Se depois da tempestade vem a bonança, depois dum tiroteio num bairro social vem sempre a demagogia.
O PSD, à cautela, lá veio dizer que a gravidade do acontecimento não podia ser usada como arma de arremeço político - afinal, quando já se foi dez anos Governo têm-se telhados de vidro (também) nesta matéria -; mas não deixou de verberar a política do Governo Sócrates no que respeita ao combate às armas ilegais. O CDS, como de costume, pela corneta do seu líder, diz que "o Estado não pode trair a polícia" e vai chamar o ministro Rui Pereira ao Parlamento. Não me parece é que, desta feita, o profano Paulo Portas possa contar com os bons-ofícios do irmão Abel Pinheiro - o mesmo se podendo dizer do irmão Rui Pereira.
Para o PCP, o tiroteio foi só mais uma manifestação da grave crise social e económica que afecta o país, pelo que não se lhes afigura necessário ouvir Rui Pereira. Aliás, basta ver com atenção as imagens dos distúrbios da passada sexta-feira no Bairro da Fonte, para nos apercebermos imediatamente que os rufias que se alvejavam mutuamente em pleno bairro eram operários em jornada de luta pelo encerramento da fábrica em que laboravam há décadas.
Louçã, o líder dos bloquistas, aparentemente parece ter seguido a recomendação de Sócrates, e, sobre o acontecimento, teve mesmo tento na língua, pois pouco mais disse do que era inaceitável ter medo para atravessar a rua, como acontece em Loures. O que nos deixa na dúvida se estamos perante uma crítica implícita à política criminal do Governo ou uma crítica explícita à política de segurança rodoviária em curso.
Mas elucidativo foi ouvir alguns porta-vozes dos sindicatos da polícia a perorarem sobre as virtualidades do policiamento de proximidade. Pura comédia. E depois ver e ouvir o "aviso sério" de Rui Pereira aos perpretadores, em directo para as televisões: "tudo faremos para os identificar e para que sejam responsabilizados. Não pactuamos com actos de violência." Ouviram?! Read my (big) lips: we hill catch you, punk. Dead or alive.
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