quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Cuba, afinal, já não serve

Ao fim de 50 anos, Fidel Castro veio (finalmente) reconhecer que o sistema económico cubano já nem a Cuba serve.
A declaração, feita em entrevista a um jornalista norte-americano (da revista The Atlantic), presta-se a múltiplas interpretações - consoante o quadrante político em nos situemos: para os apreciadores de t-shirts de Che Guevara, El Comandante está a ser vítima de Alzheimer; para os que não dispensam Cuíbas, Montecristos e Habanos, é o mea culpa do velho revolucionário.
Parece-me, contudo, que o velho sabe mais do que isso. Sabe, por exemplo, que a "abertura" económica lentamente implementada pelo seu mano Raul não agrada aos velhos ex-barbudos da ortodoxia cubana, pelo que há que o escoltar en el camiño.

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

A rábula da actriz ubíqua

A actriz filha do meio do maestro Vitorino d´Almeida, Inês de Medeiros, certamente farta de fazer filmes só vistos em França, resolveu encarnar a má-consciência de José Sócrates em relação aos profissionais das artes e aceitou ser deputada pelo PS na actual legislatura, eleita pelo círculo de Lisboa. Soube-se entretanto que esta se declarou residente na freguesia de Santa Catarina simplesmente para efeitos eleitorais, pelo tem beneficiado do pagamento de viagens semanais, em executiva, a Paris, como se houvesse sido eleita pelo círculo da Europa - tudo porque é nos arredores da Cidade Luz que residem os seus filhos e é ali que tem domicílio fiscal.
Comovente não é? A oposição acha que não. A integridade e a ética republicana também. O presidente do conselho de administração da Assembleia, o sempre leal socialista José Lello, entende que sim. Mais: José Lello acha que negar à nouvel artista-deputada do PS essa benesse - só prevista para eleitos pelo círculo da Europa - é violar o princípio comunitário da livre circulação de pessoas e bens! Mas para que não o acusem de parcialidade, o bom do Lello já solicitou um parecer sobre o tratamento dado pelos parlamentos europeus a estas situações.
Pode ser que haja algum que tenha legitimado em letra de lei o oportunismo político.

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Moral da história

O designado caso "Face Oculta" - cujas faces envolvidas de ocultas já não têm nada - começou por ter como protagonista um sucateiro, actualmente já quase é preciso fornecerem-nos um elenco das personagens e um resumo do libreto, como na ópera. Depois do sucateiro, do vice-presidente banqueiro/ex-ministro e do primeiro-ministro, temos agora o amigo/administrador do primeiro-ministro, o seu assessor/filho do ex-secretário de Estado/presidente de empresa pública, o ex-futebolista/símbolo nacional, o secretário de Estado da Defesa/ex-vice-presidente de câmara, o ex-presidente da televisão pública e o autarca/ex-ministro do partido da oposição - entre outros personagens secundários, como o PGR e o presidente do Supremo Tribunal de Justiça.
Moral da história: ou os autores deste libreto tem imaginação suficiente para transformar isto numa espécie de Dallas da política nacional ou não haverá pachorra para estes artistas da tv/disco e da escuta pirata.

Tavares 0 - Sócrates 1

Esperava mais de Miguel Sousa Tavares. Este prometera fogo para a sua estreia no seu novo programa na SIC, mas pouco ou nada chamuscou José Sócrates, que, para surpresa de muitos, continua a demonstrar grande endurance quando entrevistado.
A todos os tiros do entrevistador - que sempre nos habituou a um jornalismo forte, contundente -, Sócrates contrapôs com convicção e elegância, o que me pareceu ter apanhado desprevenido o entrevistador - que porventura esperava ir ter à sua frente uma (ex)fera ferida.
Faltou, por exemplo, perguntar ao primeiro-ministro se achava que o secretário de Estado da Defesa, Marcos Perestrello, ainda tinha condições para permanecer no cargo; ou instá-lo a explicitar qual a diferença, politicamente falando, entre ter sabido formal ou informalmente do putativo negócio da PT com a TVI.
Além disso, custou ver o entrevistador perder o efeito da pergunta sobre o currículo do boy Rui Pedro Soares, perante a contra-argumentação de Sócrates, quando revelou, sublinhando o desconhecimento do entrevistador, que este, não só não fora proposto pelo Governo como já era director da PT antes de ser nomeado administrador.

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

O radar

É sempre difícil estabelecer com rigor onde começa a inevitabilidade e termina a previsibilidade. Principalmente perante tragédias de origem natural como as vividas este fim-de-semana na Madeira. Mas quando vemos e ouvimos um especialista madeirense denunciar em directo na televisão que a aquisição atempada de um radar para a ilha teria, provavelmente, permitido prever com algumas horas de antecedência a catástrofe e, desse modo, evitar algumas das mortes, perguntamo-nos com que cara se apresentam José Sócrates e Alberto João Jardim perante familiares enlutados...A José Sócrates, ser-lhe-á fácil afivelar a expressão sofrida permitida pelas cólicas políticas que vai sentindo actualmente; Jardim, é possível que se apresente de bombo e cartola carnavalesca, apelando ao povo madeirense para não dramatizar, não vá afugentar o turismo.

Quem foi, ponha o dedo no ar

O PGR Pinto Monteiro deu instruções à procuradora Maria José Morgado para abrir um inquérito a fim de se apurar quem facultou à comunicação social os seus despachos no caso das escutas a José Sócrates. Segundo o PGR, só cinco ou seis pessoas conheciam o teor dos despachos. Que é a mesma coisa que dizer: quem foi, ponha o dedo no ar.
Mas acreditemos na saúde do sistema: estando assim circunscrita a investigação, não ficarei surpreendido se, nos próximos dias, houver, não um jardineiro ou um mordomo, mas uma qualquer secretária da Procuradoria a quem foi instaurado um processo disciplinar. Ou - o mais mediático dos desfechos -, um procurador-geral adjunto que, abnegadamente, se demite, a bem da credibilidade do sistema.

sábado, 20 de fevereiro de 2010

Quem corrompe o poder?

Se o poder corrompe, quem corrompe o poder?
A questão ocorre-me por estes dias de intoxicação informativa. O poder não dispensa sujeito nem matéria, só predicados. Retórica barata, dirão. Talvez. Mas, comparada com esta...: "...Essa merda em subsídios de desemprego..."
Não sei se o estado do país suportará decisões precipitadas por imperativos éticos. Mas espero que o país deste Estado já haja estado mais disposto a tolerar estes filhos do carreirismo politíco-partidário, diplomados nas horas vagas em ideias gerais.