terça-feira, 5 de fevereiro de 2008

Churchill e Aragom

Segundo o jornal britânico Telegraph, para aproximadamente metade dos jovens ingleses com menos de 20 anos, Robin Hood foi uma figura histórica e Churchill uma personagem de ficção.
As extrapolações estatísticas são, por definição, falhas de rigor, mas estou convencido que semelhante inquérito, em Portugal, não obteria resultados menos risíveis: bastaria trocar Churchill por Spínola e Robin Hood por José Castelo-Branco.
A iliteracia e o desconhecimento histórico das gerações SMS é um fenónemo global há muito reconhecido e debatido: lembro-me do inquérito feito, há uns anos, às crianças novaiorquinas, em que estas respondiam que os ovos vinham do supermercado e o leite era feito de água e pó, e ainda tenho dificuldade em conter o riso quando me lembro da sondagem feita à porta da Faculdade de Letras de Lisboa, num programa da Teresa Guilherme, em que ninguém sabia quem fora Ramalho Eanes e se confundia Maria de Lurdes Pintasilgo com a padeira de Aljubarrota. Mas este não é, de todo, um fenónemo geracional recente. Basta colocar Bush frente a um mapa do médio-oriente, perguntar a Cavaco quantos cantos tem os Lusíadas ou pelos violinos de Chopin a Santana Lopes para o constatarmos. Tenho para mim que o fenómeno se deverá a uma espécie de miopia regressiva congénita que vem afectando a nossa memória colectiva. As nossas figuras da actualidade são-nos de tal forma próximas e, simultaneamente, destituídas de conteúdo que tendemos - veja-se, por exemplo, o bolivarianismo do fenómeno Chavez ou o discurso do "Eixo do Mal" de Bush - a procurar as nossas referências num passado idealizado onde a história passada se mistura fascinantemente com a história ficcionada.
Não se poderá prever - sob pena de cairmos no equívoco igualmente comum da futurologia histórica - quais as repercussões socio-políticas futuras deste fenómeno; mas suspeito que não haverá, neste mundo, nenhum Aragom à altura das ameaças do malvado Ahmadinejad, e, por mais que me recuse a aceitar, (ainda) não conheci nenhuma graciosa Arwen que me não fale da Floribella ou da Família SuperStar.

Sem comentários: