Cavaco Silva falou ontem à comunicação social (ou ao país?). Com a sua natural solenidade e gravidade, manifestou a sua indignação com algumas figuras destacadas do "partido do Governo" que lhe haviam perturbado as férias algarvias, desafiando-o insolentemente a prenunciar-se sobre as actividades extra-assessoria dalguns dos seus assessores.
Sobre escutas e o afastamento de Fernando Lima disse que tudo não passou de uma tentativa de o "colar" ao PSD, pelo que, à cautela, resolveu colocar o seu assessor de imprensa de sempre no backoffice.
Ah, e informou também que se havia inteirado junto de diversas entidades da inviolabilidade do seu computador pessoal, tendo sido informado que nenhum sistema informático é absolutamente seguro...
E foi tudo.
Bem espremido, pouco ou nada se retira do que disse o Presidente da República. Fica pois a dúvida. A dúvida sobre se o Presidente alguma vez suspeitou de facto que algum dos serviços de informações sob tutela do Governo andava a escutar a Presidência ou a penetrar no seu sistema informático. A dúvida sobre se o seu principal assessor contactou ou não o director do Público para através deste denunciar que o Governo andava a espiar o Presidente, e se o fez por sua livre iniciativa ou a mando do Presidente.
Mas com estas dúvidas dorme o povo bem. O que lhe poderá perturbar o sono - porque lhe poderá perturbar a vida - é o instalado clima de guerrilha entre os dois principais órgãos de soberania do país. Ontem assumido pelo Presidente da República e retorquido pelo porta-voz do Governo - cessante e futuro.
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