segunda-feira, 28 de julho de 2008

Loucos também deputam

Portugal está à frente da Inglaterra, em matéria de práticas não-discriminatórias. Segundo a revista de sábado passado do DN, o Governo britânico vai revogar um conjunto de leis do tempo da rainha Isabel I (XVI-XVII) que interditavam "lunáticos" e "idiotas" de se candidatarem ao Parlamento. De acordo com a notícia, o Governo de Gordon Brown entende que impedir a candidatura de idiotas (leia-se, segundo o The Sunday Times, "incapazes de raciocínio") e lunáticos (leia-se alguém que até tem "períodos de lucidez") constitui uma injustificável (e anacrónica, presumo) prática discriminatória. Mesmo num país - o da Bill of Rights - em que, enquanto os pequenos se divertem a esfaquiar-se uns aos outros, os graúdos vão brincando aos reis e às rainhas, e se pode estar preso, preventivamente, 42 dias.
Por cá, ao menos, aceitamos toda a gente no Parlamento. No Parlamento, no Governo e em qualquer orgão de soberania. Afinal, educados como somos no melhor espírito democrático, lá vamos crendo que até os "incapazes de raciocínio" que nos vão representando têm "períodos de lucidez". Períodos esses que, ainda que raros, têm produzido das mais brilhantes peças legislativas que o mundo democrático (e o outro) até hoje viu. Por exemplo, a nova lei do registo predial; ou a do divórcio; ou até as (rectificadissímas) alterações ao código de processo penal...

Sem comentários: