A zona ribeirinha de Lisboa vai passar a estar sob gestão da Câmara. Vai?...Sim, vai. Ou pelo menos é essa a intenção na origem do protocolo assinado entre a autarquia e o Governo. Mas não foi sempre a câmara a mandar na zona ribeirinha da cidade? Não. Até ao passado dia 28, era a APL que punha e dispunha (e muito!) em toda zona. Então a câmara não tinha uma palavra a dizer sobre a Torre de Belém, o Padrão dos Descobrimentos, a Ribeira das Naus... - Nem sobre o Terreiro do Paço, o Cais do Sodré, a Doca de Santo Amaro etc. Mas quem são esses gajos da APL?
A pergunta talvez só tenha surgido agora na cabeça de muitos portugueses. E com ela veio a surpresa, a perplexidade. Mas é verdade. Até agora, era essa desconhecida sociedade portuária, a APL, quem administrava toda a zona ribeirinha de Lisboa. Até aqui, organizar um qualquer evento na Torre de Belém, só com a autorização da APL. Instalar um quiosque na Ribeira das Naus, só pagando à APL. Atracar um porta-aviões norte-americano em Santa Apolónia, só com o conhecimento prévio da APL. O que quer que se fizesse ou quisesse fazer à beira Tejo, só podia ser feito com a licença dessa entidade abstrata que ao longo dos anos se foi anonimamente preservando (e conservando) atrás da sigla APL. Lisboa, autarquicamente falando, ao contrário do que pensávamos, não começava e acabava no Tejo, mas um pouco mais atrás, para cá das vedações, das torres de contentores e dos Jerónimos. Daí para a frente, mandava a APL. Enfim, tinhamos de ser originais nalguma coisa, e assim, éramos talvez a única cidade ribeirinha no mundo cuja autoridade administrativa municipal não tinha qualquer jurisdição sobre a sua zona fluvial.
Mas no dia 28 parece ter sido, nas palavras de Sócrates, o momento da ruptura. Semi-ruptura, para sermos mais rigorosos (o rigor matemático nunca foi, de facto, o forte do nosso projectista primeiro-ministro), pois parece que ainda haverá zonas de gestão conjunta ou partilhada com a autarquia. Fazemos votos para que não seja também mais uma ruptura nas contas da CML. É que, segundo se noticía, a situação financeira da APL é tão sã como as águas do Tejo.
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