terça-feira, 4 de março de 2008

A coroação presidencial russa

A Rússia deve ser - a seguir a Gondomar - o único sítio no mundo onde vale a pena votar. Sorteios de carros e electrodomésticos, concertos, sessões de karaoke, ofertas de bolos e bebidas quentes, entradas gratuitas em discotecas, transporte garantido até às urnas. As 86 autoridades regionais da Federação Russa não deixaram que faltasse nada aos mais de 100 milhões de eleitores que, este fim-de-semana, acorreram a votar para sufragar a coroação do príncipe herdeiro de Putin. Mesmo os workholics ou os simplesmenste preguiçosos não tiveram como escapar. Foram instaladas mesas de voto em fábricas e hospitais e mais de 450 mil polícias e militares estiveram nas ruas garantindo a ordem e uma expressiva participação cívica.
No fim, ninguém respirou de alívio - afinal, não havia razão para isso: não houve verdadeira concorrência democrática nem se tratou verdadeiramente de um sufrágio eleitoral, mas sim de uma coroação presidencial -; mas muitas costas folgaram, certamente, a avaliar pela determinação dos cassetetes na repressão dos contestatários habituais.
Ao ver o czar Putin e o príncipe Medvedev na noite da eleição, ambos vestidos de cabedal negro, sobre um palanque, não pode deixar de pensar que acabara de se fundar, não uma Rússia democraticamente sólida (o outro prato da balança mundial), mas uma espécie sofisticada de dinastia "Sauron".

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