Silva etc.

segunda-feira, 2 de junho de 2008

Sá Fernandes descobre o capitalismo

Segundo se tem noticiado, a Praça das Flores tem estado submetida a uma mega-operação publicitária da construtora automóvel SKODA. Confrontado com as queixas e preocupações de moradores e lojistas - aqueles criticando o aparato e o ruído, estes temendo os prejuízos que o condicionamento da circulação no local poderá acarretar -, Sá Fernandes, actual Vereador do Pelouro do Ambiente e Espaços Verdes da CML, vem manifestar surpresa pela incompreesão daqueles munícipes e declarar a sua absoluta satisfação com o evento. Afinal, segundo este, a iniciativa só trás benefícios: a construtora não só ficará responsável pelo encargo de finalizar a intervenção de reabilitação do jardim daquela praça, como deverá pagar ao munícipio, em taxas diversas, cerca de € 50.000. Em suma: Sá Fernandes, o nosso velho conhecido cavaleiro da moralidade urbanística e figura (independente) de cartaz do Bloco de Esquerda, recém convertido às belas artes do pragmatismo político, acaba de descobrir as virtualidades do capitalismo.
A assim ser, se o evento (privado) não condicionar a fruição pública daquele espaço - como afirma Sá Fernandes - e até garantir a sua recuperação sem que isso comporte qualquer encargo para uma das autarquias mais deficitárias do país, a transacção, admita-mo-lo, até que constituirá uma mais valia para a cidade. Todavia, não deixa de ser curioso testemunhar, mais uma vez, o poder de conversão do Poder e a facilidade com que o quotidiano político esbate e elide tibíos idealismos e vácuas proclamações.

domingo, 1 de junho de 2008

Líder mas pouco

Manuela Ferreira Leite já é líder do PSD, tendo obtido pouco mais de 30% dos votos dos militantes laranjas - o que, quer se queira ou não, lhe garante a legitimidade (e a representatividade) de quase todas as direcções da associação de estudantes da minha antiga universidade.
Pese embora esse facto, único e incontornável, tanto quanto me lembro, no PSD, Sócrates que se cuide. Acabou de ganhar uma oponente leal mas implacável. Que não conte com bravatas nem com acaloradas sessões parlamentares (Santana vai dedicar-se ao piano); mas que estude bem os números, pois vai ser como se tivesse voltado à escola primária: Manuela Ferreira Leite vai lá estar sempre (espera-se), fria e autoritária, pronta a chamá-lo ao quadro e a puxar-lhe as orelhas.
A ver vamos, o que a "Dama de Ferro" fará com os pouco mais de 30% dos votos dos seus correlegionários. De Menezes fez-se sumo, com ela será que se fará o milagre da multiplicação das laranjas? Ou será que vamos ter uma continuação minguada do milagre das rosas?