Há muito que se conhecem as perversas potencialidades dos telemóveis (ainda que, em Portugal, parece que só agora começamos a apercebermo-nos que o objecto mágico pode (também) ser uma espécie de Gremlin sofisticado). Da dependência que o seu uso (e abuso) comprovadamente gera ao contributo polifónico que a sua maçica utilização trouxe para a chamada poluição sonora, passando pelos (ainda) discutidos efeitos nocivos das radiações na saúde do utilizador, sempre se soube que os télélés haviam de nos proporcionar tantas dores de cabeça como momentos de alegria e gratidão. Está é ainda por demonstrar a influência que a sua utilização exercerá (ou estará já a exercer) naquilo que é a condição humana e, acima de tudo, no quadro valorativo que a define.
Refiro-me aos factos chocantes, noticiados pelo Público, ocorridos numa escola básica dos 2º e 3º ciclos de Maceda, Ovar. Segundo uma mãe que, compreensivelmente, optou pelo anonimato, a sua filha, aluna do 5º ano da escola de Maceda, terá sido fotografada, nua, por uma colega, quando se encontrava nos balneários da escola. Arma do crime: telemóvel. O telemóvel foi prontamente apreendido por uma funcionária da escola, que se apercebera a tempo do ocorrido. Mas não foi caso único.
Segundo o diário, numa assembleia realizada no início do ano lectivo na mesma escola, já havia sido denunciado outro caso, com resultado mais gravoso, na medida em que as fotos terão sido postadas num blogue.
A gravidade dos casos é suficientemente gritante para dispensar grandes elocubrações. Falamos de jovens que, como principais utilizadores da máquina, começam a ser também os primeiros e, potencialmente, as maiores vitímas da massificação da utilização de um instrumento que, se foi primeiramente vocacionado para comunicação interpessoal, hoje, insuportavelmente transformado num mero objecto mercantil de diversão tecnológica, é também uma arma ao dispor de todo o género de irreverências e criminosas utilizações.
O que nos vale, no que respeita aos efeitos do "brinquedo" no espaço escolar, é a habitual capacidade de decisão do Ministério da Educação, que, certamente, irá abrir um parêntesis no discurso estafado da autonomia escolar e impor a proibição (como já acontece em alguns colégios privados) da utilização do telemóvel no interior da escola. Mesmo que tenha que enfrentar o falso sentimento de segurança que o brinquedo dá a alguns pais; mas, acima de tudo, para que não tenha que ser o senhor Procurador-geral da República a vir explicar como deve a Escola actuar nestas situações.
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