Até aqui, tenho feito uma apreciação muito positiva da actuação do nosso PGR. A meu ver, o conselheiro Pinto Monteiro (a quem conheço a afabilidade e o rigor, pois foi meu professor de Teoria Geral do Direito Civil na universidade) tem conseguido dosear com particular acerto as exigências de sobriedade e clareza que há muito se desejam no Procurador-Geral da República. Destaco como traço caracterizador de um estilo o esforço (provavelmente aprendido na actividade docente) de falar claro de quem dispensa, a outras instâncias superiores, o jargão e os ademanes da praxe institucional.
Mas ontem, talvez traído por essa mesma auto-exigência de clareza discursiva, o PGR exagerou.
Refiro-me, evidentemente, às suas declarações à comunicação social, à saída da audiência com o nosso PR, a propósito da violência nas escolas.
Não sei até que ponto a especial atenção dedicada por Pinto Monteiro ao problema (porque o é, só que não o é de agora) da violência e impunidade na Escola tem contribuído para a clima de esquizofrenia colectiva que vivemos desde o caso do telemóvel, da aluna e da professora; mas sei que, se educadores, pais e alunos agradecem a atenção do PGR ao que acontece de criminalizável no ambiente escolar, também são esses mesmos educadores, pais e alunos que dispensam ouvir o PGR afirmar que há jovens de 6 anos que vão armados de pistolas 6,35mm e 9mm para a escola - e, algumas vezes, a conselho dos próprios pais! É que, se há pais para tudo, não há mochilas que comportem tudo! Pois alguém acredita que, depois dos 2 estojos para desenho, dos 4 manuais, dos 2 livros de exercícios, do caderno de linhas e do quadriculado ainda cabe um canhão 9mm? E não vale contra-argumentar com a resistência dos tróleis: pois nos tróleis ainda vai o saco com o equipamento de judo, o saco para a natação, o termo com o almoço (que ninguém quer que os putos comam as porcarias que se vendem e servem nas cantinas) e uma camisola extra, porque nos dias que correm, ora chove ora faz sol, e os putos andam sempre a fungar da rinite.
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