quarta-feira, 30 de julho de 2008

Onde começa a massagem e...

O comandante da Zona Marítima do Sul, Reis Ágoas, tem sido notícia, nos últimos dias, pela preocupação por si manifestada de viva voz à TSF sobre a perniciosa (o adjectivo é da minha inteira responsabilidade) proliferação duma nova actividade balnear - a massagem de praia. Segundo o aquele oficial da Armada, "toda a gente sabe como começa uma massagem, mas ninguém sabe como acaba", pelo que a autoridade marítima que comanda vai estar atenta, para que essas actividades não se tornem "práticas irresponsáveis".
Lidas distraidamente as declarações do visado - por exemplo, na praia, com o jornal a camuflar as manobras de reconhecimento visual do areal onde nos encontramos - e diriamos que o homem é um bota-de-elástico, um moralista de galões e pingalim tão conservador tão conservador que até o apelido (Ágoas) faz questão de manter na grafia antiga.
Mas não, o comandante Ágoas não é um espiríto empoeirado. É, isso sim, um funcionário zeloso da saúde pública. E nada tem contra os profissionais (ou amadores) da massagem de praia (ou das outras, presumo). A sua preocupação, reconhecidamente "suplementar", com a actividade tem exclusivamente que ver com os produtos utilizados nas massagens e a credenciação de quem as pratica! Ou seja: para o comandante Ágoas, o problema de ninguém saber como acaba uma massagem de praia radica não na massagem propriamente dita, mas na qualificação técnica de quem a efectua e na qualidade dos produtos nela (ou nele) usados. Entendidos? Logo vi que não.
Desconhece-se as experiências massagísticas já vividas (ou sofridas!) pelo visado. Assim como se ignora as aptidões manuais da(s) (ou dos...) massagistas frequentada(s), e muito menos a natureza dos produtos utilizados. Mas pelo menos uma, de duas, nos permitimos extrair (metaforicamente falando) das declarações do comandante Ágoas: ou a experiência massagística alguma vez tida pelo visado foi de tal forma traumática que lhe causou uma "alergia" crónica à actividade, ou foi tão relaxante que o comandante, como muitas vezes acontece (segundo dizem), adormeceu na marquesa (ou no areal!), nunca tendo sabido como a massagem acabou...

terça-feira, 29 de julho de 2008

Lula contudo e com todos

O presidente da República Federativa do Brasil, Lula da Silva, esteve em Portugal, na passada semana, para participar na cerimónia de entrega do Prémio Camões de 2007, a António Lobo Antunes. De seguida, aproveitou para oferecer a Sócrates a oportunidade de anunciar a instalação de duas fábricas de componentes aeronaúticos da brasileira EMBRAER no Alentejo.
Mas desengane-se quem pense que Lula veio só para dar. No sábado, ficou-se a saber que, conforme revelou Lobo Antunes, o prémio Camões "roda", pelo que o galardão de 2008 vai para o brasileiro Ubaldo Ribeiro.
Mais: para convencer a EMBRAER a vir produzir para o "deserto", o Governo Sócrates garantiu um pacote de incentivos fiscais no valor de 30% do investimento do gigante empresarial brasileiro.
´Çê é um ingrato, cara!, acusar-me-ão os nossos irmãos do outro lado do Atlântico (e muitos dos de cá também). Mas longe de mim tal intenção!
Nada vejo de criticável na participação do presidente Lula na cerimónia do Prémio Camões 2007. Tirando as vacuidades discursivas do nosso presidente Cavaco (elogiar "a originalidade e a invenção" da escrita de Lobo Antunes é tão exacto (e redondo) como perorar sobre as múltiplas tonalidades de azul celeste), do que vi na televisão, pareceu-me uma cerimónia bastante digna e amistosa. E nada tenho a opôr, antes pelo contrário, à captação de investimento brasileiro ou de qualquer outro país, para o Alentejo. Agora, não estafemos mais o discurso do país irmão, dos laços históricos, das afinidades genealógicas. Lula está a fazer, e bem, o que se exige de um governante competente, que disponha das potencialidades do Brasil. It´s realpolitik, stupid! - com açúcar.

segunda-feira, 28 de julho de 2008

Loucos também deputam

Portugal está à frente da Inglaterra, em matéria de práticas não-discriminatórias. Segundo a revista de sábado passado do DN, o Governo britânico vai revogar um conjunto de leis do tempo da rainha Isabel I (XVI-XVII) que interditavam "lunáticos" e "idiotas" de se candidatarem ao Parlamento. De acordo com a notícia, o Governo de Gordon Brown entende que impedir a candidatura de idiotas (leia-se, segundo o The Sunday Times, "incapazes de raciocínio") e lunáticos (leia-se alguém que até tem "períodos de lucidez") constitui uma injustificável (e anacrónica, presumo) prática discriminatória. Mesmo num país - o da Bill of Rights - em que, enquanto os pequenos se divertem a esfaquiar-se uns aos outros, os graúdos vão brincando aos reis e às rainhas, e se pode estar preso, preventivamente, 42 dias.
Por cá, ao menos, aceitamos toda a gente no Parlamento. No Parlamento, no Governo e em qualquer orgão de soberania. Afinal, educados como somos no melhor espírito democrático, lá vamos crendo que até os "incapazes de raciocínio" que nos vão representando têm "períodos de lucidez". Períodos esses que, ainda que raros, têm produzido das mais brilhantes peças legislativas que o mundo democrático (e o outro) até hoje viu. Por exemplo, a nova lei do registo predial; ou a do divórcio; ou até as (rectificadissímas) alterações ao código de processo penal...

quarta-feira, 23 de julho de 2008

O sonho de Ramos-Horta

Ramos-Horta, Presidente da República de Timor-Lorosae, revelou hoje em Braga, à saída de uma conferência proferida na Universidade do Minho, que também gostava de ser enfermeiro reformado português.
A revelação, inusitada quando proferida por um co-agraciado com um prémio Nobel da Paz, deve-se no entanto, tão-somente, conforme resulta das declarações do PR timorense, ao generoso valor das pensões auferidas por aqueles profissionais da saúde em Portugal, que segundo Ramos-Horta ascenderá a € 2000 mensais - o que, nas palavras do político, permitirá a pelo menos um enfermeiro reformado luso-timorense, viver melhor, em Timor, que um PR timorense.
Não caucionasse a internacionalmente conhecida dedicação de Ramos-Horta à causa timorense a sua generosidade e abnegação e dir-se-ia, depois de ouvir as suas declarações, que, por trás do seu declarado contentamento com a bizarra possibilidade de todos os timorenses nascidos até 2002 poderem, por imprevisão legal nacional, adquirir a nacionalidade portuguesa, haveria ali aquela pontinha de cinismo típica do estadista de país sub-desenvolvido.
Mas, tirando isso, a confirmar-se essa possibilidade, e não tardará vermos Sócrates, qual Luís Filipe Vieira a promoter para o Benfica 300 mil sócios, a anunciar, num 10 de Junho, perante uma plateia de algumas centenas de timorenses bocejantes, que, com a atribuição da nacionalidade portuguesa a estas centenas de timorenses, Portugal acabara de concretizar mais um dos objectivos do Governo: ultrapassar, numa legislatura, o limiar dos dez milhões de habitantes!

domingo, 20 de julho de 2008

Uribe que se cuide

É impressão minha ou estamos a ver nascer um novo ícone mundial ?
Até há seis anos atrás, e não obstante a sua candidatura às presidenciais colombianas, Íngrid Betancourt era uma perfeita desconhecida no salão nobre da política mundial. Perfeita na medida em que o que lhe sobrava de ambição e popularidade no seu país, faltava-lhe em reconhecimento e testoterona - requisitos gerais de admissão no Clube Med da política internacional.
Mas a ambição também consegue escrever direito por linhas tortas; e que melhores linhas há para inscrever um nome na história do que as dos títulos dos jornais mundiais, do que as dos anúncios de abertura dos telejornais ou do que as dos blogues pessoais? Principalmente quando se serviu e serve as necessidades de protagonismo dum líder político europeu em plena crise de imagem interna.
Respeito o sofrimento vivido por Íngrid Betancourt nos seus seis anos de cativeiro às mãos dos narco-guerrilheiros das FARC. Assim como respeito o sofrimento dos ainda sequestrados pela guerrilha, como é justo lembrar. O que já não posso respeitar é o evidente aproveitamento político que uma vítima tem feito e deixado fazer da sua certamente dolorosa experiência na selva colombiana, em chocante desrespeito pelos que consigo sofreram e foram libertados e, acima de tudo, pelos que ficaram.
Depois da recepção de Estado de Sarkosy, da Legião de Honra francesa e do provável nobel da Paz, é caso para dizer: Uribe que se cuide.

2 x Sócrates = 1

O secretário-geral do PS, José Sócrates, encerrou esta tarde o Congresso Nacional da Juventude Socialista (JS) elogiando o Governo, de José Sócrates, pela sua "visão progressista e não conservadora", tendo ainda aproveitado para assumir as despesas do Executivo, de José Sócrates, num ataque velado à posição da líder do PSD sobre o casamento entre homossexuais.
Pródigo nos elogios, o secretário-geral do PS (vamos, por facilidade de raciocínio, designar o líder partidário por Sócrates 1) enalteceu "a tolerância, a diversidade e a liberdade individual" que levaram o Governo (de Sócrates 2, claro) a lutar, entre outras coisas, pela lei da interrupção voluntária da gravidez e pela nova lei do casamento civil.
Conclusão: o secretário-geral do PS (Sócrates 1), abrindo caminho ao Governo (de Sócrates 2), já está a preparar as hostes socialistas para a consagração do casamento entre pessoas do mesmo sexo. Se o Governo (de Sócrates 2) vai aproveitar a deixa do secretário-geral do PS (Sócrates 1) e avançar com a proposta de lei ainda esta legislatura, duvido; mas na próxima, dispondo (oportunamente) de minoria parlamentar, não vai certamente deixar de o fazer, obrigando assim Ferreira Leite a expor-se nua e crua no seu conservadorismo.
Nota da redacção, para quem anda a banhos (todo o ano) ou fartou-se de banhadas políticas: os visados - Sócrates1 e 2 - são uma e a mesma pessoa, pelo que qualquer associação desta (sur)realidade com a tão difundida propensão do país para a bipolaridade será da inteira responsabilidade do seu autor.

sábado, 19 de julho de 2008

Roma não paga a traidores?

Se o crime (vamos crer) não compensa, a conivência na sua prática, afinal, também parece que não. Que o diga o secretário-geral da UGT, João Proença. Para quem não sabe, João Proença é o homem que, em nome de dezenas de sindicatos afectos à UGT e porque " Como a CGTP nunca assina nada, a UGT terá de assinar" (conforme disse em entrevista à SÁBADO), concertou com o Governo as alterações ao Código do Trabalho. Mas além de líder sindical, Proença é também membro da Comissão Política do PS. E um candidato assumido a um qualquer tachito que - espera ele - um Sócrates generoso e reconhecedor lhe ofereça, pelos utilíssimos serviços prestados ao Governo.
Mas, conforme disse um dia Guterres, evocando o procônsul romano Cipião, "Roma não paga a traidores". Assim, parece que o Governo terá passado a perna a Proença, apresentando no Parlamento uma versão das alterações ao CT diversa da apresentada e aprovada pelo líder da UGT, em sede de concertação social.
Veremos se Proença, à semelhança dos três cicários de Viriato, não acabará executado e exposto - mas certamente bem posto - na praça pública.

sexta-feira, 18 de julho de 2008

Às armas (perdidas)

Segundo o PortugalDiário, a PSP, no rescaldo dos acontecimento no Bairro da Fonte, ainda anda à procura de armas ilegais. Nessa senda, esta manhã, a PSP de Loures revistou as viaturas das famílias (no sentido lacto) ciganas acampadas em frente à Câmara Municipal daquele município. Segundo fonte policial, foram apreendidas 3 caçadeiras e 1 espingarda em situação ilegal. Mas - acrescento eu - nem uma das duas pistolas-metralhadoras recentemente desaparecidas da esquadra da Bela-Vista, em Setúbal.
Vamos acreditar, como sugere o porta-voz de um dos sindicatos da PSP, que tal desaparecimento se deveu, tão singelamente, a um erro de contagem, devido, como não podia deixar de ser, à falência do equipamento informático usado para o efeito.
Depois do refrão do sistema no futebol e do discurso da tanga na política, aí temos, mais uma vez, a cassete da falta de meios nas forças de segurança.

E tudo o Apito suprou

Cabazada de condenações no processo "Apito Dourado". Valentim Loureiro, 3 anos e 2 meses de prisão. José Luís Oliveira (vice da C.M. Gondomar), 3 anos de prisão. Pinto de Sousa (Conselho de Arbitragem da FPF), 2 anos e 3 meses. Tavares da Costa (vice do Conselho de Arbitragem), 1 ano e 3 meses. Nunes da Silva (vogal), pena de multa. Licínio Santos (árbitro), 5 meses de prisão covertida em multa e 3 anos impedido de exercer funções desportivas. Pedro Sanhudo (árbitro), 9 meses de prisão substituída por multa e 3 anos impedido de exercer funções desportivas. A lista continua, mas entretanto reparei que, afinal, as penas de prisão aplicadas foram suspensas na sua execução...e achei que não valia a pena cansar o teclado.

quarta-feira, 16 de julho de 2008

É mentira, é mentira

Nunca a mentira foi tão pública neste país. Só esta semana, que ainda vai a meio, já vão duas as aldrabices expostas a público pela comunicação social. Primeiro foi a patranha da taxa "Robin dos Bosques", a aplicar às companhias petrolíferas, que afinal parece que mais não é do que um adiantamento - já confirmado pelo presidente da GALP - ao Governo, do imposto já existente, por conta dos lucros percebidos (o verbo, em desuso, assenta aqui como uma luva, se pensarmos na dificuldade que se viu em apurar com certeza da licitude dos métodos de cálculo utilizados pelas petrolíferas no negócio). E agora, é a procuradora directora do DIAP/Porto que, depois das desconsiderações do PGR, quer deixar o cargo, alegando razões de saúde - quando se sabe que, para além das desinteligências com o PGR, as razões de saúde serão, quando muito, de saúde financeira ou profissional, pois dizem os jornais que a procuradora deseja ser colocada na Relação, onde ganhará mais e terá, seguramente, menos chatices.
A este ritmo de aldrabice, amanhã não me surpreenderei se o Governo vier prometer um aumento extraordinário aos portugueses, por conta dos reembolsos do IRS, e o PGR, na próxima segunda-feira, vier anunciar que a solução para o "processo Maddie" será... o arquivamento do inquérito por falta de provas.

Impressões policiais

Concretizando disposições regulamentares já existentes - e num esforço evidente de distinguir os seus (d) efectivos dos sujeitos da função policial -, a Direcção Nacional da PSP decidiu restringir o uso de tatuagens, piercings e adornos afins (de natureza capilar inclusivé) pelos seus agentes, e recomendar que estes evitem fumar e mascar pastilha quando contactam com os cidadãos.
A avaliar pelo destaque noticioso dado ao despacho directivo em questão, é de prever que, nos próximos dias, vamos ter os vários sindicatos da PSP a queixar-se de violação de direitos e liberdades constitucionalmente garantidas, pressurosamente assistidos pelos personagens da esquerda de salão do costume. Mas convenhamos: quem nunca leu na musculatura tatuada (e anabolizada) de muitos agente da PSP cenas nocturnas da vida de um porteiro de discoteca? Não me refiro às declarações de amor filial (Amor de mãe) e de orgulho bélico (COMANDOS 1971) típicas dos braços e dos antebraços de uma geração de veteranos da Guerra das Colónias; mas às serpentes e dragões flamejantes e aos símbolos motards mais associáveis aos membros das máfias japonesas e às guangues de motoqueiros norte-americanas do que à actividade policial. E, já agora, quem nunca partilhou o balcão de um qualquer café ou cervajaria com um semi-desfraldado (melhor, semi-desfardado) orgão de polícia criminal, que, tal como nós, bebia a sua imperial e fumava o seu cigarro, enquanto o rádio do carro-patrulha, estacionado em segunda fila lá fora, chamava?

domingo, 13 de julho de 2008

As bocas e os lábios de Rui Pereira

Se depois da tempestade vem a bonança, depois dum tiroteio num bairro social vem sempre a demagogia.
O PSD, à cautela, lá veio dizer que a gravidade do acontecimento não podia ser usada como arma de arremeço político - afinal, quando já se foi dez anos Governo têm-se telhados de vidro (também) nesta matéria -; mas não deixou de verberar a política do Governo Sócrates no que respeita ao combate às armas ilegais. O CDS, como de costume, pela corneta do seu líder, diz que "o Estado não pode trair a polícia" e vai chamar o ministro Rui Pereira ao Parlamento. Não me parece é que, desta feita, o profano Paulo Portas possa contar com os bons-ofícios do irmão Abel Pinheiro - o mesmo se podendo dizer do irmão Rui Pereira.
Para o PCP, o tiroteio foi só mais uma manifestação da grave crise social e económica que afecta o país, pelo que não se lhes afigura necessário ouvir Rui Pereira. Aliás, basta ver com atenção as imagens dos distúrbios da passada sexta-feira no Bairro da Fonte, para nos apercebermos imediatamente que os rufias que se alvejavam mutuamente em pleno bairro eram operários em jornada de luta pelo encerramento da fábrica em que laboravam há décadas.
Louçã, o líder dos bloquistas, aparentemente parece ter seguido a recomendação de Sócrates, e, sobre o acontecimento, teve mesmo tento na língua, pois pouco mais disse do que era inaceitável ter medo para atravessar a rua, como acontece em Loures. O que nos deixa na dúvida se estamos perante uma crítica implícita à política criminal do Governo ou uma crítica explícita à política de segurança rodoviária em curso.
Mas elucidativo foi ouvir alguns porta-vozes dos sindicatos da polícia a perorarem sobre as virtualidades do policiamento de proximidade. Pura comédia. E depois ver e ouvir o "aviso sério" de Rui Pereira aos perpretadores, em directo para as televisões: "tudo faremos para os identificar e para que sejam responsabilizados. Não pactuamos com actos de violência." Ouviram?! Read my (big) lips: we hill catch you, punk. Dead or alive.

sexta-feira, 11 de julho de 2008

Os que nos dão a luz

Esta manhã, durante 14 minutos, o sul do país esteve sem electricidade. Tivesse o "apagão" ocorrido à noite e, a avaliar pelos diagnósticos ontem efectuados no debate do Estado da Nação, muitos dos alentejanos e algarvios (os de berço e os de adopção) teriam certamente pensado que era desta que alguém resolvera fechar a porta do país - sem que se esquecesse de apagar a luz.
Segundo o comunicado da REN, a quebra deveu-se a "ensaios realizados na sub-estação de Sines", no âmbito "do reforço da Rede Nacional de Transporte do Algarve", em construção - que, ainda segundo a REN, será uma "auto-estrada de energia que duplicará a capacidade energética e criará maior segurança e fiabilidade no abastecimento".
Para quem privou, durante 14 minutos, alguns milhões de portugueses de ver os programas da manhã do Manuel Luís Goucha e da Fátima Lopes e garantiu a milhares de trabalhadores uma pausa prolongada para café, só por ironia poderá falar em fiabilidade.
Mas o pessoal que nos dá a luz (salvo seja) é assim, uns pândegos: ora nos põem a pagar os calotes dos que querem electricidade ao preço da chuva, ora nos deixam às escuras - e à merçê da perícia do tipo do urinol imediatamente ao lado - num mictório de hipermercado!

G8 - Gourmet 8?

Um exemplo de hipocrisia política internacional.
Na cimeira do G8 que hoje começa, que apresenta como pratos fortes a alta do petróleo e a fome, o primeiro-ministro japonês (anfitrião do evento) resolveu exceder-se no empenho de hospitalidade aos representantes dos oito mais industrializados do Mundo, e resolveu esquecer a fome por uma noite oferecendo aos convivas um jantar constituído por vinte e quatro (24) pratos tipícos japoneses.
Se a moda pega, talvez seja melhor converter o G8 na confraria dos 8. Com Berlusconi e - por enquanto - Bush no grupo, era farra garantida. E os probrezinhos, os famélicos desgraçadinhos africanos, enfim, são fatalidades da existência.

terça-feira, 8 de julho de 2008

A união de Pilar e Saramago

Pilar del Rio, esposa e musa do nosso nobelizado José Saramago, entende que a União Ibérica resolveria muitos problemas de Portugal.
A ideia não é nova (e até já foi tentada na era Felipina) - aliás o próprio Saramago, eternamente ressentido, já a havia alvitrado anteriormente, não resistindo a picar o orgulho nacional -; só não se percebe é que problemas nacionais essa integração resolveria - o défice público? Talvez: nossos hermanos até gozam de superavit. O desemprego? Certamente que Zapatero não se importaria de ver a reduzida taxa de desemprego espanhola aumentar em 7/8% A escolha do seleccionador nacional? Bom, se em casa de Figo se fala espanhol e até o Ronaldo já habla portunhol (ou nereidês?), que prurido nos causaria ter, por exemplo, Camacho na Selecção?
Mas ironias à parte: que por detrás da (falsa) proposta de reflexão de Saramago sobre o tema há um certo revanchismo latente, não me parece haver dúvidas - o escritor, talvez por hipertrofia do ego (como disse um dia Lobo Antunes), mais do que não perdoar a Cavaco a falta de solidariedade institucional, parece nunca ter perdoado ao país o silêncio iletrado perante a desconsideração de um secretário de Estado de que ninguém guarda memória. Já no que respeita à sua conchita, talvez valesse a pena perguntar-lhe se, por exemplo, também preconiza como proposta de resolução para os problemas de Timor, a sua integração na Indonésia, ou será que, sendo Timor Lorosae um símbolo do activismo politicamente correcto (e da má-consciência internacional), opinião similar não cairia bem nos palcos (ou fóruns como agora se usa dizer) internacionais frequentados pelo casal de Lanzarote? Fica a questão.

sexta-feira, 4 de julho de 2008

A amiga de Gonçalo Amaral

Elucidativa a entrevista de Gonçalo Amaral. Elucidativa não porque tenhamos ficado a saber o que falhou na investigação do caso Maddie, mas porque ficámos a saber que as (infelizes) declarações do inspector-coordenador da investigação da PJ - na origem do pontapé no rabo que diz ter levado de Alípio Ribeiro - foram prestadas a uma jornalista sua conhecida de Faro, "quase da família", pelo lado da mulher, conforme referido pelo próprio.
Perante tão cândidas palavras do recém reformado inspector da PJ, quase que nos perguntamos: com amigas jornalistas assim, quem precisa de inimigos jornalistas ingleses?

quinta-feira, 3 de julho de 2008

O garrote das taxas de juro

Como já se previa, a taxa de juro de referência na zona Euro sobe hoje para 4, 25%. Segundo o Banco Central Europeu, a medida visa garantir a estabilidade de preços na Zona Euro. Mesmo que seja à custa do sangue, do súor e das lágrimas - e, já agora, do andar hipotecado - do consumidor europeu.
Jean-Claude Trichet - que bem podia chamar-se Jean-Claude Constrichet -, aparentemente, conhece os riscos que a medida comporta para a recuperação económica da Europa mas, sempre ineffable et refinée, lá vai dizendo: madames et monsieurs, citoyens európeens, c´est lá vie.
Não sei se o presidente do Conselho Europeu em exercício comungará da bondade da medida, mas duvido. Sabendo-se que Sarkosy pretende imprimir um novo estilo na presidência da UE, resta saber como irá relacionar-se com o BCE e o seu inefável president.

A entrevista de Sócrates

"Entre o sono e o sonho/entre mim e o que em mim/É o que eu me suponho/Corre um rio sem fim."
O poema é de Pessoa e ocorreu-me ontem ao assistir a alguns momentos da entrevista de Sócrates à RTP.
Atendendo à dupla de estrelas - Judite de Sousa e José Alberto Carvalho - mobilizadas para a entrevista, ainda pensei que iria assistir uma verdadeira inquirição jornalística. Mas foi puro engano. Nem voltejando os temas quentes dos combustíveis e do mega-pacote de obras públicas os dois directores de informação da estação pública conseguiram embaraçar o nosso primeiro.
Depois de ouvir Sócrates fazer a apologia das convicções políticas, dei por mim a bocejar, à procura do telecomando algures entre as almofadas do sofá.
É caso para dizer que, entre o sonho de Sócrates e o sono dos entrevistadores, entre mim e o que em mim era o que suponho, aconteceu um semi-sono sem fim.

terça-feira, 1 de julho de 2008

O (último) combate de Jaime Silva

O Governo declarou guerra ao nemátodo. Para quem, como eu, desconhece a identidade e a natureza do beligerante, informa o Público que se trata de uma doença do pinheiro, só combatível pelo recurso a altas temperaturas.
Ora, sendo - como é - o ministro da Agricultura um gerador de altas temperaturas ambulante, não me parece haver motivo para alarmismos. Com Jaime Silva à frente do combate não tardará para que eliminemos o bicho de todo o território nacional.