O comício (há anos que não ouvia esta designação assim tão conotadamente associada a um evento político) que juntou ontem no Teatro da Trindade algumas facções da nossa Esquerda parece que foi um sucesso. Cerca de 700 pessoas - 500 no interior do teatro e 200 no exterior - assistiram e participaram naquele que foi o primeiro evento político do género em Portugal. A gratuitidade e a componente musical do encontro terão porventura contribuído para o seu sucesso, mas é inequívoco que, mais do que um encontro de reflexão política e de comemoração (atrasada) de Abril - conforme alguns dos seus promotores afirmaram -, o comício nada mais foi do que uma acção de arregimentação/capitalização política, em volta da recandidatura de Manuel Alegre à presidência da República.
Até se compreende que Alegre não queira assumir-se tão prematuramente. E também já era previsível que o Bloco de Esquerda viesse explorar a causa "fracturante" que o último dos idealistas do PS representa - afinal, era e é uma boa oportunidade dos bloquistas multiplicarem apoios e importância política sem danos políticos de maior. O que, de facto, custa a digerir é que Manuel Alegre, enquanto respeitado guardião do ideário de Abril, persista em permanecer num partido com o qual demonstra pouco ou nada já ter ideologicamente a ver - a não ser que esteja convencido que o seu estatuto de poeta da república o tenha excepcionado da maledicência popular e o abrigue de acusações, certamente injustas, de manter um pé na situação e outro na oposição.
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